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Crítica | The Last of Us – 1X01: When You’re Lost in the Darkness

Joel e... Sarah.

por Kevin Rick
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Antes da crítica, uma confissão: nunca gostei da ideia de uma adaptação de The Last of Us. O jogo de 2013 é tão cinemático, narrativo e praticamente serializado dentro de sua densa história e longas cutscenes intercaladas com gameplays que fica difícil entender a motivação por trás de uma adaptação em live-action que muito provavelmente imitaria a série numa espécie de transliteração sem trazer algo essencialmente novo. Vendo a série com outras pessoas, porém, adquiri uma perspectiva menos egoísta. Por trás da grana de uma grande marca e do sucesso certo de mais uma propriedade de franquia, há uma satisfação: ver outras pessoas conhecendo a história de Joel e Ellie.

Não vou desperdiçar muito tempo com a sinopse, porque é o alfabeto pós apocalíptico com zumbis, zonas de quarentena, mundo destruído e rebeldes lutando contra a nova hierarquia. O contágio, no entanto, não é viral, mas sim causado por um fungo, um conceito curioso que cria algumas oportunidades visuais interessantes, apesar de ainda não tão bem explorado no primeiro episódio. A explicação um tanto didática no comecinho da série quase atrapalha, mas há um certo cinismo e uma ponta de curiosidade que trazem algum diferencial em termos de mitologia, apesar de que no final são apenas zumbis no fim do mundo.

Não tem como negar que o cerne da história é o drama humano, traumas introspectivos e temas sobre paternidade e luto. É bastante similar ao começo de TWD nesse sentido, para ficar numa comparação recentemente famosa, mas me lembra mais obras como Filhos da Esperança e A Estrada em que vemos a destruição da sociedade através da perspectiva de um grupo pequeno de pessoas. Até o momento, The Last of Us não tem nem de longe a complexidade temática e visual dos dois filmes citados, apesar de termos um horizonte de oportunidades para expansão, mas os envolvidos na produção encontram sucesso na dramaturgia.

O ótimo prólogo com Joel (Pedro Pascal) e sua filha Sarah (Nico Parker, incrivelmente carismática) sintetiza bem como Craig Mazin e Neil Druckmann sabem onde está o coração dessa história, dedicando tempo do seu longo piloto para o passado do protagonista. Achei certeiro termos esse período da história como abertura e não apenas como um flashback picotado ao longo da temporada, porque encaminha o telespectador para os temas dramáticos da história com uma boa dose de empatia e conexão com Joel. Mesmo no curto terço inicial, há desenvolvimento o suficiente para que Sarah não seja “apenas” uma filha perdida ou que Joel seja “apenas” um pai de luto. A morte da garotinha é sentida e a dor carregada por Joel tem uma densidade abordada, seja pelo espectro da violência, seja pelo instinto de proteção com Ellie (Bella Ramsey), claramente assumindo esse vazio no protagonista em seu pouco tempo de tela.

Não é nada profundo demais ou super minimalista, mas também não é só um drama apelativo e sem substância. É um bom drama. Também carregado por uma boa direção, com destaque para a sequência na casa dos vizinhos infectados. A clássica sequência do desespero e pandemônio no início do surto também tem seus destaques, incluindo os planos no carro, que me lembraram Um Lugar Silencioso II e Guerra dos Mundos, apesar de obviamente menos engenhosos por conta do orçamento do seriado.

Ainda noto, porém, que muita coisa aqui soa segura e “normal”, algo que vejo com olhos menos positivos para a trama pouco cativante na zona da quarentena. A maneira como o roteiro lida com os genéricos Vaga-Lumes, a falta de exploração daquele local (Cuarón teria feito festa aqui com uma montagem visual e espacial…) e a junção um tanto atabalhoada e corrida de Joel, Tess (Anna Torv) e Ellie parecem clichês e escolhas amadoras para um mestre roteirista como Mazin, que usa muita conveniência para chegar na “desculpa” narrativa de Joel levar uma escolhida numa grande missão. Penso que o showrunner poderia ter se aproveitado mais do prólogo e desenvolvido melhor o núcleo da quarentena num segundo episódio.

Estou cobrando muito? Talvez sim, talvez não. Acredito que temos muito para ver ainda, como a dinâmica de Joel e Ellie (ainda não comprei a Ramsey, vale ressaltar); como será o equilíbrio de uma grande jornada com o estado micro da história; e especialmente o que Mazin irá trazer de novo e autoral para sua adaptação, principalmente em termos de direção. O início é promissor, porém, também valendo notar como o seriado irá abordar outra fundação do famoso jogo de video-game: a complexidade moral do enredo. Vemos vislumbres aqui e ali, como quando Joel mata sua vizinha ou quando surra o policial, mas veremos se isso será mergulhado em ambiguidade.

Já vi muita gente classificando o primeiro episódio de The Last of Us como obra-prima, mas discordo. Com todo respeito às opiniões, me parece uma comoção do tipo “melhor série de todos os tempos dos últimos cinco minutos” ou um carinho nostálgico de ver Joel e Ellie representados em tela. O que eu vi foi um início sólido, com boa apresentação de universo, de personagens e dramas empáticos, envoltos por uma direção eficiente, ótimas atuações e uma narrativa segura dentro de seu caráter introdutório. É um bom começo, sem dúvidas, mas veremos se alça mais do que isso.

The Last of Us – 1X01: When You’re Lost in the Darkness (EUA – 15 de janeiro de 2023)
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Craig Mazin
Roteiro: Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Anna Torv, Nico Parker
Duração: 24 min.

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