Home TVTemporadasCrítica | The Newsroom – 1ª Temporada

Crítica | The Newsroom – 1ª Temporada

O jornalismo ideal.

por Kevin Rick
2,7K views

Quando estreou em 2012, The Newsroom já carregava o peso de vir da mente de Aaron Sorkin, roteirista celebrado por obras como The West Wing e A Rede Social. Mas se nessas produções a verve idealista de Sorkin se mesclava a estruturas narrativas mais firmes e menos autocentradas, aqui ele decidiu assumir frontalmente a utopia jornalística: um grupo de profissionais da notícia que tenta “fazer o jornalismo certo”, em oposição ao espetáculo barato que dominava (e ainda domina) a televisão americana. A primeira temporada, revisitada hoje, é um retrato das ilusões e contradições de uma era recente, ao mesmo tempo fascinante e problemática.

Formalmente, a série é um drama televisivo clássico, mas que ganha camadas singulares com a assinatura de Sorkin como roteirista e de um grupo de diretores que segue sua visão. A câmera raramente repousa: planos-sequência ágeis, diálogos em metralhadora, corredores percorridos em walk and talk. O ritmo é eletrizante, mas também sufocante e em alguns momentos cansativo, exigindo do espectador a atenção total ao ponto de alguns episódios parecerem verdadeiras maratonas de discurso. A cada capítulo, Sorkin ancora sua ficção em eventos reais, reconstruindo momentos-chave do noticiário norte-americano de 2010 a 2011: o desastre da BP, a lei anti-imigração no Arizona, a queda de Mubarak no Egito, o desastre nuclear de Fukushima, a morte de Bin Laden, entre outros. Essa estratégia dá à temporada uma espinha dorsal de relevância histórica. Porém, há uma pequena contradição embutida: ao revisitar esses fatos com a vantagem da retrospectiva, a série transforma os jornalistas em “visionários” que sempre chegam antes e que sempre têm as fontes certas. Essa manipulação soa conveniente em alguns momentos, mas nada que comprometa tanto a narrativa.

No centro, temos Will McAvoy (Jeff Daniels, magnífico), âncora veterano que no discurso de abertura, em uma das cenas mais memoráveis da TV recente, rasga a fantasia patriótica e proclama que os Estados Unidos “não são mais o melhor país do mundo” (ele mente ao dizer que já foram, mas tudo bem). Esse gesto inaugura sua jornada: sair da zona de conforto, resistir às pressões comerciais e corporativas e tentar construir, junto com MacKenzie McHale (Emily Mortimer), um telejornal que informe de verdade. Os personagens orbitam em torno desse idealismo. Charlie Skinner (Sam Waterston) encarna a velha guarda que ainda acredita na ética jornalística; Sloan Sabbith (Olivia Munn) traz o frescor de uma analista econômica inteligente e subestimada; Jim Harper (John Gallagher Jr.) e Maggie Jordan (Alison Pill) representam tanto a energia quanto as inseguranças da nova geração. Entre essas figuras, o roteiro às vezes desliza para o melodrama excessivo, com romances cruzados, ciúmes e crises pessoais, mas de maneira geral Sorkin faz um trabalho competente com o desenvolvimento dos personagens principais.

O primeiro episódio, centrado no desastre da BP, já mostra o tom: a sala de redação transformada em campo de batalha, o tempo real servindo de combustível para a dramaturgia. É o capítulo que mais se aproxima da proposta de “recriar o jornalismo com adrenalina”, e funciona como cartão de visitas. Mais à frente, a cobertura da queda de Mubarak e o anúncio da morte de Bin Laden demonstram o poder da série em ressignificar momentos recentes e em realçar o trabalho jornalístico, mesmo que com possíveis licenças poéticas e exageros. Já o episódio final do ano de estreia, The Greater Fool, sintetiza a ambição de Sorkin: o “tolo maior” é aquele que acredita poder mudar o mundo quando todos já desistiram. É uma metáfora transparente para o McAvoy e, em última instância, para o próprio criador da série. Nesse grande eixo temático da temporada sobre o embate entre jornalismo como serviço público e jornalismo como mercadoria, Will e sua equipe se recusam a seguir tabloides, pagam o preço com a queda de audiência e enfrentam pressões corporativas de Leona (Jane Fonda, muito bem, apesar de participação curta) e Reese (Chris Messina). A cada episódio, a série insiste que “a verdade importa mais do que os números” e dialoga sobre a relação cada vez mais ambígua entre mídia e poder político. 

Em retrospecto, é impossível não notar como The Newsroom antecipou debates que hoje dominam o jornalismo: fake news, bolhas de informação e a captura do discurso pela lógica empresarial. Ainda que Sorkin construa um universo onde os jornalistas são quase sempre heróis, a possível superioridade moral nunca se torna maçante. A produção consegue transformar a rotina de uma redação em espetáculo televisivo eletrizante, conduzido por atores em estado de graça e por uma narrativa que dramatiza a ética jornalística em tempos de cinismo midiático e que mostra o poder da informação. Mesmo que relativamente utópico (uma constatação triste), é bom ver a essência do bom jornalismo em tela.

The Newsroom – 1ª Temporada | EUA, 2012
Criação e desenvolvimento: Aaron Sorkin
Direção: Greg Mottola, Alex Graves, Alan Poul, Daniel Minahan, Jeremy Podeswa, Joshua Marston, Lesli Linka Glatter
Roteiro: Aaron Sorkin, Gideon Yago
Elenco: Jeff Daniels, Emily Mortimer, John Gallagher Jr., Alison Pill, Thomas Sadoski, Dev Patel, Olivia Munn, Sam Waterston, Jane Fonda, Chris Chalk, Chris Messina, Terry Crews, Kelen Coleman, David Harbour, Jon Tenney, David Krumholtz, Hope Davis, Stephen McKinley Henderson, Natalie Morales, Paul Schneider, Alison Becker
Duração: 589 min. (10 episódios)

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais