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Crítica | The Lost Stories – 1X08: The Macros

Uma história competente, mas que desperdiça o potencial de sua premissa.

por Rafael Lima
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Equipe: 6º Doutor, Peri
Espaço: USS Eldridge, Baia de San Francisco, Planeta Capron (Microverso)
Tempo: 1943

A atriz britânica Ingrid Pitt, conhecida por suas atuações em Desafio Das Águias (1968) e Carmilla: A Vampira de Karnstein (1970) sempre se declarou uma fã de Doctor Who, chegando a atuar em dois dos arcos de TV do programa, The Time Monster e Warriors From The Deep. Certa vez, a atriz leu um livro sobre o Projeto Filadélfia, um suposto experimento realizado pelo governo norte-americano em 28 de Outubro de 1943, onde o navio militar USS Eldridge teria ficado invisível ou até mesmo sido teletransportado após uma experiência com radiação eletromagnética. Pitt viu nessa lenda militar uma base perfeita para uma história de Doctor Who, e junto com o marido Tony Rudlin, escreveu um roteiro intitulado The Macro Men onde o 6º Doutor e Peri se viam lidando com o mistério do USS Eldridge. O texto foi submetido a avaliação para integrar a 23ª temporada de Doctor Who, e mesmo não tendo sido aprovado na época (mesmo porque essa temporada foi adiada por um hiato), acabou sendo escolhida pela Big Finish para encerrar a 1ª temporada da série The Lost Stories sob o título de The Macros.

Na trama, a TARDIS se materializa a bordo do navio USS Eldridge, para a surpresa do 6º Doutor, que tentava levar Peri de volta a Baltimore para que ela explicasse para a família o que tem feito desde que deixou o padrasto Howard em Planet Of Fire. Mas logo, o Doutor percebe que a embarcação está presa entre duas dimensões, e que os tripulantes estão presos em um Loop temporal, que atraiu a TARDIS para aquele lugar, e agora não permite que ela parta. Tentando resolver o problema, o Doutor e Peri acabam indo parar no Planeta Capron, localizado em um microverso à parte, cujo governo tirânico está diretamente envolvido com os problemas enfrentados pelo USS Eldridge.

Em seu bloco inicial, The Macros traz um mistério instigante, ao trazer a dupla da TARDIS tentando entender a situação em que se meteu. Nesse sentido, eu gosto de como o roteiro constrói com calma o mistério em torno do navio, apresentando os seus elementos aos poucos; assim criando um cenário tenso, que é descontraído pelos diálogos entre Peri e o Doutor, com Colin Baker e Nicola Bryant mais uma vez entregando uma química ímpar. O design de som nestes trechos iniciais também é digno de nota, criando um ambiente lúgubre e claustrofóbico. A forma como o conceito do loop temporal que prendeu os tripulantes da embarcação é construído é bem pensado, com os viajantes do tempo vendo os marinheiros quase como fantasmas, basicamente uma gravação repetida do passado, como explica o Time Lord.

Mas a atmosfera de mistério se perde quando o Planeta Capron entra em jogo. O conceito de que esse mundo está em um microverso onde o tempo passa mais rápido que no nosso; o que afeta os que vão de um planeta para outro é interessante. Entretanto, o cenário da monarca cruel que usurpa o trono do legítimo herdeiro, dinâmica representada pela vilã Osloo, e pelo seu enteado Ezz, já foi usado algumas vezes na série de maneira mais carismática. Quando a trama se concentra na ameaça da Presidente Osloo, (que tem sugado a energia do Experimento Filadélfia para o seu mundo, e agora quer invadir o nosso) o charme conspiratório do terço inicial dá lugar a uma aventura mais convencional de invasão e derrubada de ditadura, que é divertida, mas não tão interessante.

Com isso, não quero dizer que The Macros seja ruim. O roteiro traz ótimos momentos, como o hilário primeiro encontro entre Peri e Osloo, e o Cliffhanger que fecha a primeira parte, que vê a Companion começar a envelhecer de modo perigosamente acelerado. Outro elogio que deve ser feito aos roteiristas é como eles exploram os melhores aspectos deste time da TARDIS, tanto nas picuinhas entre a dupla, quanto na confiança e afeto que eles têm um pelo outro. O fato de a trama trazer cenários e situações familiares para o universo de Doctor Who também não é um problema por si só, visto que a Big Finish já apresentou várias histórias que até podiam soar derivativas em algum ponto, mas que se destacavam por trazer personagens coadjuvantes que davam um molho a mais para esses plots, o que mesmo com os seus acertos, não acontece em The Macros.

Mas como dito antes, um dos motivos para ouvir esse áudio drama são as excelentes trocas entre o Doutor e Peri, dando a oportunidade para Colin Baker e Nicola Bryant fazerem a sua química brilhar. E se sempre dizem o quanto os roteiros da TV não valorizaram o 6º Doutor de Baker, e como a Big Finish remediou isso mostrando o potencial do ator e de seu personagem; muitos se esquecem de dizer que o mesmo vale para a Peri Brown de Bryant. O roteiro de Pitt e Rudlin parece reconhecer que a jovem americana está longe de ser a Companion mais corajosa a pisar na TARDIS, mas que isso também nunca a impediu de superar os próprios medos. Assim, o texto não só valoriza a bravura insuspeita da moça, como também explora o potencial cômico que certas situações oferecem para ela, vide a cena em que Peri é obrigada a se disfarçar como uma cantora de ópera, permitindo que Nicola Bryant exercite uma veia cômica que até podia ser percebida na série de TV, mas que raramente ganhava a chance de ser demonstrada.

Ainda que esteja bem longe de ser um encerramento brilhante para esta primeira temporada da série Lost Stories, The Macros ainda é uma história divertida, e que é especialmente bem sucedida na forma com que trabalha a dupla protagonista. Por outro lado, a escolha por abandonar a atmosfera enigmática do terço inicial, e usar a lenda do Experimento Filadélfia meramente como trampolim para uma trama derivativa sem personagens secundários realmente cativantes impede que The Macros alcance o seu potencial pleno.

The Lost Stories. 1×08: The Macros (Reino Unido, Junho de 2010)
Direção: John Ainsworth
Roteiro: Ingrid Pitt, Tony Rudlin
Elenco: Colin Baker, Nicola Bryant, Linda Marlowe, Jack Galagher, Rachael Elizabeth, Vincent Pirillo, Stewart Alexander, Paul David-Gough, Matt Addis
Duração: 100 Minutos

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