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Crítica | The Mandalorian – 3X02: The Mines of Mandalore

Mitologia rasa.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

O mais curioso de The Mines of Mandalore não é que ele oferece o primeiro vislumbre da superfície de Mandalore aos espectadores, os trolls (ok, alamitas) que atacam Din Djarin, ou o ciborgue primo do General Grievous que captura Mando para tirar seu sangue(???) ou até mesmo o gigantesco e mítico mitossauro que mais do que previsivelmente aparece no final, mas sim o fato de o episódio basicamente tornar o anterior, The Apostate, uma completa inutilidade que só parece existir mesmo para ser um “primeiro episódio de temporada”. Afinal, toda a ginástica que vimos lá girava em torno da tentativa de recuperação de IG-11, mas se o objetivo do mandaloriano era apenas fazer do androide um medidor de qualidade de ar, algo que qualquer sonda vagabunda poderia fazer (incluindo aí o coitado do eternamente quebrado R5-D4), fica evidente que tudo não passou de uma enrolação safada de Jon Favreau.

E o pior é que, ao que tudo indica, ninguém nunca mandou uma sonda para Mandalore para saber se o ar de lá era respirável, o que é um indicativo muito evidente de que essa mitologia toda que o showrunner está tentando criar ao redor dos sujeitos que não tiram os capacetes sei-lá-o-porquê não me parece muito sólida ou interessante o suficiente para segurar uma temporada inteira. Se Favreau investisse nisso sem depender de diálogos dolorosamente expositivos da Armeira para Mando na temporada 2.5 ou de Bo-Katan como O Pensador, de Rodin, solitária no trono (que só faltou ser feito de espadas derretidas) e fazendo caras e bocas toda vez que alguém fala com ela, talvez ele conseguisse erigir algo que ficasse de pé sozinho. Mas não. Ele vem preferindo o caminho mais básico, mais… burrinho… para criar um novo arco narrativo baseado em fé cega do protagonista e na fofura de um personagem que simplesmente não precisava estar lá (e não, Grogu ainda não mostrou a que veio, apesar de ele ter salvado seu pai, o que poderia ter sido feito de outro modo, claro).

Aliás, falando em caminho mais fácil, um leitor previu, em comentários de minha crítica anterior, que alguma hora Mando voltaria para Tatooine e eu confesso que ri muito – de nervoso e de irritação – quando toda a sequência inicial foi justamente lá, no planeta desértico, com a 171 Peli Motto (Amy Sedaris) empurrando R5-D4 para o protagonista, com direito até mesmo a uma modificação em sua patética nave nova. Ver Tatooine tão cedo assim na temporada é outro indicativo de que Favreau está apenas surfando no sucesso desmedido – mas merecido – de The Mandalorian, esquecendo-se, como outros vários leitores apontaram, que Tony Gilroy acabou de mostrar, com Andor, o que Star Wars realmente pode ser na televisão. Eu mesmo disse que não faria comparações com a outra série desse universo estrelada por um latino-americano, mas não tem jeito e, mesmo achando que há espaço para tudo, fica evidente que The Mandalorian, especialmente agora, tornou-se uma sombra do que era e vem desperdiçando o enorme potencial que tinha em um arco pós-Grogu.

E olha que The Mines of Mandalore até faz um esforço para ser diferente, com uma pegada de filme de horror e pitadas lovecraftianas com o bichão submarino ao final – estaríamos diante de algo semelhante a Game of Thrones, com Mando destinado a gritar dracaris enquanto cavalga o mitossauro? -, mas o episódio consegue a proeza de ser cansativo, com sequências repetidas, primeiro vividas por Din Djarin, depois por Bo-Katan, em uma abordagem requentada que simplesmente tinha que ter sido evitada. Aliás, não fosse a necessidade de se justificar a existência do sapinho verde, tudo poderia ser mais dinâmico logo de início, com a dupla mandaloriana partindo junta para o planeta e enfrentando todos os desafios simultaneamente e não sucessivamente. E sem o início em Tatooine, obviamente, pois aquilo lá só existe em razão do famigerado fan service (sim, falo do androide) e da necessidade patológica de Favreau de usar todos os personagens introduzidos anteriormente, inclusive os mortos (ou desativados, como queiram). O próximo passo é o fantasma azul de Kuill aparecer para guiar Mando em seu fanatismo idiotizante…

Pelo menos Katee Sackhoff teve bons momentos de pancadaria, salvando Mando o que pareceu ser pelo menos umas 12 vezes, com a atriz, apesar de não ter conseguido abandonar sua pose de Starbuck, funcionando bem como uma realeza entediada que faz o que faz com toda a facilidade do mundo. Por outro lado, o que realmente não funciona e já passou dos limites do suportável é todo mundo dizer o que está fazendo e pensando para Grogu que finalmente encontrou sua função: ser uma desculpa para o roteiro explicar em vez de mostrar. Seria mais orgânico usar aqueles balões de pensamento dos quadrinhos.

The Mines of Mandalore parece ser mais do que é, mas, na verdade, é apenas outro exemplo de que Favreau não sabe muito bem o que fazer com seu personagem. Se o objetivo é investir pesado na mitologia dos mandalorianos, usando o passado para informar o futuro, seria bom se no mínimo dos mínimos sentíssemos o peso da história ancestral sendo contada, sem que fosse necessário ler placas comemorativas na beira de um lago subterrâneo. Talvez muita gente fique satisfeita meramente vendo o mitossauro no final, mas a história recente de séries de TV mostra que ter dragões mitológicos aparecendo de surpresa não é exatamente o caminho…

The Mandalorian – 3X02: The Mines of Mandalore (EUA, 08 de março de 2023)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Rachel Morrison
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Pedro Pascal, Katee Sackhoff, Amy Sedaris
Duração: 44 min.

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