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Crítica | The Office (US) – 3ª Temporada

por Davi Lima
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The Office

Essa terceira temporada de The Office é uma aventura de descobertas e de não saber enfrentar isso, entre refreshs e resets de narrativa para aumentar o parque cômico do escritório. Nesse sentido, Michael Scott assume o posto de apresentador de como não saber lidar com as mudanças de mais escopo, assim como a câmera caça a mudança de noivado de Pam e Jim é mostrado em Stanford. Acaba que o gancho da segunda temporada não é apenas um gancho, e sim uma sequência dramática de imperfeição realista que a série aprimora. O refresh – que alivia tensões do realismo com novos conflitos cômicos – e o reset – já experimentado com desculpas na segunda temporada e agora para aumentar o patamar comportamental na série – se tornam simultâneos, tornando a linguagem da série, a de sempre, a própria imprevisibilidade cômica-dramática. 

Com o personagem Oscar se assumindo para o escritório no primeiro episódio, é o ponto chave para entender essa mudanças ao longo da temporada, com Dwight e Pam sem Jim no espaço do escritório quanto a não saber lidar com a realidade, incluindo a câmera que vai para Stanford, como sempre naturalmente buscando Jim e utilizando o novo espaço para questionar seus trejeitos para se amostrar para a fotografia. Essa nova dinâmica, de Jim em outro escritório da Dunder Mifflin e do que acontece de sempre, com Michael Scott sendo o host da série, subdivide atenções. Não apenas pela relação da câmera com Jim, com a série exercitando a montagem alternada, mas também para centralizar o romance Jim e Pam como centro narrativo da série, chamando atenção para isso nessa divisão.

Não à toa que o segundo episódio da temporada provoca um contexto extra escritório como resolução dramática de Jim e Michael Scott, já que o host pensa que qualquer separação narrativa é sobre ele, achando que Jim mudou de filial por causa do chefe. É um episódio de continuação quanto a compreender as mudanças, como Pam ir a um encontro e uma convenção de empresas de papel que acentua Jim longe de Pam ao se encontrar com Michael e Dwight, fora Angela e Dwight chegarem a outro nível absurdo de não lidarem com a distância.

Diante desse cenário, surgem os suspenses comportamentais que valorizam o realismo e como ele é quebrado pela busca de fugir do trabalho. Enquanto Pam e a câmera começam a ter uma relação que antes era com o Jim no escritório de Scranton, realmente ditando uma evolução da personagem por completa atenção a ela, Jim, ao ser pressionado por Call of Dutty em Stanford, como modus operandi de fugir do trabalho por lá, surge um novo trato romântico. Diferente de Pam, que parece ter uma dimensão romântica mais “conservadora” com Jim, esse novo trato se diverte com Jim em uma medida menos balanceada, ainda que Karen, interpretada por Rashida Jones, saiba captar o público além de qualquer destino de uma rival de Pam.

Tanto Karen se porta como uma personagem não dependente de Jim, como Pam sem Jim e junto com a câmera foge do estereótipo de secretária. Pam começa a ter um papel de concilia Michael com seu método de apresentador. Por exemplo, a cena do episódio Grief Counseling em que ela conta a história da morte da tia, que é uma referência ao filme Menina de Ouro, criando o fingimento de compreender Michael para liberar o dia de trabalho tedioso, é um dos pontos chaves que ela não precisa mais do Jim para fugir dos abusos do chefe inconsequente e ainda ser uma trabalhadora exemplar dentro de um escritório que o melhor trabalho é fugir do tédio.

Da mesma forma, Jim em Stanford, sua premissa de romance com a personagem da Rashida Jones é o clássico que ele promove para matar o trabalho. Ambos comportamentos, de Jim e de Pam, unem mais uma vez os personagens, que durante esse começo de temporada compreendem Michael mais que ninguém. Se Jim diz que ele é um bom chefe, em outro episódio Pam faz a caixa para a morte do pássaro que tanto Michael precisava para o luto que ele tanto queria que o escritório sentisse. Jim e Pam separados é um reset claro, enquanto o refresh são as evoluções dos personagens, até de maneira literal, diante da câmera, especialmente Jim e Pam como centro realista e de um romance plausível.

Por isso, o comportamento de Michael começa a ser estudado nessa temporada, em que Ryan, como a peça descartável e ao mesmo tempo o coringa de The Office, sentando na cadeira de Jim no escritório, se torna a reação contrária a estrutura da série por evidenciar algo que Jim não faria, como desdenhar do emprego e fazer chacota de Michael nos cantos das cenas, chegando no limite da maldade. Já Pam busca encerrar de vez os dramas do chefe, tentando demonstrar empatia mínima por Michael na suas irresponsáveis decisões com mulheres, com o escritório, etc, como modo de se aproximar da câmera e a câmera da mesma maneira.

Mas como no dia do Pretzel, episódio chamado Initiation, a verdade por trás do reset vai evidenciar o tédio que Pam passa por essa nova saga, ao anotar o que Michael nunca faz: trabalhar. Num episódio que o host fica secundário e a fotografia é nada mais nada menos que composição para a montagem, a conexão entre as linhas sequenciais implícitas do romance refresh Pam e Jim no reset, separados em Scranton e Stanford, dos personagens que agora sempre olham para a câmera, enfatizando o falso documentário, dando a dica de um primeiro ato para o plano de Greg Daniels. Nem é um episódio tão engraçado, esse do Pretzel, mas revela muito sobre os personagens e o escritório.

Ryan definindo Michael Scott com relação a Jan e a solidão quanto aos medos do chefe com relação as mulheres; Dwight se revelando quanto ao Jim em uma saudade não assumida, Angela e Kelly definindo Dwight em seu comportamento estranho de sempre; Pam e Jim se definindo mutuamente. Até Stanley define nas entrevistas o que define esse dia do Pretzel para o efeito do episódio como um todo, e Scott define a produtividade de The Office: explosiva e calma, mas sem perder o meio dramático entre os polos.

Pensando nessa frase e como enfatizá-la para a história da temporada, a série aposta na sua transição normal, com a piada básica da falha que dá tudo certo no final. Um reset, por ter vários menores, e o segundo da terceira temporada acontecer nos episódios Branch Closing e The Merger, quando os universos subdivididos, para integrar Jim na série, mesmo em Stanford, se juntam em Scranton, pode acontecer a partir do próprio reset. Possivelmente a terceira temporada deve ser maior em tempo de reprodução no canal NBC, com dois episódios de mais de 40 minutos, para ter tempo de ajustar tudo de novo, até porque nesse mesmo reset, pensando especialmente em Jim e Pam juntos de novo no escritório, é um refresh da série. Porque o gancho da segunda temporada cria um efeito de desconstrução da série que ela precisa retornar, com o Jim, a Pam, a câmera e o Scott precisando estar juntos para que a linguagem dorsal da série se preserve.

Então, o episódio The Merger coloca o host como um apresentador da prova do líder do BBB, testando até alguém sair no reset que aumento o número de personagens em um mesmo escritório, que vai dando um refresh. Lembra o Michael da primeira temporada no quesito fazer alguém passar vergonha, mas o efeito constrangedor parece teleológico, como algo que necessita acontecer na série para ela progredir na fusão das filiais de Scranton e Stanford. É o reset que já quer ter um refresh, o que implica em mais tempo de narrativa para integrar uma nova cartela de peças para a comédia de comportamento de personagens no escritório. Entram Karen e Andy como rivais de Pam e Dwight, porém, como Greg Daniels acredita no realismo da série, na comédia que não perde o drama, a antecipação, o reset dentro do reset inicial da temporada é a crença do showrunner num refresh ainda maior para The Office para novas temporadas.

Mesmo que haja esse planejamento todo de pensar novos personagens e desenvolver o centro romântico de Jim e Pam, Michael Scott ainda é o apresentador que movimenta a série, e ele se movimenta em prol desse reset e refresh, tendo uma narrativa com Jan e seu papel dentro da Dunder Mifflin entre o modificável e o imodificável. Não é um paradoxo, e sim comportadamente inesperado e necessário para o apresentador manter seu centro de atenção e ser dramaticamente alvo de decisões. São como complementos opostos que se acentuam, uma figura de linguagem chamada oximoro.

O efeito em Dwight e Jim são um reflexo maravilhoso disso, personagens contraditórios mas que enfatizam a comédia e o drama nas situações inesperadas. Na reestruturação do romance de Jim e Pam, Dwight serve como consolo, sem perder sua posição independente, assim como o reset de Michael enquanto host sofrer por ser o centro das atenções em relação a seu romance com Jan provoca um refresh sobre as posições trabalhistas do casal na temporada. Se Ryan é o ponto de confronto com Michael, junto com sua incapacidade de assumir que está errado no episódio The Convict, que ele não aceita que a prisão pode ser “melhor” que um escritório tedioso por causa de um empregado de Stanford que foi preso, aliada a sua fragilização laboral e emocional com Jan e Darryl – personagem do depósito do escritório que pressiona Michael quanto a um aumento salarial com Jan – o apresentador nunca perde sua posição, mas chama algumas pessoas para o palco para mostrar para o público que sua comédia faz algum sentido em toda a sua imprevisibilidade.

Dessa forma, a linguagem que se assume nessa temporada, entre reset e refresh, em que Oscar é o pontapé de um reset e volta como refresh, é sempre um proveito de personagens para novas tramas como efeitos de comportamento. Um outro exemplo é o Ryan e a Kelly juntos de novo no anexo, ou a saída e a volta de Andy após seu personagem chegar numa extrema imitação de Dwight. A comédia dramática não volta aos testes da primeira temporada, no entanto Greg Daniels parece improvisar como maneira de criar imprevisibilidade de maneiras mais explícitas entre os resets e refresh do escopo maior de peças em um escritório. Porque se o trunfo de The Office surge do chefe desafiado que criam tramas inimagináveis em um contexto realista, é preciso lembrar, especialmente no episódio Safety Training, como a série pode alcançar a comédia que vai nas alturas na base de um drama real, ou que pode se tornar real. Enfim, a ambiguidade do falso documentário com a sitcom que com o Michael Scott sendo a fenda de encontro cria uma harmonia quase perfeita.

Por fim, resets e refreshs acabam por se tornarem necessários, talvez, a cada temporada, mesmo que não sejam o centro de aprendizado narrativo, em vista que pensar nos comportamentos humanos, como a série faz, traz para uma linguagem de história que precisa sempre se renovar como progressão. Parece profundo demais para The Office, pensando numa sitcom, mas é pelo seu reverso inesperado, a maneira como a série usa Michael Scott como host para falar de depressão em ambientes de trabalho e até mesmo como politizar uma agenda de maneira diferente, que permite essa “profundidade”.

Não há apenas uma maneira de falar sobre assédio de mulheres no ambiente de trabalho, e fazer com que o chefe tenha consciência disso dentro da própria piada que ele é como host se torna uma obra de prima discursiva com um ser humano quase incompreensível dentro da realidade normal de pessoas, no constrangedor episódio Women’s Appreciation. A série sabe que o apresentador é o que cria a discussão. O drama dele com Jan não anula a questão do assédio que inicialmente o host torna uma piada, ao invés de anular o apresentador Scott é colocado como tendo problemas com mulheres, como finalização do estudo do personagem em medidas mais conflituosas. Greg Daniels formula o começo do fim do refresh da terceira temporada dessa forma, dando voz às mulheres sobre o apresentador, e colocando Karen e Pam nessa linha de frente.

Assim, quando se emula o final de Lost antes de Lost no episódio Beach Games, colocando o apresentador como o rei dos jogos e focando no refresh da série, Pam é a jogadora que reclama por protagonismo e exacerba seus sentimentos, enquanto Karen, seguindo a linha da vitória de Stanford, sem fazer Scranton perder (porque Andy é o jogo perdido que precisava aprender a perder), concorre com Michael junto com Jim por protagonismo. E assim fica difícil não amar esse refresh quase perfeito em duas partes no final da temporada. Com o CEO da Dunder Mifflin, David Wallace, sendo perfeito como mote realista, Pam crescendo como personagem, Karen criando asas com Jim e sem ele, enquanto Jim é típico personagem que a câmera precisa preservar. Já Michael, como bem Karen fala, muito melhor ele estar onde estar, e Jan é o conflito gancho para a quarta temporada sem depender disso para acabar. O tal modificável e imodificável, o oximoro.

Os dois finais no último episódio The Job de The Office, de Pam e Ryan,  ambos felizes para um gancho para a quarta temporada, refletem a perfeição dessa temporada em como ela não apenas teve uma identidade como se move, se reorganiza sem perder o ritmo. Definitivamente é algo sequencial em uma sitcom episódica. Se isso foi o reset bem feito na segunda temporada que continuou em resets, a terceira evolui os personagens na medida do que a narrativa se preparava tanto quanto a prevalecer a estrutura básica, câmera, Pam-Jim e host Michael, como criar um patamar cômico/dramático e plot twist baseado no implícito (Jim) e no explícito (Pam).

The Office – 3ª Temporada (The Office, EUA, 2006 – 2007)
Criação: Greg Daniels, Ricky Gervais, Stephen Merchant.
Direção: Ken Kwapis, Ken Whittingham, Roger Nygard, Randall Einhorn, Miguel Arteta, Tucker Gates, Jeffrey Blitz, Harold Ramis, Julian Farino, Greg Daniels, Joss Whedon, J.J. Abrams, Harold Ramis.
Roteiro: Greg Daniels, Jennifer Celotta, B.J. Novak, Mindy Kaling, Paul Lieberstein, Michael Schur, Brent Forrester, Ricky Gervais, Stephen Merchant, Gene Stupnitsky, Justin Spitzer Lee Eisenberg, Caroline Williams.
Elenco: Rainn Wilson, Steve Carell, John Krasinski, Jenna Fischer, Mindy Kaling, Leslie David Baker, Brian Baumgartner, Angela Kinsey, Kate Flannery, Phillys Smith, Creed Bratton, Oscar Nuñez, B,J Novak, Craig Robinson, Paul Lieberstein, Melora Hardin, David Denman, Rashida Jones, Ed Helms, Charles Esten, Wayne Wilderson, Mike Bruner, Ursula Burton, Robert R. Shafer
Duração: 23 minutos (em média) cada episódio – 23 episódios na temporada, com 2 episódios com duração de mais de 40 minutos.

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