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Crítica | The Handmaid’s Tale – 6X08: Exodus

Será esta a fuga vitoriosa tão esperada?

por Luiz Santiago
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Quebrando pelo menos parte da couraça opressiva de Gilead, Exodus nos traz uma revolta silenciosa das mulheres, mostrando a força prática da resistência e entrelaçando o levante das aias em Boston a um casamento que também nos diz muita coisa. O roteiro de Yahlin Chang explora o audacioso plano para abalar a cúpula do regime, usando a violência de maneira inteligente e, ao que parece, com resultado palpável. Enquadramentos simétricos, com uma precisão kubrickiana, contrastam o vermelho das vestes das aias com toda a miríade de cores da cerimônia, criando uma tensão visual que reflete o embate entre controle e subversão. Movimentos de câmera em plongée organizam o espaço cênico, revelando a estratégia coletiva numa dança visual em etapas (algumas delas extremamente tensas), enquanto orquestrações e silêncios calculados intensificam o suspense, sustentando um ritmo que nunca vacila.

Desencadeada durante a cerimônia de casamento entre Serena e Wharton, a revolta não se dá num confronto físico imediato com os comandantes, reafirmando a agência das aias em um ato de ruptura coletiva. Alternâncias entre a serenidade aparente dos rituais e a expectativa do levante noturno constroem uma narrativa que mantém o espectador psicologicamente preso à tela. A escolha de cores saturadas e a precisão visual reforçam que, mesmo sob opressão, estratégia, ódio e beleza coexistem, transformando o espaço em um comentário sobre o comportamento dos diferentes grupos de mulheres (dinâmicas de poder), a desfaçatez e a calmaria antes da tempestade. A verdade social, antes oculta pela submissão das mulheres estupradas num suposto ritual de concepção aprovado por Deus, é desvelada coletivamente e com clareza, sendo uma das moedas mais fortes do episódio, levada a cabo pelas aias e utilizada por Serena contra o próprio marido — e também, na reta final, contra Tia Lydia.

Rachaduras no sistema se escancaram quando a ilusão de harmonia, sustentada por leis opressivas, desmorona diante de traições em diferentes frentes. A fuga de Serena na noite de núpcias, por exemplo, é carregada de simbolismo, trazendo muitos dos nossos pensamentos sobre a tentativa dela em ganhar poder, manter o sistema porque acredita que ele tem validação divina, mas fazer, internamente, “algumas reformas humanizadoras” — algo impossível em uma sociedade extremista religiosa (cristã) que jamais verá a mulher com algum valor para além do parto e mão de obra caseira. Essa trajetória faz com que Serena siga o seu ciclo, apontando para um final amargo. Será que, finalmente, vai aprender que o patriarcado não lida com a liberdade feminina ou vai continuar achando que Deus e as estruturas da sociedade precisam de “certa dose de subserviência feminina” para funcionar bem?

Decisões inesperadas, como as de Tia Lydia e do guarda noturno do Red Center, são as grandes surpresas aqui. Tia Lydia é confrontada por uma calma e assertiva June, numa cena soberba. Janine também aparece, e Moira, igualmente, reafirma ideias que Lydia já vinha experimentando há algum tempo. Sua autoridade, seus afetos distorcidos em relação às aias (“suas meninas”) e a crença de que estava fazendo um “trabalho divino” entram em colapso aqui. Acredito que a liberação que Lydia dá às aias vem rápido demais, mas no contexto do que temos nesta temporada e na composição da própria personagem, não acho difícil de aceitar. Por outro lado, penso que o militar do Red Center aceitar facilmente a fuga das aias não combina nem um pouco com o que se espera dele. Se fosse alguém mostrado como aliado à revolução das mulheres, tudo bem. Mas não é o caso. Este, a meu ver, é o único tropeço real de coesão do episódio.  

Resistir em silêncio, com atos calculados e quase invisíveis, subverte a lógica do controle político e social e faz com que o espectador reflita sobre as batalhas necessárias para se ter liberdades individuais e quebrar o controle de um Estado autodenominado “salvador da humanidade”. A narrativa, ao confrontar deveres morais com a injustiça, deixa em suspense o destino de Gilead: até que ponto sua estrutura será abalada com essa revolta/fuga, e o que restará de suas cinzas? Certamente não haverá vácuo de poder, certo? Exodus semeia algumas perguntas sobre o encerramento da série. Não me parece factível que Gilead cairá por completo com essa revolta, mas algum abalo, para o bem do enredo, deverá acontecer. Sinto como se estivesse vendo, em outro patamar, o mesmo tipo de drama… mas entendo o peso, o contexto e a abordagem distinta, dessa vez. Agora só nos resta esperar o ponto final.

The Handmaid’s Tale – 6X08: Exodus (EUA, 14 de maio de 2025)
Direção: Daina Reid
Roteiro: Yahlin Chang
Elenco: Elisabeth Moss, Yvonne Strahovski, Madeline Brewer, Amanda Brugel, Ever Carradine, Ann Dowd, Max Minghella, Samira Wiley, Bradley Whitford, Josh Charles, Timothy Simons, D’Arcy Carden, Carey Cox, Jonathan Watton, Tim Campbell, Angela Vint, Zachary Smithers, Vanessa Burns, Diana Bentley
Duração: 50 minutos

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