Home TVEpisódio Crítica | The Last of Us – 2X07: Convergência

Crítica | The Last of Us – 2X07: Convergência

Ponto de ruptura.

por Kevin Rick
39 views

  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos episódios da série e, aqui, de toda a franquia.

Penso que o título desse episódio é irônico para os problemas que vejo nele. Apesar de ser um final de temporada para convergir diferentes elementos narrativos, o capítulo de maneira geral é cheio de atropelos que decepcionam bastante, começando pela forma que o segmento de Jesse e Ellie é condensado em alguns poucos minutos, muitos dos quais envolvem mais diálogos de lições morais da protagonista tomando bronca – pelo menos dessa vez o roteiro lhe dá um trecho para revidar. É estranho a maneira como o texto tem lidado com o arco da personagem em relação a sua ineficiência e incompetência de lidar com certas situações, o que não só atrapalha ela em termos de carisma (dando combustível para os haters de Bella), como também na construção das cenas de ação. Não ajuda o fato de termos história suficiente para uns três episódios sendo marretada em uma hora que confirma o receio de um final de temporada corrido… mas estou me adiantando.

Rebobinando um pouco, até gosto do início do episódio no teatro. O drama de Ellie e Dina segue funcionando para mim, com destaque para a cena que a protagonista revela os atos de Joel em Salt Lake City. É uma adaptação bonita e melancólica para uma cena memorável do segundo jogo, com mudanças, claro, mas com o mesmo tom de meditação em culpa e certos questionamentos morais. O que temos aqui é puro suco do material original, abordando um drama íntimo com uma direção sensível e um pano de fundo sombrio, que começa a descascar com afinco a jornada da perda da inocência de Ellie e sua derrocada no ciclo de vingança (clichê, claro, mas tudo bem feito). O pequeno conflito com Jesse insinua o confronto que veríamos posteriormente e fiquei curioso para como seria a adaptação do bloco dos dois desbravando Seattle em busca de Tommy.

Infelizmente, porém, é aqui que os problemas de Convergência começam para mim. Vejo um grande potencial desperdiçado nesse recorte, com pouca exploração de Seattle, nenhuma set-piece de destaque e, mais uma vez, sem uso de infectados. O que poderia facilmente ser um episódio inteiro de Ellie e Jesse em busca de Tommy, se torna um pequeno bloco com pouquíssimos destaques. A mesma situação se repete em outros segmentos, com a sequência de Ellie no mar; o trecho na floresta que ela é capturada; o ataque à Mel e Owen no aquário (mais disso à frente); e a sequência final no teatro (também mais disso à frente). Entendo que o grupo de roteiristas queriam finalizar a temporada com a aparição de Abby, emulando o jogo para a segunda metade da narrativa, majoritariamente do ponto de vista da antagonista, mas estruturalmente faltou tato e organização para não deixar tudo para última hora. Só consigo racionalizar que foi um problema de orçamento, porque poderíamos facilmente ter tido dez episódios para a história ter sido desenvolvida a contento.

O atropelo dos blocos influenciam diretamente o investimento do público com os acontecimentos em tela. Não dá tempo de sentirmos a tensão de determinados momentos (a passagem por Seattle; o acidente com o barco; a captura dos Serafitas; etc), nem de nos envolvermos com a construção frágil desses núcleos. Falta escopo, falta a emulação de gameplay que foi tão bem feita antes na temporada, falta a participação de infectados, falta o desenvolvimento de alguns coadjuvantes e com certeza falta espaço para Ellie brilhar como uma protagonista de ação/aventura aqui (que, mais uma vez, não é culpa da Bella Ramsey, que segue sendo competente no que é oferecido à ela). Essa mistura de núcleos é algo que eu já tinha reclamado de maneira amena em Através do Vale, quando temos a junção da morte de Joel com o ataque à Jackson, mas que se mostra muito mais problemática nesse final de temporada.

Ainda considero o resultado final bom primeiro por conta do que foi estabelecido previamente, em uma temporada que, se não perfeita, tem grandes episódios e uma adaptação eficiente das melhores partes do segundo jogo e seus temas. Sinto até que a produção poderia ter mudado algumas coisas, principalmente a ausência da Abby nessa primeira metade da história, mas como meus textos não me deixam mentir, apreciei bastante a jornada até aqui. E também aprecio momentos específicos desse episódio. Mesmo com a correria, a sequência de Ellie matando Owen e Mel é perturbadora, com requintes de crueldade ainda maiores do que no jogo por conta da adição do diálogo entre a protagonista e uma mãe desesperada para salvar seu bebê. O teor sombrio dessa cena respinga diretamente na construção do arco de egoísmo e de vendetta da Ellie, fazendo um círculo completo com a cena final do teatro, também brutal assim como no jogo com a morte de Jesse e o retorno bombástico de Abby.

No entanto, a qualidade singular de determinadas cenas não elevam Convergência para o clímax que o segundo ano de The Last of Us merecia. A abordagem fragmentada desse capítulo atrapalha demais a percepção geral de todos esses núcleos, tanto em termos de desenvolvimento narrativo, quanto da direção dramática, que também soa corrida, sem dar tempo para a audiência repousar em algumas despedidas (a morte de Owen e Mel não ser um final de episódio em fade-out é algo completamente criminal). Fica um sabor de subutilização de cenários, de segmentos, de set-pieces e de personagens (alguém aí lembra do Isaac?), bem como de uma produção mal pensada em sua condensação em sete episódios que roubam da audiência o desenvolvimento completo dos diversos trechos que acompanhamos. Estava gostando tanto da temporada e queria muito que tivéssemos dez episódios (até um a mais faria bem à narrativa), mas é o que temos para hoje. Mesmo decepcionando, Convergência mantém o tom desse universo, tem alguns momentos dramáticos de destaque e deixa estabelecido o início do arco de Abby para a próxima temporada.

The Last of Us – 2X07: Convergência (Convergence) | EUA, 25 de maio de 2025
Criação: Craig Mazin, Neil Druckmann
Direção: Nina Lopez-Corrado
Roteiro: Neil Druckmann, Halley Gross, Craig Mazin
Elenco: Pedro Pascal, Bella Ramsey, Gabriel Luna, Isabela Merced, Young Mazino, Rutina Wesley, Kaitlyn Dever, Robert John Burke, Spencer Lord, Tati Gabrielle, Ariela Barer, Danny Ramirez, Catherine O’Hara, Jeffrey Wright
Duração: 61 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais