Home QuadrinhosMangá Crítica | The Kindaichi Case Files – Vol.1: Os Assassinatos da Ópera

Crítica | The Kindaichi Case Files – Vol.1: Os Assassinatos da Ópera

Referenciando um clássico francês.

por Luiz Santiago
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Desde muito cedo, a ficção policial encontrou nas tramas do tipo whodunnit (“quem matou?”) um solo tremendamente fértil para experimentos diversos, e isso não ficou apenas fechado à literatura, mas chegou em diversas outras mídias que se dispunham a contar histórias sobre crimes e questionar, dentre uma considerável lista de suspeitos, quem cometera o terrível ato em destaque naquela narrativa. No Japão, os mangás de histórias policiais, crime e investigação inseridos nesse ambiente fizeram muito sucesso nos anos 1990, e The Kindaichi Case Files foi um dos títulos mais importantes do gênero, com sucesso de crítica e de público o bastante para sustentar continuações e adaptações diversas. 

A trama começou a ser serializada na revista Weekly Shōnen Magazine em 28 de outubro de 1992, e os seus seis primeiros capítulos, posteriormente publicados em um volume, formam o arco inicial da série. Intitulada Os Assassinatos da Ópera, a história é claramente inspirada em uma clássica trama francesa de terror e mistério, serializada no jornal Le Gaulois entre 1909 e 1910. Escrita por Gaston Leroux, a trama de O Fantasma da Ópera fala de um músico com o rosto parcialmente desfigurado, que usava uma máscara, vivia nas catacumbas de Paris e conhecia todos os corredores e subterrâneos da ópera da cidade. Essa “assombração” acabou levando à morte de algumas pessoas e engatou um inesperado romance com uma jovem cantora chamada Christine.

No roteiro de Yōzaburō Kanari, porém, o elemento romântico só é abordado mais para o final, e numa trilha trágica e levemente moralista que traz a punição ao assassino. Mas ele se ancora diretamente no clássico francês, fazendo com que um grupo de alunos escolha a versão teatral da obra para encenar, e, a fim de ensaiarem sem distrações, organizam uma viagem a uma ilha isolada, onde está localizado o Opera House Hotel. A sucessão de eventos pega emprestado de diversos subgêneros a sua construção do medo: o isolamento dos personagens, a existência de um problema prévio (a morte de uma aluna que fazia parte do elenco, algumas semanas antes) e o início dos assassinatos.

Doses de slasher com a estrutura dos crimes de quarto fechado são adicionadas à narrativa, que ao mesmo tempo procura desenvolver o principal personagem do título, o jovem Hajime Kindaichi. Aqui existe uma boa referência dentro da literatura de mistério, que é o sobrenome desse garoto. O próprio texto alardeia que ele é neto do grande Kosuke Kindaichi, e que por isso herda toda uma capacidade excepcional para olhar as coisas e entender os segredos por trás delas. Isso chama a atenção porque Kosuke Kindaichi é realmente um icônico detetive da literatura japonesa, criado pelo escritor Seishi Yokomizo em 1946, no livro The Honjin Murders. O fato de o jovem Hajime estar envolvido em uma aventura de mistério, ser desajeitado como o avô e ter, como personagem, esse pedigree, foi uma ótima sacada dos criadores da série, passando o seu poder de gênero para o mangá.

O que destoa, na construção do drama, é a fusão pouco interessante que os autores fazem entre comédia, drama, terror, mortes violentas e um processo investigação picotado, com alguns trechos de capítulos que atiram para vários lados, mas não conseguem atingir nada. Ao contrário, deixam o leitor entediado ou estranhando a mudança repentina no andamento de um pedaço sério para a inserção de uma piadinha boba ou comportamento aleatório de algum personagem, inclusive do protagonista. A investigação também tem momentos muito bons que dividem espaço com distrações ou com atos de estudantes que não fazem muito sentido. Essa relação entre momentos notáveis e outros nem tanto acaba deixando o arco menos forte do que ele poderia ser. Mesmo assim, não tira do leitor a vontade de conhecer o andamento da saga.

The Kindaichi Case Files (金田一少年の事件簿 / Kindaichi Shōnen no Jikenbo) — Japão, 1993 
Roteiro: Yōzaburō Kanari
Arte: Fumiya Satō
Contendo: Capítulos 1 a 6: Opera House Murder Case (オペラ座館殺人事件 / Operazakan Satsujin Jiken Ichi)
Editora original: Kodansha
240 páginas

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