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Crítica | The Hole in the Ground

por Iann Jeliel
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A A24 revolucionou o horror moderno ao proporcionar um retorno triunfal ao terror psicológico para discutir questões mais representativas. A Bruxa, Hereditário, Ao Cair da Noite, são alguns dos exemplos motivadores a ficar com boas expectativas para qualquer produção da distribuidora no terreno do horror, mesmo que não seja de filmes produzidos por eles, como é o caso dessa micro produção irlandesa que até então não tinha muita visibilidade até ter seus direitos comprados. Infelizmente, The Hole in the Ground, diferente das outras produções não foi adquirida por ter uma autoria própria, mas sim por literalmente possuir todos os elementos desconstruídos por eles de uma forma previsível e sem inspiração.

É como se o filme criasse uma fórmula de tudo em comuns entre eles, mas não os misturando organicamente. A começar pela premissa batendo na mesma tecla do destrincho do medo da maternidade, algo visto em The Babadook por exemplo, todo o 1° ato se foca nessa melancolia da mudança já vista em centenas de filmes, onde a mãe busca com o filho um jeito de recomeçar mesmo atormentada após a separação de casamento, elemento motivacional diferente da sua inspiração, mas com a mesma função de averiguar a paranoia de desconfiança para o conflito principal. Esse que é justificado por uma soma de elementos clichês, vizinha perturbada alertando, comportamentos mais agressivos da criança sendo justificados pela sua natural estranheza, o estresse de ter que lidar com o filho sozinho, dentre outras desculpas para arrastar as decisões mais racionais após ver um buraco gigantesco no fundo do jardim.

A partir daí o filme entra em terreno Hereditário ou Boa Noite, Mamãe com a diferença que não há a menor dúvida sobre as perguntas criadas, já que o diretor Lee Cronin carece de uma paciência na hora de trabalhá-las em linhas mais sugestivas. Ele mostra mais do que o necessário e acaba por si só entregando todas as pistas antes do momento certo. O filme perde no fator “crescente” pela obviedade e ainda prejudica no efeito do clímax, onde realmente ele revela a “surpresa” plantada anteriormente de uma forma mais física, ignorando toda a construção pensada em ser mais metafórica. Assim, o peso ambíguo dos significados fica vazio e reciclado, narrativamente e conceitualmente, sendo algo bem derivado de O Abismo do Medo.

Poderia até ser impactante para com os personagens, mas a virada nem na parte dramática é sustentada pelo mesmo motivo, o cineasta não sabe usar a exposição e acaba transformando a mensagem já derivada em algo irrelevante a trama principal. A divisão entre uma interpretação mais literal e outra mais nas entrelinhas, se torna basicamente uma, devido a tanta verborragia. Nem o elenco ajuda a melhorar o material, Seána Kerslake não é bem conduzida, assim como o mirim James Quinn Markey, ficando limitados as fragilidades clichês do roteiro, embora em termos interpretativos, ambos se esforçam bem para convencer nas nuances do personagem, seja no peso carregado da mãe jovem solteira ou na dubiedade da criança.

Ao menos, nas partes técnicas o filme justifica o porquê tenha sido escolhido pela a A24 para ser distribuído, a ambientação imageticamente é bem chamativa, soturna e carrega um pressagio constante pela paleta de cores cinza da fotografia, aproveitando ao máximo a passagem rural irlandesa de fios macabros pela ótima contextualização atmosférica da trilha sonora. O diretor até conhece bem a linguagem cinematográfica, utilizando de enquadramentos elaborados até inventivos se não fosse para fins tão comuns, ainda assim, vale elogiar que ele não é tão apelativo quanto poderia, seus jumps scares não são presentes em excesso e mesmo que previsíveis, não são apelativos para sustos baratos.

The Hole in the Ground traz a sensação de um falso terror psicológico, onde a sugestão é trabalhada pela imagem de forma falha. É o primeiro erro da “parceria”, terror + A24 e espero que seja o único. No gênero mais injustiçado do cinema atualmente, qualquer deslize parece ser motivo de chacota a ele, ainda mais um de uma produtora que está mudando drasticamente esse cenário para melhor. Tomara que não seja o surgimento de uma acomodação por parte dela e sim apenas um tropeço esporádico em meio a uma caminhada até agora, apenas de glória.

The Hole in the Ground (Idem, Irlanda – 2019)
Direção: Lee Cronin
Roteiro: Lee Cronin, Stephen Shields
Elenco: Seána Kerslake, James Quinn Markey, Simone Kirby, Steve Wall, Eoin Macken, Sarah Hanly, James Cosmo, Kati Outinen, Bennett Andrew, David Crowley, John Quinn, Miro Lopperi
Duração: 90 min.

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