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Crítica | The Newsroom – 2ª Temporada

O colapso da redação.

por Kevin Rick
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Quando Aaron Sorkin decidiu prolongar The Newsroom para um segundo ano, a série já tinha encontrado sua identidade: o idealismo jornalístico colocado em rota de colisão com a lógica comercial da televisão. Mas, em vez de repetir a fórmula da primeira temporada, com eventos reais revisitados, o novo ano tenta algo mais ousado: construir uma grande narrativa centralizada no erro. O arco da Operação Genoa, inspirado em um caso real dos anos 90, coloca a equipe de Will McAvoy diante de sua própria falibilidade, desmontando a aura de “visionários perfeitos” que marcou a estreia. A ambição é louvável, pois não apenas mostra como se faz jornalismo, mas também como se erra, como se falha e como se lida com as consequências.

A estrutura narrativa, dividida entre o presente de um depoimento jurídico e o passado da cobertura que leva ao fiasco, é um recurso engenhoso. Marcia Gay Harden, como a advogada Rebecca Halliday, conduz as entrevistas com a serenidade que contrasta com o caos interno dos jornalistas, e essa moldura funciona como constante lembrete de que o castelo de cartas vai ruir. O espectador acompanha cada passo da investigação sobre Genoa já sabendo que ela é falsa, e esse suspense invertido é um dos maiores acertos da temporada: não importa “se” a bomba vai explodir, mas “como” todos deixarão passar os sinais de alerta.

Ao mesmo tempo, Sorkin continua sendo Sorkin: a temporada é repleta de diálogos afiados, discursos moralizantes e personagens que parecem sempre ter a frase perfeita na ponta da língua. Às vezes soa artificial, mas de maneira geral segue sendo uma narrativa muito bem escrita, até porque o arco de Genoa consegue trazer a série para um terreno mais autocrítico, desmontando a mitologia de jornalistas infalíveis e abrindo espaço para que cada personagem revele suas vulnerabilidades.

Maggie, por exemplo, ganha um arco traumático, com sua viagem à África resultando na morte de uma criança e na corrosão de sua saúde mental, com Alison Pill oferecendo uma das melhores atuações da temporada. Jim, por sua vez, se afasta do núcleo central ao embarcar na campanha de Mitt Romney, mas esse afastamento funciona como comentário sobre a complacência da imprensa política, em um núcleo que agrega à temporada. Sloan também tem bons momentos, sobretudo quando confronta um ex-namorado que vaza fotos íntimas dela, episódio que expande a personagem para além da função de analista econômica brilhante, mas frequentemente invisibilizada. Will e Mac seguem no seu morde e assopra padrão.

Mas é a engrenagem central do ano com a queda causada por Genoa que confere unidade dramática rara em séries de Sorkin. A edição manipulada por Jerry Dantana, a pressão por exclusividade, a falta de checagem rigorosa, a cegueira de Skinner diante da vingança pessoal de uma fonte, tudo isso se acumula até culminar na exibição de uma notícia falsa em horário nobre. O momento em que a reportagem vai ao ar é devastador e talvez o momento mais denso de toda a série até aqui, com a construção até esse momento sendo realmente exemplar, passando pela tensão, os toques de conspiração, a sutileza dos erros individuais e o momento da verdade.

É claro que nem tudo funciona. O romance mal resolvido entre Jim, Maggie e Don continua soando como distração melodramática, oscilando entre o forçado e o cansativo. A tentativa de humanizar Will através de sua relação com Nina Howard, a colunista de fofocas, acrescenta pouco ao personagem. Mas, no conjunto, a segunda temporada demonstra maturidade em assumir que o jornalismo e os jornalistas podem fracassar, mesmo com boas intenções. O final, com Will, Mac e Charlie oferecendo suas renúncias e sendo recusados por Leona Lansing, encapsula bem essa dinâmica: o idealismo permanece, mas já não é mais uma bandeira imaculada. O casamento entre Will e Mac no último episódio pode soar como um aceno otimista demais, quase um consolo após a queda, mas também serve como finalização de um arco pessoal que estava quase se arrastando.

Em retrospecto, esse segundo ano é talvez o mais relevante da série, porque não apenas dramatiza a ética jornalística, mas dramatiza o seu colapso. Se a primeira temporada idealizou o ofício, a segunda o humaniza pelo viés do fracasso. Entre virtudes e tropeços, Sorkin conseguiu aqui o retrato mais complexo de sua utopia midiática: um grupo de jornalistas que quis ser melhor do que o mundo permitia, mas que também errou como qualquer um. E essa tensão, mais do que os discursos inflamados ou os cenários reais, é o que garante a permanência de The Newsroom como um drama fascinante e inteligente.

The Newsroom – 2ª Temporada | EUA, 2013
Criação e desenvolvimento: Aaron Sorkin
Direção: Alan Poul, Jason Ensler, Anthony Hemingway, Julian Farino, Carl Franklin, Lesli Linka Glatter, Jeremy Podeswa
Roteiro: Aaron Sorkin, Ian Reichbach, Dana Ledoux Miller, Adam R. Perlman, Michael Gunn, Elizabeth Peterson
Elenco: Jeff Daniels, Emily Mortimer, John Gallagher Jr., Alison Pill, Thomas Sadoski, Dev Patel, Olivia Munn, Sam Waterston, Jane Fonda, Chris Chalk, Chris Messina, Kelen Coleman, David Harbour, Jon Tenney, David Krumholtz, Hope Davis, Stephen McKinley Henderson, Natalie Morales, Alison Becker, Marcia Gay Harden
Duração: 498 min. (09 episódios)

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