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Crítica | The Last of Us – 1X05: Endure and Survive

Situações impossíveis.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.

Eu fui um tanto bombardeado na crítica de Long, Long Time por não ter visto a obra-prima que alguns leitores encontraram, seja pela história bonita de Bill e Frank não me soar tão espetacular, seja pelo desvio narrativo de um episódio quase hermético que acabou me incomodando. E está tudo bem, a crítica está aí para criar divergências de opinião e debates, ainda que algumas pessoas continuem pensando que existem críticas “certas” ou “erradas” – curioso como o “errado” ocorre sempre quando o escritor tem uma interpretação diferente do leitor.

Mas isso não é um desabafo. Esse contexto que trago é, para mim, necessário pontuar porque Endure and Survive demonstra com muita qualidade como incorporar a história de personagens coadjuvantes com a trama principal sem parecer um filler. Estou falando, claro, da participação de Henry e Sam, dois membros do vasto elenco secundário do material original que deixam um grande impacto na história de Ellie e Joel.

Como vem se tornando padrão na série, o quinto episódio começa com um flashback, dedicando parte da minutagem do capítulo para desenvolver a relação dos irmãos que estão sendo perseguidos por Kathleen e seus soldados. Mesmo sendo um período de tempo comprimido se comparado com o núcleo de Bill e Frank, a produção faz um trabalho eficiente para criar empatia, simpatia e admiração pelos irmãos, novamente com muita sutileza em momentos superficialmente simples de personagens simplesmente conversando e se aproximando.

A sequência no túnel é muito emblemática nesse sentido. Apesar de inicialmente ter sentido uma leve decepção com a falta de urgência daquele bloco, é uma sequência importante para dedicar tempo para Henry, Sam, Ellie e Joel criarem laços. Os dois jovens podem ser crianças e inocentes por alguns momentos, enquanto os adultos compartilham suas dores e responsabilidades, com a direção mantendo a abordagem íntima que tem caracterizado a linguagem visual do seriado. Também gostaria de ressaltar a escolha da produção por tornar Sam surdo, pois essas pequenas singularidades, características de vulnerabilidade ou força e traços de personalidade são o que tornam personagens únicos e criam cenas memoráveis, como a maneira que Ellie e Sam se comunicam no quarto e a triste despedida da protagonista no desfecho do episódio.

São esse motivos que tornam a história de Henry e Sam tão mais potente para mim se comparado com Bill e Frank. Tem interação, dinâmica e conexão com os personagens principais que vão para além de uma carta ou uma rápida participação num flashback. O senso de incompletude e “vazio” que senti narrativamente com o belíssimo conto de Bill e Frank é substituído aqui por um sentimento completo com o desenvolvimento em conjunto com Ellie e Joel, de como eles se tornaram amigos e parceiros de viagem, de como o clímax trágico da história é visto pela face desesperada de Ellie, e de como esses irmãos viraram cicatrizes eternas para a personagem.

Essa potência dramática também vem pelo fato de Endure and Survive ser um episódio muito mais terrível e pessimista em sua discussão de moralidade, ambiguidade e antagonistas multifacetados. Os desenhos de Sam são praticamente irônicos e reveladores nesse sentido, de como ele enxerga Henry como um herói, enquanto para Kathleen (e ele mesmo), o personagem é um grande vilão – também é revelador como Ellie genuinamente pensa que pode salvar seu amigo. Do caos inicial até o caos final, o episódio é embebido dessas circunstâncias de debates morais, seja através de diálogos de arrependimento, vergonha e vingança, ou ações questionáveis em situações impossíveis (Joel matando o sniper, por exemplo). Nesse sentido, o desfecho terrivelmente cinzento não é apenas desmoralizador, é também necessário.

O núcleo de Kathleen e sua milícia resumida à esquadrão de vingança não captura minha atenção, porém. Até mesmo as cenas que tentam humanizar os personagens, como o monólogo na sequência do quarto, me parecem um tanto desnecessárias, apesar de entender o ponto ético/antiético de Druckmann e Mazin. Também acho que a produção peca um pouco no senso de periculosidade quando os personagens se movem por determinados locais, faltando um pouquinho de criatividade para criar tensão em deslocamentos e “missões”.

No entanto, a grande set piece com a chegada dos infectados tem muitas virtudes técnicas e narrativas. A câmera no chão visualizando a entrada de uma horda de monstros errantes pisando uns nos outros é desesperadora, com a direção de Jeremy Webb sendo bastante dinâmica ao transitar entre planos que passeiam pelo ataque pela perspectiva dos personagens, planos de uma certa distância que dão destaque ao caos completo e algumas cenas da perspectiva de Joel.

A montagem é estimulante nessas transições, com destaque para os momentos que Ellie vai para determinados pontos e Joel precisa acompanhá-la e protegê-la. A pontaria perfeita de Joel pode ser frustrante, até porque prefiro o retrato falível do personagem, mas não é um grande demérito de um bloco muito bem produzido em todas as frentes, dos efeitos especiais, efeitos práticos, direção, design de produção até a “coreografia” errática dos infectados, com destaque máximo para a sequência agoniante da garotinha se contorcendo no carro.

No fim, o núcleo que assistimos em Please Hold to My Hand e em Endure and Survive se torna uma trágica história com início, meio e fim, mas com um impacto dramático que será sentido por Joel e Ellie no restante das suas jornadas. Isto é tão interessante para mim, porque é uma das características que mais adoro neste material: tudo o que vimos se torna um “degrau” ou uma espécie de “parada” na trajetória dos protagonistas. Diferente de Bill e Frank, o conto de Henry e Sam não é sentido apenas pelo telespectador, mas por Ellie também. O relacionamento dos protagonistas é moldado pelos momentos banais que vimos no episódio anterior, mas também por esses traumas e aprendizados sobre resistir e sobreviver num mundo pós-apocalíptico. Afinal, o que chega mais perto de formar um relacionamento depois do amor senão a tragédia?

The Last of Us – 1X05: Endure and Survive (EUA – 10 de fevereiro de 2023)
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Jeremy Webb
Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Melanie Lynskey, Lamar Johnson, Keivonn Woodard
Duração: 59 min.

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