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Crítica | The Hot Zone – Minissérie Completa

por Leonardo Campos
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O que pode ser mais contagioso que o medo? A minissérie The Hot Zone – Zona de Risco consegue responder ao questionamento no desdobramento dos seis episódios focados na interpretação do paciente zero e de seus contagiados, bem como na chegada do vírus ebola nos Estados Unidos, território que o cinema já fez questão de apresentar como ambiente da histeria coletiva em diversas ocasiões. Sob a direção de Michael Uppendahl e Nick Murphy, guiados pelo roteiro de Kelly Sauders e James V. Hart, dupla responsável pela adaptação do livro homônimo de Richard Preston, a produção foi concebida pela National Geographic, eficientes ao colocar a veterana Julianna Margulies para ocupar o papel da pesquisadora protagonista da história.

Logo na abertura, uma cena bem erguida pelos realizadores estabelece o clima de perigo da narrativa. Somos apresentados ao paciente zero, um homem que passa por situações conflitantes no retorno de uma viagem, tomado pelos sintomas geralmente atribuídos a uma virose: suor, dores de cabeça, vômito constante com traços de sangue, dentre outras coisas desagradáveis. Entre os acontecimentos presentes, situados em 1989, e os flashbacks, seguimos sem linearidade a descrição desta história, contada sob o ponto de vista dos personagens que investigam o assunto há tempos. O que conecta o presente com o passado é a morte de macacos num centro de pesquisa situado em Reston, na Virginia.

Esse é um dos principais pontos da investigação diante de algo que os poderosos das Forças Armadas e políticos querem esconder de qualquer maneira: a possibilidade de um contágio em larga escala nos Estados Unidos. Nancy (Margulies) é a responsável por dar os primeiros passos na análise do vírus e nos avisos constantes sobre a necessidade de manter a sociedade em estado de alerta, algo que desagrada as autoridades desejosas da manutenção de uma suposta ordem. No Departamento Médico do Exército dos Estados Unidos, Nancy consegue obter os seus primeiros resultados, constantemente freada pelos desinteressados na midiatização da história.

Coordenadora de Peter (Topher Grace) e Ben (Paul James), cientistas financiados pelo Pentágono, experientes na manipulação de patógenos nocivos, Nancy não mede forças para descobrir questões mais amplas do vírus desconhecido, numa luta que terá até mesmo o seu marido Jerry (Noah Emmerech) como obstáculo, homem receoso dos perigos que a amada corre ao adentrar neste terreno de novidades. Uma de suas principais preocupações é o problemático mentor de Nancy, o inconstante Wade (Liam Cunningham), conhecido por seu temperamento nada ameno, profissional eficiente, mas sem cautela quando a missão é lidar com as artimanhas do poder.

Wade é parte do circuito narrativo dos flashbacks no Catar, na década de 1970, trecho de interação do personagem com os pesquisadores Travis (James D’Arcy) e Melinda (Grace Gunner), todos envolvidos nos perigos da disseminação de um vírus ainda não estudado. Serão os desdobramentos desta época que definem a relação de Wade com Travis, feixe de situações que nos ajuda na compreensão do atual status da amizade de ambos. Foram períodos que ninguém, em ambas as décadas 1980, conhecia protocolos adequados para lidar com uma possível epidemia de ebola.

Tensa em sua primeira metade e menos empolgante nos episódios finais, The Hot Zone – Zona de Risco é uma minissérie que expõe diversos temas interessantes mesmo diante da sua substancial perda de ritmo no desfecho, menos envolvente que o período de estabelecimento e desdobramento da crise. A força motriz da trama é o engajamento da protagonista diante do machismo, das tensões em torno de um vírus que não possui vacina, da preocupação constante por conta de algo que podia ter gerado uma epidemia generalizada, detalhes apresentados pelo desempenho dramático de Julianna Margulies e sua interação com os figurinos que envolvem luvas, roupas protetoras, uso de água sanitária e outros detalhes que reforçam o caráter didático da história.

A equipe técnica responsável por transformar o roteiro em material audiovisual faz o trabalho de maneira competente, sem momentos muito memoráveis, mas capazes de narrar os dramas propostos no texto dos episódios que giram em torno dos 43 minutos de duração. Na direção de fotografia, a dupla François Dagenais e Cameron Duncan dividem as seis partes em três para cada, materiais entregues com unicidade, sem diferenças gritantes nos enquadramentos, movimentos e iluminação. O design de produção, importante para a imersão do espectador num clima militar e de pesquisa também funciona bem, assinado por Mark Hutman. Ele coordena Emilia Roux, Nigel Hutchins e Crystal North, trio responsável pela cuidadosa cenografia, ambientes para circulação dos personagens em suas dinâmicas devidamente representadas pelo setor visual. A condução sonora de Sean Callery também funciona bem, dentro das necessidades dramáticas da série, material, no geral, satisfatório diante de suas propostas.

Produzida pela Scott Free, do cineasta Ridley Scott, a minissérie em questão desenvolve tópicos interessantes sobre microbiologia, ao flertar com os perigos de um vírus que diferente das bactérias, geralmente combatidas com antibióticos, precisam de medicamentos específicos. Cada época possui a sua epidemia representativa, sendo o ebola uma das preocupações responsáveis por tirar o sono de cidadãos e especialistas na larga escala do tecido social estadunidense. Catalisadores do medo, não é de hoje que os vírus surgem como protagonistas de situações histéricas coletivas. A presença do inimigo invisível é de deixar qualquer um inseguro e apavorado. Não apenas destrutivo em sua dimensão física, vírus dessa magnitude questionam vínculos sociais. É o marido que precisa se afastar da esposa e dos filhos por conta do possível contágio durante as atividades no laboratório, é a desconfiança do colega de trabalho ou do vizinho que sentimos a necessidade de manter distantes. Em suma, é o caos distribuídos em vertentes múltiplas. A contrapartida das facilidades obtidas pelo movimento que chamamos de globalização.

The Hot Zone – Minissérie Completa /Estados Unidos, 2019
Criação: Nick Murphy, Michael Uppendahl
Direção: Nick Murphy, Michael Uppendahl
Roteiro: Kelly Souders, Bryan Peterson
Elenco: Julianna Margulies, James D’Arcy, Topher Grace, Liam Cunningham, Noah Emmerich, Paul James, Lenny Platt, Robert Wisdom, Nick  Searcy, Mark Kelly, Grace Gummer
Duração: 45 min. por episódio (06 episódios no total)

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