Home TVEpisódio Crítica | The Night Of 1X03: A Dark Crate

Crítica | The Night Of 1X03: A Dark Crate

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

spoilers! Confira as críticas para os outros episódios da série aqui.

A única coisa fora de tom em A Dark Crate (que título perfeito para a temática desse episódio, não é mesmo?) é a forma pouco realista, ou, em outra visão, “livre demais”, com que o roteiro de Richard Price e a direção de Steven Zaillian representam a prisão onde Naz está, até o seu julgamento.

Não que essa forma irrealista torne todo o conceito da prisão “menor” ou “menos impactante” ou a história ruim pela caricatura da maldade com que representa a população carcerária notadamente negra (e o tratamento dado a esses personagens me incomoda um pouco, como já havia sinalizado em Subtle Beast). Esse ponto se destaca mais pela excelência e realismo-dramático — percebam que eu não usei o hífen à toa, pois a série não traz um realismo cru, documental, mas sim dramatizado — utilizados na representação de todas as outras partes, tanto institucionais quanto puramente civis.

Se no episódio anterior vimos os primeiros momentos de Naz nesse mundo de punição para condenados ou para pessoas em julgamento, em A Dark Crate, vemos uma parte de sua estadia no local. E neste ponto, a representação deixa de ser predominantemente caricatural. Os arranjos da hierarquia na prisão, os acordos criminosos entre presos e policiais, as chantagens e a prova de que corrupção e “jeitinho para regras” pode-se ver em qualquer cultura são destacados com bastante competência pelo diretor. Mesmo irreal em um primeiro aspecto, o sistema carcerário que vemos aqui é um reflexo do sistema americano, e sua configuração não é nada desconhecida para nós brasileiros. Em meio a tantos acertos ilegais em um espaço onde se deveria punir, afastar da sociedade ou possivelmente recuperar pessoas que cometeram crimes, é extremamente irônico que as coisas funcionem, em parte, na mais perfeita ilegalidade. The Night Of está sinalizando algo muito importante aqui.

Nesse ambiente de regras próprias e que faz do protagonista um homem vivendo com medo — vejam que parte da tensão e expectativa de que algo ruim iria acontecer, explorada em The Beach, volta nesse episódio –, temos o ponto de partida para o avanço das forças de defesa e acusação.

Como tem um elenco excelente para trabalhar, Zaillian foca mais na narrativa e seus inúmeros detalhes, aqui, novamente marcada pela força da trilha sonora densa, que incita o suspense — em certas cenas, quase o terror, assim como a fotografia escura, seu lance com espelhos e eficiente jogo de campo/contracampo — e nos deixa esperando por alguma reviravolta que acaba vindo, de fato, mas não da maneira que esperávamos.

A mudança de advogado e a visível falta de referências e “norte” da família de Naz são motivos de grande preocupação para o espectador e indicam a adição de um outro problema e/ou mistério a ser trabalhado nos episódios seguintes. O melhor de tudo é que a construção dessa situação se dá de maneira simples e rápida. O foco principal desse Universo já é conhecido do público, então não há perca de tempo com reintroduções ou justificativas para isso ou aquilo. Muita coisa acontece, em ritmo de “crônica de mistério”, alguns personagens são colocados nesse meio para tornar mais intrigante do destino de Naz, enquanto outros são sutilmente conduzidos por um caminho que não conseguimos divisar muito bem. Richard Price beira à perfeição nessa expansão de possibilidades. Ele não deixa de contar coisas relevantes, não deixa de fazer avançar os blocos já existentes na trama, mas também não para por aí. Novas facetas, tão interessante quanto as que tínhamos, são adicionadas.

Perseguido e aparentemente forçado a fazer uma aliança que não deve acabar bem, Naz está em um conflito muito grande de desejos e não consegue processar a quantidade de sentimentos que tem. Silencioso, desconfiado e fisicamente abatido, ele vê sua vida afundar um pouco mais. A discussão do processo de organização da justiça, a crítica ao sistema prisional, a exposição dos “advogados abutres” e dramas familiares de peso, como a questão do Táxi do pai de Naz, coroam a A Dark Crate, que nos faz ver The Night of manter o seu excelente nível. Uma coisa vale dizer: fiquem de olho naquele gato. Ele provavelmente trará alguma pista sobre o caso.

The Night Of  1X03: A Dark Crate (EUA, 24 de Julho de 2016)
Direção: Steven Zaillian
Roteiro: Richard Price
Elenco: Riz Ahmed, John Turturro, Bill Camp, Peyman Moaadi, Poorna Jagannathan, Jeannie Berlin, Sofia Black-D’Elia, Paul Sparks, Michael K. Williams, Glenne Headly, Amara Karan
Duração: 60 min.

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