Home TVEpisódio Crítica | The Handmaid’s Tale – 5X01 e 2: Morning e Ballet

Crítica | The Handmaid’s Tale – 5X01 e 2: Morning e Ballet

Uma grande provocação.

por Luiz Santiago
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Desde que deixamos a 4ª Temporada de The Handmaid’s Tale para trás, eu me perguntava: qual vai ser a resposta de Serena para tudo isto que aconteceu com Fred? Porque estava muito claro que os showrunners da série queriam criar algum tipo de briga entre June e Serena, uma briga que certamente iria escorrer para o território de Gilead e fomentar a sua derrocada ou crise. Até então, não sabíamos por quanto tempo mais a série seria renovada, e agora de posse dessa informação (o 6º ano será o último do programa), podemos ver claramente algumas nuances aparecendo e podemos interpretar determinadas ações como o afunilamento de um caminho que se prepara para o fim. E o primeiro passo para lidar com isso foi mostrar o dia seguinte ao assassinato de Fred, em Morning, o primeiro episódio desta 5ª Temporada.

O ritmo e as escolhas do roteirista Bruce Miller, nessa estreia, me pareceram parcialmente soltas e foram tratadas de maneira muito lenta por Elisabeth Moss, que dirigiu os dois capítulos. A perturbação mental, o choque emocional, todo o ódio ainda à flor da pele ficaram por muito tempo em cena, e só depois entendemos que o real objetivo era mostrar o conhecimento de Serena para o que aconteceu e a preparação de sua vingança, de um meio para amedrontar, atingir ou fazer alguma coisa com June. É um episódio que demora a engrenar, mas que traz reflexões muito pesadas e muito importantes para esse momento da narrativa. Descobrimos que Emily retorna para Gilead e algumas das antigas Aias que ajudaram June a matar Fred exigem que ela também faça parte do massacre dos outros “monstros” dessa nação. A pequena briga que acontece ali não tem nenhum tipo de âncora dramática, não retorna para nenhuma base textual e parece meio solta no episódio. Imagino que mais adiante os roteiros vão voltar a discutir um possível retorno a Gilead com esse grupo, mas aqui, a coisa toda ficou reticente demais para o meu gosto.

Desde a temporada passada, June tem dificuldade de se organizar emocionalmente, um tema abordado de maneira direta aqui, inclusive com um ultimato de Luke. É evidente que o tempo de cura para os horrores sofridos em Gilead é o tempo de toda uma vida, mas o caso de June é realmente muito sério e merecia uma intervenção. Ela é combativa, tem um comportamento obsessivo em relação a Serena e às coisas ligadas a Gilead, o que a torna assustadora e insensível em muitos momentos. Ocorre que, por mais questionável que seja esse seu comportamento, ele acaba se mostrando como prenúncio de um perigo real, como descobrimos em Ballet e como obviamente será demonstrado em episódios posteriores. Da temporada passada até aqui, a série esteve em um aparato bastante seguro e livre de sofrimentos sistemáticos opressivos, algo que deve mudar. Encontraremos mais uma rodada desse sofrimento, e o verdadeiro ódio — sentimento-base que tomou conta de todos nós nas primeiras temporadas — já está mostrando a suas garras e dando a entender que muito mais sairá daí.

O ritmo mais lento do primeiro capítulo dá espaço para um ágil, angustiante e muitíssimo bem dirigido segundo episódio. Não senti nada de especial no trabalho de Moss, como diretora, em Morning, mas em Ballet ela compensou toda a espera. Sua assinatura é delicada, muito bem ancorada na construção de suspense visual. Lembremos, por exemplo, da cena do Comandante oferecendo chocolate para a nova Aia. É uma cena nojenta e tensa ao mesmo tempo. E a semente do que posteriormente iremos ver, com o envenenamento de Janine e Esther, outro momento angustiante e com boas nuances de horror gore. Contudo, o verdadeiro destaque desse episódio — ou melhor, dessa dupla inicial da temporada — está em seus últimos minutos. Serena exigiu um funeral com transmissão internacional e sua motivação ficou clara: ela queria mostrar Hannah para June, algo que só conseguiria fazer se lograsse convidar determinados Comandantes para o evento.

Este cenário, pelo que entendi, será o grande ponto da temporada. Eu não vi o trailer de divulgação (raramente vejo trailers), então não sei se é algo já planejado e indicado visualmente para o público, mas Gilead parece chamar June de volta. A montagem dos minutos finais do segundo episódio é primorosa, corta para cenas do cortejo fúnebre e para cenas de uma apresentação de balé, seguido da aparição de Hannah nas telas do mundo inteiro. O ótimo jogo de câmera também diz muito ali: Serena filmada em plogée (normalmente posição de poder e engrandecimento, de baixo para cima) enquanto June é filmada em contra-plongée (normalmente posição de submissão, pequenez, opressão, de cima para baixo) e esta posição atual das duas mulheres estabelece o chão que iremos palmilhar nos próximos oito episódios, num conflito que ainda tem muitas batalhas para atravessar. Todos estão preparados para passar raiva?

The Handmaid’s Tale – 5X01 e 2: Morning e Ballet (EUA, 14 de setembro de 2022)
Direção: Elisabeth Moss (ambos os episódios)
Roteiro: Bruce Miller (Morning) e Nina Fiore, John Herrera (Ballet)
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Max Minghella, Samira Wiley, Clea DuVall, Carey Cox, Natasha Mumba, Victoria Sawal, Amanda Zhou, Bernadette Couture, Afton Rentz, Nadine Whiteman Roden, Jasmin Husain, Sharon Heldt, Oshini Wanigasekera, Sanjay Talwar, Bradley Whitford, Mckenna Grace, Ever Carradine, Stephen Kunken, Devon Teuscher, Birgitte Solem, Paula Boudreau, Angela Vint, Vanessa Burns, Jonathan Watton, Edie Inksetter
Duração: 60 minutos (cada episódio)

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