Home FilmesCríticas Crítica | The Munsters (2022)

Crítica | The Munsters (2022)

Como não renovar uma franquia para um novo público.

por Roberto Honorato
1,8K views

Os sinais de que o retorno de Os Monstros seria, no mínimo, preocupante, estava indicado logo no primeiro trailer oficial, que causou confusão entre os fãs da série original da década de 1960, e quem acompanha o trabalho do diretor Rob Zombie, que decidiu seguir por uma linha completamente diferente do seu costume, considerando que dirigiu filmes como Rejeitados pelo Diabo e sua controversa contribuição para a franquia Halloween. Caso você não tenha assistido às obras dele, apenas os títulos que mencionei são o suficiente para deixar o público confuso com a decisão de Zombie em adaptar uma série de comédia familiar clássica sobre uma família de monstros vivendo no subúrbio.

Zombie é fã assumido da série original, e dá para ver que sua versão é um projeto pessoal feito com muito carinho, mas a intenção não é suficiente para esconder todos os problemas do longa. The Munsters funciona como uma prequela, contando a história da família se mudando para sua nova casa, e a lua de mel de Lily e Herman, explicando a ausência de personagens recorrentes como Eddie, o filho do casal. E por ser um trabalho de paixão do diretor, não faltam participações especiais e referências à série original, ou outras figuras importantes para o universo do horror, como a atriz Cassandra Peterson, mais conhecida por seu papel de Elvira, fazendo uma ponta como corretora de imóveis (mesmo com uma péssima maquiagem e prótese no rosto, Peterson é sempre reconhecível). Também há referências aos filmes de Zombie, com crianças usando máscaras de alguns de seus personagens e cenas com uma direção parecida.

Contudo, como disse antes, é uma pena toda essa fidelidade ao original e paixão pelo projeto não seja suficiente para entregar uma obra que funcione para conquistar um novo público, por conta de efeitos visuais fracos, atuações forçadas, ritmo inconsistente e uma direção de arte confusa, carregada de um filtro verde que, na cabeça de Zombie serve para deixar tudo mais animado e cartunesco, mas acaba evidenciando a maquiagem mal feita de alguns personagens, esses que até tem seu charme, mas talvez seja mais mérito da memória que temos das personagens clássicas, já que as atuações não são das melhores.

Salva-se Daniel Roebuck, o vovô (o Conde “Drácula”), se entregando ao papel, sem pretensões de emular o original, o que o destaca do resto do elenco, que parece estar tentando capturar cada trejeito de seus personagens na TV, principalmente Sheri Moon Zombie e sua Lily sem carisma, ou o Herman de Jeff Daniel Phillips, ótimo em imitar a comédia física de Fred Gwynne, mas sem o mesmo timing cômico. Todos parecem caricatos, e não da forma divertida que você imagina, porque ao invés de explorar esse lado mais camp com um pouco de humor autorreferencial ou atualizado, The Munsters tem mais interesse em capturar o ritmo e tom da série de 60, embora seja incapaz de compreender a agilidade dos diálogos sarcásticos e a importância da comédia física, ficando assim com algo que parece uma versão mais infantilizada da família Monstro, o tipo feio de caricatura.

Por falar nisso, o ritmo é afetado pelo formato da obra, que parece mais uma coleção de esquetes que foram conectadas para criar uma linha cronológica, mas sem muita preocupação em manter uma continuidade ou temas que fortaleçam a história, parece apenas um amontoado de ideias que Zombie queria muito realizar, mas não sabia como transformar em uma narrativa coesa e consistente. Uma pena ver como há uma enorme oportunidade perdida quando assistimos o segmento final, feito para homenagear a abertura da série original, feita inteiramente em preto e branco, e ela funciona bem, escondendo melhor as imperfeições da maquiagem e nos livrando do assombroso trabalho de iluminação que, convenhamos, é a piada mais sem graça do filme.

The Munsters é bem-intencionado e pode chegar a agradar quem procura uma homenagem honesta e apaixonada da série original, mas sem poucos méritos próprios, com atuações e piadas sem graça, uma narrativa bagunçada e a direção inconsistente de Rob Zombie, que estava claramente se divertindo fazendo esse filme, mas esqueceu que o resultado vai parar em um público que não é obrigado a compensar cada elemento fraco do filme por conta da boa vontade do diretor.

The Munsters – EUA, 27 de setembro de 2022
Direção: Rob Zombie
Roteiro: Rob Zombie
Elenco: Cassandra Peterson, Jeff Daniel Phillips, Daniel Roebuck, Sheri Moon Zombie, Eddie Parker, Richard Blake, Jorge Garcia, Sylvester McCoy, Catherine Schell, Thomas Boykin, Jeremy Wheeler, Roderick Hill, Butch Patrick
Duração: 109 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais