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Crítica | The Morning Show – 2X04: Kill the Fatted Calf

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas da série.

Sabem aquela citação de Tolkien que todo mundo usa na linha de “manteiga espalhada em um pão grande”? Pois bem, foi isso que senti aqui em Kill the Fatted Calf e esse é um sentimento que se repete, na verdade, lembrando-me muito fortemente do decepcionante episódio de abertura da 2ª temporada. Se My Least Favorite Year tinha pelo menos a desculpa de ser o começo de um novo ano, agora não dá para aceitar essa desculpa e é muito estranho como o roteiro de Ali Vingiano e Scott Troy dilui o foco dado naturalmente a Alex e Bradley para quase que tergiversar, evitando mergulhar de verdade no que deveria ser a abordagem natural da temporada, ou seja, a continuação da história da primeira.

Peguem David, por exemplo. Ele voltou da China depois de fazer quarentena em razão da COVID-19, mas sua reentrada na série, por assim dizer, não teve relação alguma com o começo da pandemia, mas sim com o racismo sistêmico que o impede de ascender na UBA. Esse assunto é então combinado com o mesmo racismo sistêmico afetando Mia, a quem ele pede que interceda em seu favor perante Stella que, por sua vez, não muito tempo depois, discute de maneira aguerrida exatamente o mesmo assunto – mas menos diretamente – com Cory. Paralelamente, há a apropriação cultural feita por Yanko quando reportou o Dia da Marmota, que o leva a discutir com Mia e Stella e, depois, muito a contragosto, pedir uma meia desculpa no ar.

E não é que os assuntos levantados não sejam importantes. Eles são. E merecem ser levantados e discutidos e desenvolvidos. Mas o que o roteiro fez aqui foi despejar pautas que ganharam linhas de diálogo com frases de efeito para papagaio repetir sem nenhuma tentativa de aprofundamento, até porque não há espaço para tanta coisa ganhar o nível de detalhamento que precisa, especialmente considerando – e aí eu estou sendo um papagaio! – que a questão do #metoo ainda não acabou. Parece-me que a temporada está querendo morder mais do que pode mastigar e engolir, fazendo com que a comida seja descartada muito rapidamente e tudo fique com o mesmo gosto. Afinal, quando há muito de alguma coisa, é natural que simplesmente ou passemos a não dar o valor devido a determinada questão ou a tratá-la de maneira perfunctória, na base do “claro, entendi”.

Em meio a esse tiroteio todo, ainda há a questão da sexualidade de Bradley e sua recusa em aceitar quem ela é e em usar isso a seu favor como fortemente sugerido por Laura. Confesso que não esperava que a série fosse abordar essa questão, mesmo com o beijo entre as duas no episódio anterior, mas já que abordou e já que é um assunto diretamente atinente à Bradley, teria sido realmente interessante se o roteiro tivesse parado para dar mais tempo a ela, a Laura e ao momento de Bradley com Stella, em que ela acaba não conseguindo sequer por a ponta do pé para fora do armário.

E olha que eu sequer abordei o jogo de intrigas envolvendo Cory e a reveladora conversa – sobre sua verdadeira personalidade – que ele tem com Cybil ao final ou mesmo a relação de Mitch com Paola na Itália e o cliffhanger sobre a pandemia e a conexão dele com Fred e Cory ganhando contornos realmente horrorosos e até mesmo a insegurança de Chip quando ouve de Alex que Stella não o queria de volta. Entenderam meu ponto? O problema está justamente no que falei antes: é coisa demais para que o espectador seja realmente capaz de dar valor a cada assunto sendo tratado, a cada núcleo narrativo sendo abordado, com tudo acabando muito corrido e dando uma impressão fragmentária ao episódio como um todo quase como se ele fosse um daqueles programas de comédia compostos de uma sucessão de esquetes.

The Morning Show, já se aproximando da metade da temporada, ainda não encontrou seu rumo e nem de longe se aproxima do brilhantismo da temporada inaugural, o que inegavelmente é um enorme desperdício de potencial. Mesmo com os dois episódios anteriores de certa forma recuperando o tempo perdido, eles não alcançaram aquele ponto em que o espectador sente que “agora vai”, quase que como o momento em que os comissários de bordo avisam que o avião chegou à velocidade de cruzeiro e que os passageiros podem circular na cabine. A série precisa retornar ao seu trilho e esse trilho precisa ser a continuidade lógica do que veio antes, lá atrás, em 2019. Agora que a pandemia está chegando a galope nesse universo “atrasado”, fico com ainda mais receio que os tratamentos rasos de assuntos importantes seja completamente atropelados pela progressão da doença.

The Morning Show – 2X04: Kill the Fatted Calf (EUA – 08 de outubro de 2021)
Criação: Jay Carson (baseado em obra de Brian Stelter)
Desenvolvimento: Kerry Ehrin
Direção: Jessica Yu
Roteiro: Ali Vingiano, Scott Troy
Elenco: Jennifer Aniston, Reese Witherspoon, Billy Crudup, Mark Duplass, Néstor Carbonell, Karen Pittman, Greta Lee, Desean Terry, Hasan Minhaj, Steve Carell, Valeria Golino, Holland Taylor, Tom Irwin, Will Arnett, Patrick Fabian, Julianna Margulies
Duração: 58 min.

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