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Crítica | The Handmaid’s Tale – 5X04: Dear Offred

O poder da ideologia.

por Luiz Santiago
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Gilead realmente cumpriu a promessa! Serena recebeu um espaço para trabalhar em nome da nação fascista em pleno território canadense, por conta de uma tecnicalidade ligada a um prédio, numa região de Toronto. Esse local acabou sendo designado como “Centro Cultural de Gilead”, e é claro que imediatamente colocou June, Luke e Moira em estado de alerta. No geral, estamos falando de uma reação esperada, mas isso não significa que não possui impacto. Ter Serena e Gilead com um cantinho reservado no Canadá, mesmo que isso não signifique (imediatamente, pelo menos) algum tipo de poder ou possibilidade de movimentação efetiva, é um perigo a ser combatido. E aqui, volto novamente a citar a única ação possível em qualquer sociedade que lida com organizações e grupos que pregam a intolerância como doutrina: reprimir. É vital para qualquer democracia ser intolerante contra ideias e organizações de segregação e de propostas de uma sociedade intolerante. Ao longo da História, vimos que as democracias que não abraçaram esse paradoxo, acabaram minimizadas ou arruinadas pelos ovos da serpente que deixaram chocar em seu ninho.

Os roteiros dessa temporada também estão sabendo mostrar de maneira bem mais orgânica a recuperação de June. Para quem conhece o mínimo de distúrbios emocionais ou de algum tipo de trauma, sabe que o processo de abstração desses problemas é lento, cheio de altos e baixos e que constantemente colocará o paciente em novo contato com os seus gatilhos. No fim das contas, nem se trata do desaparecimento total do problema, mas da chegada a um estágio onde ele não causará mais dor. É exatamente o que estamos vendo de June aqui. Elisabeth Moss segue ótima na representação de uma mulher em processo de cura. Há cenas em que vemos o olhar, o comportamento, o tom de voz, a impetuosidade dela e encontramos a June selvagem de antes. Outras cenas já nos mostram alguém que está tentando manter-se no prumo, seguir com a vida. O problema é que isso tem se tornado cada vez mais difícil.

A presença de Serena no Canadá é uma ameaça democrática, mas,  num microcosmo, é uma afronta pessoal a todas as mulheres e a todos os homens que sofreram e morreram naquela nação podre. E como é de se esperar, essas ideias possuem os seus fãs, os seus apoiadores que não conseguem pensar por um minuto o que é viver em um Estado com as características de Gilead. E o pior de tudo é notar isso vindo de mulheres, que são as que mais sofrem naquele regime. De todo modo, não é nada novo para nós, que vivemos no Brasil e vemos, todos os dias, grupos de pessoas implorarem por políticas e por lideranças que são, em tudo, contra a sua existência. Voltamos àquele estágio de raiva assistindo à série, e como eu disse na crítica do episódio duplo de abertura da temporada, creio que será uma sensação permanente daqui para frente.

A proposta de Tia Lydia deixa a gente ainda mais confuso e nos faz pensar sobre as reformas de Gilead. Confirmou-se, aqui, aquela ideia de que o funeral de Fred teve ótima repercussão internacional, e agora, muitos países (ou alguns grupos desses países) querem abrir algum tipo de diálogo com Gilead, o que não acontecia antes — ao menos de maneira aberta e um tanto ampla, como parece estar ocorrendo nesse momento. Com essa maior firmeza do sistema e a presença afrontosa de Serena no Canadá, vemos a semente de Gilead sendo espalhada e fortalecida. E June ainda não deu nenhum passo mais intenso contra a nação dos Comandantes. Será que vão empurrar para o episódio Finale esse maior passo da personagem? Por um lado, estou gostando muito do bloco que se passa no Canadá, comparado aos da temporada passada. Mas acho que June não deveria passar esta e a próxima temporada exclusivamente nesse estágio. Um grande movimento deve acontecer, e motivos não faltam para isso! Que lado dará início à crise?

The Handmaid’s Tale – 5X04: Dear Offred (EUA, 28 de setembro de 2022)
Direção: Dana Gonzales
Roteiro: Jacey Heldrich
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Madeline Brewer, Ann Dowd, O-T Fagbenle, Sam Jaeger, Samira Wiley, Bradley Whitford, Genevieve Angelson, Olivia Sandoval, Rossif Sutherland, Imogen Haworth, Natasha Mumba, Victoria Sawal, Neil Babcock, Adam Kenneth Wilson, Malaika Hennie-Hamadi
Duração: 49 minutos

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