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Crítica | The Handmaid’s Tale – 6X05: Janine

O desespero não pode vencer.

por Luiz Santiago
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Depois do susto de qualidade menor que tivemos em Promotion, chegamos ao meio da temporada com o episódio Janine, e vemos The Handmaid’s Tale voltar aos eixos com pompa e circunstância, resgatando sua potência narrativa ao entregar uma história tensa, com camadas psicológicas e um comentário afiado sobre poder e resistência. Sob a direção da brasileira Natalia Leite (que na 5ª Temporada dirigiu a obra-prima No Man’s Land) e com roteiro de Ubah Mohamed (em sua primeira contribuição para a série), a história gira em torno da arriscada missão de June e Moira para resgatar Janine da Casa de Jezebel, o bordel onde ela é forçada a assumir a persona de “Kitty” pelo nojento Comandante Bell (Timothy Simons). A fotografia de Steve Wilkie joga com contrastes de luz, das cores difusas das salas do bordel às sombras que engolem os corredores e a cidade, criando uma atmosfera sedutora e sufocante. Cada quadro parece sussurrar o custo da sobrevivência em Gilead, onde a aparente beleza é uma máscara para a violência e a vigilância nunca descansa, algo que a gente já sabia, mas que com todas as reformas, fomos forçados a esquecer.

A direção e o roteiro ressaltam as dinâmicas humanas: Janine, marcada por anos de trauma — da mutilação em Gilead à nova humilhação em Jezebel’s —, revela uma força de luta que desafia a lógica do sistema. Sua capacidade de manter a clareza e ajudar na fuga de outras mulheres é um testemunho de imensa força interior e também um lembrete do preço pago por essa lucidez. June, por outro lado, carrega o peso de decisões passadas, especialmente a culpa por abandonar Janine em Chicago, enquanto Moira, com seu pragmatismo cansado, questiona o ciclo de salvamentos que as mantém presas umas às outras. Paralelamente, Nick enfrenta as consequências práticas e morais do parcialmente frustrado homicídio na fronteira (eu achei que a série tinha abandonado a linha de consequências para este arco!), e Lawrence descobre uma conspiração dos outros Comandantes para derrubar sua visão de New Bethlehem, uma Gilead menos rígida. Essas histórias individuais, entrelaçadas com precisão, expõem como o fascismo cristão da série transforma escolhas em armadilhas, forçando cada personagem a negociar sua humanidade num tabuleiro onde o poder (e, a médio prazo, a própria vida) é a única coisa na mesa.

A construção estética amplifica essas tensões. Os silêncios quebrados por diálogos cheios de mistério ou a música explorada com certo ar de desespero (a cena de What’s Up? foi uma agonia), ou o eco de passos apressados que cria uma sensação de medo e reflete o estado emocional das protagonistas e, depois, de Lawrence. Vemos um trabalho cuidadoso de closes íntimos em olhares carregados de culpa e esperança, com destaque para três cenas: Tia Lydia e Serena; Serena e o Comandante Wharton; e de June com Moira, no quarto de Janine. Além disso, toda a parte final do episódio, seguida da fuga, injeta adrenalina e retoma a linha de suspense mais ágil que a série tão bem explorou nas temporadas iniciais. A advertência de June, de que ceder à comparação de sofrimento com outra mulher é entregar a vitória aos homens violentos de Gilead, fecha o ciclo de posicionamento das personagens aqui, com um chamado sério à solidariedade e um alerta sobre as estratégias do regime para fragmentar resistências e minar a sororidade.

O cliffhanger desse capítulo foi preciso e potente. O roteiro deixou o destino da missão incerto, adotando um truque narrativo que combina com o miolo da temporada e serve de convite para refletir sobre o andamento do show em sua segunda metade definitiva e, no ponto mais reflexivo, sobre até onde é preciso ir em uma luta num sistema desenhado para destruir a todos os que tentarem mudar alguma coisa. Ao trazer Janine de volta ao centro da narrativa (ela, que é uma das minhas personagens favoritas da série), The Handmaid’s Tale resgata sua voz e a transforma em (mais um) fruto das contradições de Gilead e da luta diante do cansaço e do sofrimento. Um regime que tenta anular a individualidade e as escolhas individuais que não afetam terceiros acabará gerando formas cíclicas de rebelião, não é mesmo? Com beleza visual e densidade psicológica, este episódio desafia o espectador a pensar no que significa tentar quebrar prisões quando tudo conspira contra isso. Janine, June e Moira sugerem que a verdadeira revolução começa na recusa de se render ao desespero.

The Handmaid’s Tale – 6X05: Janine (EUA, 22 de abril de 2025)
Direção: Natalia Leite
Roteiro: Ubah Mohamed
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Madeline Brewer, Ann Dowd, O-T Fagbenle, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Josh Charles, Timothy Simons, Athena Karkanis, Jonathan Watton, Tim Campbell, Jessica Abruzzese, Kim Huffman, Joshua Peace
Duração: 50 min.

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