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Crítica | The Last of Us – 1X08: When We Are in Need

Falso profeta.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série.

Na crítica do primeiro episódio, falei sobre a importância de uma fundação do jogo de video-game: a complexidade moral do enredo. Durante a temporada até aqui, tivemos alguns vislumbres de dilemas éticos, com o principal destaque sendo o arco de Henry e Sam. Em When We Are in Need, podemos notar como Mazin quer explorar um pouco mais dessa abordagem do material de origem, especialmente no que tange à transformação de Ellie quando precisa ser a protetora de Joel enquanto acaba topando com um grupo de sobreviventes perigosos liderados por David (Scott Shepherd).

Nesse sentido, o molde narrativo com início, meio e fim deste arco do David pode ser considerada uma faca de dois gumes para a trama do seriado. Por um lado, há novamente um senso de falta de exploração do núcleo que estamos assistindo, principalmente no campo temático. Temos um amontoado de clichês de histórias pós-apocalípticas, com o culto religioso, o canibalismo e um líder que é obviamente um falso pregador, pedófilo e qualquer outra figurinha do mal, dentro de uma construção dramática limitada e superficial.

Noto isso na dificuldade do roteiro em articular críticas religiosas inteligentes ou de trabalhar o círculo interno daquela comunidade. Os diálogos têm algumas sacadinhas sobre doutrina e deturpação de crenças, bem como a narrativa tenta inserir algumas cenas do grupo, como fizeram com os rebeldes genéricos no início da temporada, mas não há substância o suficiente na história para tirá-la do lugar comum nesses momentos.

Por outro lado, continuo apreciando a abordagem de obstáculos da obra. O fato de termos muitos episódios fechados dão essa sensação de que estamos vendo partes da jornada de Ellie e Joel se transformando, se adequando e se aproximando de acordo com os eventos que superam, bem próximo da estrutura de muitos jogos. Nesse sentido, fica até mais fácil de comprar a certa superficialidade dos antagonistas e seus núcleos passageiros, já que a corrente de evolução é carregada pelos co-protagonistas, apesar de continuar preocupado com os problemas de construção de mundo e a apresentação de personagens coadjuvantes memoráveis.

Outro ponto positivo do episódio é seu foco na transformação de Ellie, nos mostrando os diferentes eventos traumáticos e as ações ambíguas que precisa fazer para sobreviver. É um arco batido em histórias apocalípticas que adoro quando bem feito. Entre tantos episódios pacientes e intimistas sobre a importância e a melancolia do que se perde no fim do mundo, é refrescante ter um capítulo que respira características brutais do survival, algo que não havíamos visto com tanta tensão no seriado desde o episódio que a Tess morre.

A busca de mantimentos, o desespero para encontrar remédios, a aflição e a dúvida de encontrar/confiar em outro ser humano, e toda a tensão que nasce desse tipo de cenário é muito bem trabalhada no episódio. Em alguns momentos sinto que o diretor Ali Abassi poderia até ter se aproveitado de mais elementos de terror ou até mesmo body horror – só tivemos aquela cena dos corpos na cabana de mais impacto visual -, mas acredito que o artista faz um ótimo trabalho na cadeira de diretor, mantendo uma linha de perigo e estresse ao longo da história.

Claro que o principal destaque é a cena final com a cabana pegando fogo, com toda uma construção cenográfica, momentos viscerais e belíssima fotografia, mas o clímax é resultado de um embate bem construído de dois personagens que ficaram se circulando no decorrer da história. Ainda que todos os acontecimentos sejam telegrafados e com muitos clichês, o roteiro de Mazin faz um trabalho bem composto no escalonamento dessa rivalidade, com destaque para a cena em que Ellie está enjaulada – adoro a linha de diálogo de David sobre o Cordyceps.

No fim, entre algumas superficialidades, arquétipos e previsibilidades, tivemos um ótimo episódio sobre sobrevivência e sobre a ambiguidade nos atos dos personagens nesse tipo de cenário, assim como a demonstração dos monstros que florescem num mundo destruído. O trabalho dramático não passa de um ensaio sobre o estudo da natureza humana, mas há envolvimento emocional e tensão suficiente para entregar uma hora de grande entretenimento e evolução para a personagem de Ellie, dessa vez assumindo o papel de Joel – sempre ótimo em suas pequenas participações. The Last of Us já nos mostrou muitas vezes o que precisamos preservar quando nada mais importa, mas When We Are in Need é mais um dos socos no estômago da audiência de que ninguém saíra moralmente intacto. Ellie que o diga.

The Last of Us – 1X08: When We Are in Need (EUA – 05 de março de 2023)
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Ali Abassi
Roteiro: Craig Mazin, Neil Druckmann
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Scott Shepherd
Duração: 55 min.

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