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Crítica | The Handmaid’s Tale – 6X06: Surprise

De onde menos se espera...

por Luiz Santiago
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Em apenas 40 minutos, Surprise nos presenteia com uma obra-prima de enredo e direção, com enorme tensão narrativa e condensadora da força que The Handmaid’s Tale tem, fazendo-nos morrer de ódio e ansiedade. June percorre um labirinto de lealdades frágeis e acordos pouco confortáveis aqui, num ambiente onde cada passo pode ser o último (sim, voltamos a este patamar, mas não acho que seja uma coisa negativa). Ver June e Moira saindo do porta-malas de Lawrence nos faz lembrar temporadas anteriores da série e, deste ponto em diante, a incrível direção de Natalia Leite vai nos presentear com uma base emocional rica e um trabalho estético de primeiríssima qualidade: escuridão, tensão, aperto e urgência. O medo e raiva do Comandante Lawrence acaba se direcionando para uma ajuda ao plano Mayday, e, novamente, vemos que o roteiro avança para o desmoronar ou enfraquecimento de Gilead, a despeito do revés que tivemos na soberba cena final. A cadência da narrativa aqui é outro presente: texto, elenco e direção estão no mais alto degrau, sabendo respeitar e explorar silêncios densos e partidas para a ação, deixando o coração do espectador na garganta.

A despeito de outras cenas chamativas no decorrer do episódio, não há para onde correr: o ápice é a traição de Nick, que aparece num contexto de dúvida e possível reformulação de planos que, em poucos segundos, redefine um dos laços mais interessantes no universo da série. Max Minghella entrega um Nick frágil, infame e trágico. No flashback, retomamos a relação dele com June e a importância que teve para o movimento anti-Gilead ao longo de todo esse tempo (apesar de fazer parte do alto escalão de informantes do país). Agora, depois de muito cambalear em uma corda moral que nos manteve entre a suspeita e a sutil confiança, vemos o personagem trair June, arrasar o movimento de extermínio dos Comandantes e acender um ponto de atenção para os 4 capítulos finais do show. Para Nick, este ponto de sua vida reflete a luta interna de quem sente algo, mas cede ao peso de um sistema que sabe muito bem como quebrar um indivíduo, conceito muito similar à coerção psicológica de contextos históricos ou ficcionais que mostram o indivíduo numa encruzilhada onde a sobrevivência, muitas vezes, exige sacrifícios impensáveis. É evidente que isto será abordado no próximo episódio, mas espero que o roteiro não perca tempo demais refletindo sobre o ponto emocional da traição. Está feito e, agora, o que importa são as consequências.

O silêncio de June após a traição (mostrado num trabalho de câmera e fotografia bárbaros) traz uma lista muda de possibilidades. Sabemos que o revés sofrido por ela — em relação ao plano, pelo menos — não indica que tudo foi por água abaixo: é uma etapa dentre muitas, pois não vejo a série terminando sem pelo menos uma grande tentativa prática de derrubar Gilead. Não tenho pensamentos muito específicos sobre a vitória da revolução (imagino que terminaremos o programa numa espécie de reticência), mas tudo indica que June, em Gilead, será uma peça importante no reajuste do plano, mesmo após a traição de Nick. Não posso deixar de citar também a mescla de frieza e vulnerabilidade que toma a aplaudível sequência de June com Serena, com diálogos incríveis, intensos pontos de vista e emoções à flor da pele. A decisão de Serena em abrigar June foi movida por pragmatismo e culpa, criando, mais uma vez, uma aliança improvável, já que a futura Sra. Wharton ainda tem fé na teocracia que ajudou a fundar e acredita em uma “melhora interna”.

Há um enorme leque de situações delicadas aqui. Os personagens estão envolvidos em dilemas complexos e, confesso, não esperava ter uma intensidade dramática tão grande no quesito “relações interpessoais” neste ponto do show. Entendo, porém, que a produção acertou o tom e a escolha. Se não cair na armadilha de passar tempo demais rodando em torno da moralidade ou ética da coisa, toda essa tempestade pode gerar algo muito bom para os dois últimos capítulos. Uma verdadeira surpresa!

The Handmaid’s Tale – 6X06: Surprise (EUA, 29 de abril de 2025)
Direção: Natalia Leite
Roteiro: Aly Monroe
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Madeline Brewer, Amanda Brugel, Ever Carradine, Ann Dowd, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Josh Charles, Timothy Simons, Kyle Jonathon
Duração: 40 min.

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