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Crítica | The Kill Hole

por Ritter Fan
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O primeiro papel protagonista de Chadwick Boseman quase não é lembrado pela quase inexistente distribuição que o filme indie teve mesmo nos EUA – sequer foi lançado no Brasil – e pelo fato de ele ter sido atropelado pelo lançamento de 42: A História de uma Lenda, o longa que é mais comumente ligado à estreia do ator em papel importante. E, com isso, The Kill Hole, a até agora única obra em longa-metragem de Mischa Webley permanece esquecido nas brumas do tempo.

Depois de estrear no cinema em uma ponta de pouquíssimos minutos ao final de No Limite – A História de Ernie Davis, o máximo que Boseman conseguiu foram dois papéis fixos, mas efêmeros, em séries de televisão (além de diversas participações únicas em outras séries), situação que permaneceu assim por quatro longos anos até que, quase simultaneamente, ele fosse escalado para The Kill Hole e 42, com o primeiro, por sua natureza menor e autoral, sendo lançado em circuito de festivais em 2012, tendo estreia limitadíssima nos cinemas americanos em março de 2013, somente para ser lançado em DVD no mês seguinte.

No filme, Boseman vive Samuel Drake, ex-tenente dos Marines e ex-mercenário que, agora, é motorista da táxi de vida modestíssima que vive em um quarto mínimo de motel e depende de reuniões de veteranos capitaneadas pelo dedicado Marshall (Billy Zane) para suportar sua vida, seus traumas e toda a culpa que carrega em seus ombros. Em um determinado dia, ele é procurado por executivos da empresa particular com contrato com o governo em que trabalhava porque outro ex-soldado matara outro executivo e havia deixado um recado de que queria falar com ele, Drake, por saber o que ele havia feito na guerra. Esse soldado, Devon Carter (Tory Kittles), interessantemente, é o narrador do longa e é com foco nele que a narrativa começa, revelando que ele mora em um posto remoto no meio de uma belíssima floresta. Depois de muita relutância, Drake parte ao encontro de Carter.

Há que se compreender que The Kill Hole não é um filme de guerra. Ele é no máximo, se quisermos estabelecer um parâmetro, uma versão filosófica e sem ação de Rambo – Programado para Matar, ou seja, um longa que aborda o trauma de guerra e o isolamento dos soldados veteranos em uma bolha econômica, social e psicológica que não conseguem perfurar. No entanto, o roteiro de Webley nunca realmente aposta todas as suas fichas nessa pegada, retirando muito da identidade e relevância que o filme poderia ter. Seu maior pecado é manter Drake e Carter separados durante a maior parte do tempo, já que é na primeira interação entre os dois que o filme realmente encontra sua base, com as atuações de Boseman e de Kittles funcionando imediata e maravilhosamente bem. Não que os atores, separadamente, não mantenham a qualidade de suas performances, mas o roteiro não ajuda nesses momentos, o que tornam ainda mais valiosas as sequências em que eles estão juntos.

Mas é pouco demais para o que Webley talvez pretendesse e por vezes a fita parece querer cambar para o lado mais genérico da ação e violência, sem, porém, também chegar até lá. O aspecto contemplativo da obra acaba, com isso, não se encaixando naturalmente em seu ritmo e acaba parecendo forçado pela narrativa de Kittles no começo e esporadicamente ao longo da duração da obra, sem ressonar de verdade nas ações e nas consequências dos veteranos. É como se tivesse mais de uma história ali que acabaram fundidas em uma só e, no final das contas, apesar do ritmo lento, não ganharem desenvolvimentos condizentes com o que em tese parece ser a premissa.

E é uma pena, pois o longa tinha enorme potencial. A fotografia de Eric Billman faz excelente uso da “natureza selvagem” onde Carter mora, contrastando-a com a sujeira e podridão da “cidade selvagem” onde Drake vive, com a trilha sonora de Jason Wells também conseguindo equilíbrio entre esses dois lados de uma mesma moeda. As atuações, como já afirmei, são muito boas e melhores ainda com os protagonistas juntos. Até mesmo Billy Zane está bem no pouco que aparece. Mas, apesar da qualidades de diversos de seus elementos quando vistos separadamente, o conjunto do longa não mantém coesão graças a um roteiro que não mergulha de verdade nas questões que quer abordar ou, melhor ainda, que não elege uma linha narrativa só e trabalha só nela.

The Kill Hole provavelmente nunca sairá do buraco da obscuridade a que foi relegado. Mesmo não despontando como uma obra que realmente mereça destaque, ela sem dúvida tem diversos elementos que tornam a experiência no mínimo interessante e satisfatória no que se refere ao menos ao elenco.

The Kill Hole (EUA – 2012)
Direção: Mischa Webley
Roteiro: Mischa Webley
Elenco: Chadwick Boseman, Tory Kittles, Billy Zane, Peter Greene, Dennis Adkins, Ted Rooney, Victoria Blake
Duração: 92 min.

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