- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.
Em sua estrutura básica – uma missão paralela contra o que sobrou do Império como um desvio da missão principal de Mando – The Siege é absolutamente idêntico a The Heiress e também a outros episódios da série que, convenhamos, segue esse padrão desde o começo. No entanto, mesmo que o capítulo imediatamente anterior tenha tido o atrativo de introduzir Bo-Katan em sua versão live-action, The Siege consegue alcançar o equilíbrio perfeito entre pancadaria e história, extraindo o máximo possível de sua duração acanhada.
Não há quase nada a falar sobre o roteiro de Jon Favreau aqui. Ele é básico até não poder mais, mas por isso mesmo muito eficiente e, mais do que isso, recompensador. Mando acha que não vai conseguir chegar a seu destino com a Razor Crest no estado em que se encontra – especialmente depois de ter a brilhante (e hilária) ideia de transformar o Baby Yoda em mecânico – e resolve visitar Greef Carga e Cara Dune em Nevarro para consertar sua nave. Como a presença do mandaloriano sempre exige que ele basicamente faça algum favor para obter o que quer, Carga e Dune não têm nenhum vergonha de pedir que ele os ajude a destruir o que parece ser uma antiga base abandonada do Império em um desfiladeiro.
O que segue daí é o melhor tipo de ação que Star Wars tem a oferecer: pancadaria com tiros laser sendo trocados entre os mocinhos e uma aparentemente inesgotável quantidade de Stormtroopers, uso generoso do jato portátil de Mando, perseguições com speeder bikes e TIE Fighters e a volta do alívio cômico Mythrol, o humanoide anfíbio que Mando congelara em carbonita no episódio inaugural da série. Mais uma vez, o que The Mandalorian faz em termos de design de produção, direção de arte, efeitos especiais tanto em computação gráfica como práticos, engenharia sonora e fotografia não deixa absolutamente nada a dever aos filmes da Trilogia Original e aos melhores sci-fis no estilo “mundo vivido” que temos por aí. Carl Weathers, que já tem uma razoável experiência na direção de episódios de TV, parece estar literalmente em seu meio também atrás das câmeras aqui pela primeira vez na série, trabalhando com uma decupagem cuidadosa que sabe usar o tempo a favor da história sendo contada, sem nenhum segundo a mais ou a menos nas extraordinariamente variadas sequências de ação.
Mas o melhor é que a pancadaria não existe no vácuo, não é algo que está ali somente para embelezar ou para fazer o queixo do espectador cair mais uma vez sem objetivos maiores. O roteiro de Favreau tem a preocupação de efetivamente impulsionar a história principal e de expandir mundos, algo que começa de verdade quando os invasores da base se deparam com o que parece ser um experimento que objetiva criar soldados clonados que tenham comando da Força (a contagem de “M” me deu calafrios por me lembrar de uma certa trilogia, mas o que fazer, não é?), mas não para por aí. Inteligentemente, de forma a não interromper desnecessariamente a ação e fazendo algo que eu sinceramente acho que deveria ser feito mais vezes, o showrunner usa o epílogo para ampliar significativamente a história. Não só somos relembrados que Cara Dune é alderaaniana, como ela é convidada a voltar a reunir-se à Nova República pelo capitão Carson Teva que mais uma vez dá as caras na série como policial espacial. E, claro, finalmente vemos Moff Gideon, em carne e osso, em uma sala que parece repleta de troopers de armadura preta com design que, creio, não vimos ainda, apontando para uma nova tropa de elite ou, talvez, para protótipos de seus soldados manipuladores da Força (Force Troopers?).
O que fica perfeitamente claro em The Siege é que os planos para a série parecem ser de médio a longo prazo. Apesar de cada capítulo individual dar a impressão de que tudo é simples e que a estrutura básica é de “aventura da semana”, se pensarmos em retrospecto veremos que não é bem assim e que cada novo episódio – ok, não todos, mas quase todos – traz uma informação nova, uma peça nova a ser encaixada no que cada vez mais parece ser um quebra-cabeças multifacetado com diversas linhas narrativas nesse universo pós-Império. Parafraseando um certo cafajeste contrabandista, “eu tenho um bom pressentimento sobre isso”!
P.s.: Para não dizer que nada me incomodou nesse episódio, fiquei cabreiro com a velocidade com que a Razor Crest foi consertada. Isso é Star Wars, não Star Trek! Mas tudo bem, aceitemos a conveniência pelo bem de Mando e também o meu, pois ver aquela nave toda quebrada estava me dando dor no coração…
The Mandalorian – Chapter 12: The Siege (EUA, 20 de novembro de 2020)
Showrunner: Jon Favreau
Direção: Carl Weathers
Roteiro: Jon Favreau
Elenco: Pedro Pascal, Gina Carano, Carl Weathers, Horatio Sanz, Omid Abtahi, Giancarlo Esposito, Ryan Powers, Daniel Negrete, Morgan Benoit, Paul Sun-Hyung Lee, Katy O’Brian
Duração: 40 min.