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Crítica | The Last of Us – 2X05: Sinta o Amor Dela

O segundo dia.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série e, aqui, de toda a franquia.

Quando vi o título desse episódio, já comecei a rir da recepção de algumas pessoas que estão reclamando do romance entre Ellie e Dina (eventualmente, descobrimos ao que o título verdadeiramente alude, mas aposto que parte da audiência nem fará a conexão). Não é querendo provocar, mas achei um tanto quanto exagerado o hate em redes sociais para o bloco no teatro. Opinião é opinião e considero até justo algumas críticas a alguns diálogos estranhos entre as duas, como coloquei na crítica de Dia Um, mas penso que é forçar a barra dizer que a cena sexual é deslocada, já que isso vinha sendo insinuado desde o início da temporada (e o êxtase do momento é completamente orgânico, até em linha com clichês sexuais de obras de ação/horror/aventura que sempre fizeram isso), e não concordo com essa ideia disseminada de que Ellie “parece não se importar com a morte de Joel“. Talvez seja a abordagem agressiva de obras de vingança encrustada no imaginário coletivo (influenciado pelo próprio segundo jogo), mas não penso que seja inorgânico Ellie ter momentos de leveza com um relacionamento em ebulição entremeio a situações de melancolia do luto (indicadas aqui de maneira simbólica sempre através do violão), ainda mais quando pensamos no salto temporal de três meses. Era perceptível que o roteiro de Craig Mazin queria desenvolver esse ímpeto sombrio de Ellie de maneira gradual, algo que se concretiza em Sinta o Amor Dela.

Até indo na contramão de muita gente, penso que a virada de chave de Ellie é abrupta. O desenvolvimento até a cena final com Nora (que abordarei mais à frente), parece atropelar um pouco os sentimentos da personagem, que vai rápido demais para a violenta Ellie que esperávamos, inclusive engolindo muitos blocos do segundo jogo quando pensamos no aspecto da adaptação. Podemos ver que Mazin dá uma dica dessa mudança de tom na personagem na cena que ela toca o violão pela segunda vez, o que até certo ponto faz sentido à medida que Ellie relembra suas memórias com Joel através da música e revive o ataque à Joel, principalmente quando ela vê Nora, mas estava gostando da paciência do roteiro em ir trazendo Ellie para o velho arco de se afogar na raiva da vingança sem sua típica agressividade logo de cara. De qualquer forma, Sinta o Amor Dela é um divisor de águas, trazendo repentinamente a Ellie que todo mundo parecia querer agora que a personagem mostra suas motivações egoístas quando decide abandonar Dina e Jesse e quando mostra sua facilidade em ser violenta ao atacar de maneira brutal a já quase morta Nora.

Rebobinando um pouco, o começo desse episódio reintroduz os esporos dos jogos na série, que foram removidos na primeira temporada. É uma “nova” adição que gosto, como se o fungo estivesse mutando e encontrando novas formas de infectar a humanidade, bem em linha com a mitologia da série, que retrata o Cordiceps com um tato maior de inteligência e de perigo coletivo do que nos jogos. O início aqui também segue desenvolvendo, ainda que em menor medida nesse capítulo, a luta entre as duas facções, mostrando um pouco mais da WLF e dos Serafitas. Mas o grande foco aqui é em Ellie e Dina, sem desvios narrativos com outros coadjuvantes. Novamente, sigo gostando do tratamento mais doce e de uma tristeza vaga que acompanha os momentos íntimos entre as personagens, com destaque, mais uma vez, para Isabela Merced, que segue, na minha visão, com uma destreza dramática e um carisma gostoso de assistir em maior nível do que Ellie, apesar de Bella Ramsey, como tenho frisado, manter um bom trabalho de maneira geral.

O roteiro segue atrapalhando a protagonista em interações específicas, retratando-a como um pavio curto com pouca sagacidade e como alguém que não pensa antes de agir. Entendo essa ideia dela ser reativa e impulsiva, mas o texto ainda enquadra ela como coadjuvante em determinadas cenas, sempre tomando bronca, tanto de Dina quanto de Jesse, que aparece para salvá-las. Tirando essas ressalvas com a caracterização da Ellie, gosto de todo o restante que é desenvolvido com a personagem, passando por seu romance bonito com Dina em algumas conversas reveladoras, outras simpáticas, e chegando no ato final do episódio, que dá pontapé para a derrocada moral e pessoal da personagem em sua jornada vingativa. Quando a ação começa, Ellie é mais proativa e, apesar do porte físico limitado de Bella, penso que a direção tem encontrado formas de transpassar suas habilidades sem nada soar inverossímil.

A direção de Stephen Williams é voltada para um horror em menor escala, deixando um pouco de lado o escopo de grandes set-pieces que vimos na semana anterior. Nesse sentido, gosto da construção em queima lenta das sequências de terror, sempre com insinuações visuais, uma calmaria falsamente enganosa na construção das cenas e uso de horror corporal, com destaque para o bloco contra os stalkers e a ao mesmo tempo bizarra e belíssima sequência no subsolo de Lakehill (a direção de arte aqui é fantástica). Na ação, Williams deixa um pouco a desejar, com o bloco na floresta contra os Serafistas e a perseguição de Nora com direções menos inspiradas e com mal uso dos espaços, apesar de ainda serem funcionais – também torci o nariz para a facilidade que Ellie se infiltra no local. Mesmo assim, Sinta o Amor Dela lembra o escalonamento intenso do episódio anterior, com um bloco sobrepondo ao outro no ritmo divertido da segunda metade do capítulo.

Apesar de alguns probleminhas a serem pontuados, mais de momentos específicos do que necessariamente no quadro geral do episódio, Sinta o Amor Dela é outro ótimo episódio dessa temporada, retratando apenas o segundo dia em Seattle – curioso como a narrativa tem um tom paciente, mas também condensa muitos elementos, às vezes até correndo em alguns blocos, como falei no início da crítica, para chegarmos rapidamente na cena final de Ellie. Com o tom vermelho encapsulando a sede de vingança da protagonista (um recurso óbvio, mas tonalmente eficiente), o momento violento e de tortura representa uma porta inevitável para a jornada sombria de Ellie, além de ser um degrau interessante para a atuação de Bella Ramsey que muitos parecem se esquecer: a atriz sabe interpretar personagens cruéis com muita qualidade. Antes de vermos mais dessa Ellie, agora com Jesse, Dina e Tommy (finalmente!) no entorno de tudo isso (e não esqueçamos da guerra das facções, que fica mais de rodapé aqui), o desfecho deixa o cheirinho de que semana que vem temos um episódio inteiro de flashback com a volta de Joel!

The Last of Us – 2X05: Sinta o Amor Dela (Feel Her Love) | EUA, 11 de maio de 2025
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Stephen Williams
Roteiro: Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced, Young Mazino, Rutina Wesley, Kaitlyn Dever, Robert John Burke, Spencer Lord, Tati Gabrielle, Ariela Barer, Danny Ramirez, Catherine O’Hara, Jeffrey Wright, Alanna Ubach
Duração: 45 min.

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