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Crítica | The Office (US) – 6ª Temporada

The Office mais realista precisando de um Michael fantasia.

por Davi Lima
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Office

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Depois de uma reestruturação no contrato do chefe Michael Scott (Steve Carell) com seus empregados do escritório, a comédia retoma a linguagem da primeira temporada com algumas inversões entre a fantasia e o realismo. O humor baseado no constrangimento fez The Office começar tudo, e  nessa sexta temporada é mais ágil em mostrar  Scott e o seu público de vendedores e contadores não esperando mais uma elaboração de cenas onde  o tédio reina para que o humor venha à tona. 

Com as relação dos personagens mais intrincada ao longo dos anos, o começo desta temporada põe logo a comédia acerca da fofoca como definição dessa relação, no episódio Gossip. Tematizando isso com Michael imitando parkour, com a tentativa de estar sempre por cima dos assuntos importantes, demonstra-se as consequências do reset das intenções de tornar o personagem menos apresentador e mais personagem na quinta temporada.

O showrunner Greg Daniels vem mostrando ao longo de The Office que não tem medo e nem se perde em experimentações, por isso a crescente abordagem de Jim como relevante para a Dunder Mifflin acaba se concretizando como cargo de gerente, criando paradigmas de novas brincadeiras quando o personagem que olha para a câmera e assume o posto de host. A balança que havia entre Michael, a câmera e o casal Jim (John Krasinski) e Pam (Jenna Fischer) parte para outro sistema, um teste de finalização de narrativas dos personagens como modo de criar uma outra base cômica para o público. A reação gritante de Dwight (Rainn Wilson) no episódio The Meeting é bem representativa de uma sexta temporada que quer propor novas estruturas para a dinâmica da série, sem mudar sua linguagem.

Para isso acontecer, algumas expectativas quanto aos personagens são tiradas da reta para que eles estejam mais livres para novos conflitos e novas piadas. Os episódios do casamento em Niagara Falls é mais icônico nesse quesito, dilatando um momento especial para uma sitcom que contém seu romance, enquanto explicita como Jim e Pam só concluem o matrimônio quando passam por duas fases: uma sem os trabalhadores do escritório e outra com o escritório, ao som de Forever, de Chris Brown. São dois momentos alegres  que marcam a cisão narrativa que sempre aconteceu: o casal representa mais o realismo, enquanto o escritório representa mais a loucura dos comportamentos. Isso é importante porque, na temporada, há uma inversão quanto ao constrangimento ser evidenciado pelo realismo, onde o público pode curtir mais as piadas non-sense como necessárias para a paz em The Office.  

No episódio The Promotion, antes do casamento, mostra-se bem o misto The Office de Jim questionando a fantasia cômica centralizada em Michael, ao mesmo tempo que nós, espectadores, sentimos que ele está, de fato, estragando a graça dos momentos, assim como o escritório parcialmente acredita em Dwight, sobre Jim não funcionar como co-gerente. A ambiguidade disso é maravilhosa. Michael sempre foi o personagem que criava uma esteira de presentes inesperados para o escritório, que quando se torna realista, é realmente tedioso e nervoso. 

Os dois episódios do casamento são uma espécie de parada leve nas mudanças, embora ver Jim contando sobre a gravidez de Pam para a avó de Pam é um dos principais pontos da temporada, porque  coloca o cargo de gerente como uma maldição para fazer as besteiras que só Michael entende. A inversão acontece entre Jim e Michael na mesma medida em que a fantasia da comédia de constrangimento de Michael vira anseio e não regra a ser ironizada pelo realismo do escritório ou de Jim.

Depois do emocionante e do constrangedor na montagem de cenas entre a igreja e o barco, no casamento em Niagara Falls (quebrando protocolos, como é de praxe da série), tudo muda e a temporada engrena com novos paradigmas. O realista Oscar (Oscar Nunez) e o caricato Kevin (Brian Baumgartner) crescem como personagens, e Jim e Pam são os constrangidos por Dwight e Michael, sem escapatória. The Lover é o episódio que retoma a linguagem do humor absurdo, onde  o realismo fica refém das possibilidades fantasiosas que o casamento proporcionou: como Michael ser sogro de Pam por um momento, e Dwight concentrar todas as forças divididas entre querer ser gerente e odiar Jim. 

As novas propostas aparecem até na estrutura do episódios. Koi Pond quebra a alternância entre um capítulo  “comum” e outro mais dramático-cômico, uma reviravolta quanto a esses dois estilos, especialmente com Dwight colocando lenha na fogueira. Paralelamente, a série vai perdendo Pam como personagem interessante, porque ela tem que fazer piadas solo, além de outro ponto fraco que vai se mostrando, como Andy ter piadas muito específicas para dar certo. Mas tudo isso é temporário, pois a inversão vai se desenvolvendo: Pam se torna central, enquanto Andy, ao se relacionar com Erin, a nova secretária, remonta o romance de uma sitcom que pertencia a Jim e Pam. No entanto, essa remontagem é depreciativa em como eles não conseguem engatar o namoro facilmente.

Se não bastasse essas novidades, Dunder Mifflin acaba por ser a denotação de como The Office caminha para outros ares. Quando a empresa de copiadoras e impressoras chamada Sabre (ou Saber?) compra o escritório estranhamente mais rentável da empresa de venda de papéis, não apenas o antigo chefe David Wallace (Andy Buckley) se torna uma piada fantasiosa, como se torna difícil de identificar o que é sério e o que humor: também uma ótima ambiguidade. É como no episódio Sabre, em que Erin (Ellie Kemper) e Michael jogam uma tesoura um para o outro pegar – e  Pam representa muito bem o medo diante do perigo que é essa brincadeira – como não é muito claro se a propaganda da Sabre com o ator Christian Slater é um teste ou é oficial.

O constrangimento da primeira temporada, assim, vai retornando, sem o realismo suficiente para potencializar a comédia. As situações inusitadas para a comédia necessitam de contextos mais realistas, como os dois episódios no hospital com Pam e Jim, após o nascimento da filha Cece Halpert; ou quando Michael é pressionado moralmente pelo escritório por ser amante de uma mulher (o relacionamento mais inusitado dentre todos, para tirar o tédio dos trabalhadores). Mas sem dúvida, o episódio Scott’s Tots tem o momento lendário da série e da convergência para as inversões da temporada. Esse episódio é altamente constrangedor por confrontar diretamente a fantasia com o realismo. 

Diante disso, as turbulências da história se tornam marcantes, como o Natal Secret Santa que poderia ser o último, pelo perigo da demissão do escritório antes da Sabre, sendo um episódio extremamente tenso e divertido, como The Office é. Dois Santas, dois gerentes, uma possível falência e um presente de natal. Realismo e fantasia num episódio incrível. Além disso, essa sexta temporada entrega vislumbres de um encaminhamento narrativo anos antes. The Banker é o episódio que entrega novas perspectivas, fazendo The Office mudar de novo dentro da mesma linguagem de constrangimento. 

Essa temporada se parece com a primeira temporada também porque ela prepara uma nova fase da Dunder, necessitando de uma pacificação no conflito entre Jim e Michael, para desenvolver a importância de Jim com Pam sem dependência externa . Pensando na antiga trindade host-câmera-casal que forma a sitcom, Dwight se mantém, talvez, como o personagem que perde função clara. Ao mesmo tempo, Andy e Erin são o casal central, embora instável, em relação a Jim e Pam. E a câmera já não é mais personagem como antes: o senso de falso documentário está bem mais funcional do que presente. A série vai para outro patamar dentro da sua própria linguagem de documentário. Ainda assim, existem as mudanças fixadas. Michael se torna deslocado diante da Sabre, há a volta da dinâmica de Jim e Dwight, um feriado que mostra como o escritório não trabalha na seriedade e uma nova chefe chamada Jo (Kathy Bates). É o Michael sendo confrontado de novo pela série, após abrir os olhos do espectador para isso.

Por fim, é preciso ressaltar a grande conciliação de Dwight e Michael após Jim virar co-gerente. A fantasia de Dwight é perfeita para ser confrontada pela liderança de Michael com a desarmonia hierárquica dos vendedores em relação aos outros trabalhadores. A sexta temporada reflete o de sempre sobre como o escritório fecha contrato de confiança com Michael porque ele sempre vai defendê-los, mesmo que não haja moral legítima para isso. Importante lembrar que Darryl (Craig Robinson) ser mais ativo foi uma das grandes reincidentes sacadas da série. Essa temporada se encerra num equilíbrio, porque o host nunca foi tão pressionado pela realidade desde a dramática quarta temporada, com Holly (Amy Ryan), e sua relação com a Dunder na quinta temporada.

Acaba que o grande problema de verdade, o empresarial de Dunder Mifflin, fica menor diante do que o protagonista vai tomando como drama nos momentos finais. Ele quer um relacionamento, ele quer uma família, ele quer algo a que se apegar. The Office chega num momento da série, nessa sexta temporada, em que quase todas as tramas se sustentam pela interação entre os personagens, sem nenhuma trama de fato nova como gancho para a próxima temporada. Então, no final, quando o assunto Holly retoma, é o showrunner Greg Daniels voltando atrás quanto ao único encerramento dramático que faltava para a série, que é o drama envolvendo Michael.

The Office – 6ª Temporada (The Office, EUA, 2009 – 2010)
Criação: Greg Daniels, Ricky Gervais, Stephen Merchant.
Direção: Randall Einhorn, Jeffrey Blitz, Greg Daniels, Paul Lieberstein, Paul Feig, Jennifer Celotta, David Rogers, Steve Carell, Lee Eisenberg, Gene Stupnitsky, Reginald Hudlin, Seth Gordon, Charlie McDougall, B.J. Novak, John Krasinski, Marc Webb, Harold Ramis, Brent Forrester, Matt Sohn, Mindy Kaling, Rainn Wilson.
Roteiro: B.J. Novak, Mindy Kaling, Paul Lieberstein, Justin Spitzer, Aaron Shure, Brent Forrester, Warren Lieberstein, Halsted Sullivan, Jennifer Celotta, Lee Eisenberg, Gene Stupnitsky, Charlie Grandy, Daniel Chun, Jason Kessler, Jonathan Hughes, Aaron Shure.
Elenco: Rainn Wilson, Steve Carell, John Krasinski, Jenna Fischer, Mindy Kaling, Leslie David Baker, Brian Baumgartner, Angela Kinsey, Kate Flannery, Phillys Smith, Creed Bratton, Oscar Nuñez, B,J Novak, Craig Robinson, Paul Lieberstein, Melora Hardin, Rashida Jones, Ed Helms, Hugh Dane, Zach Woods, Andy Buckley, Kathy Bates, Amy Pietz, Ellie Kemper, Michael Schur, Robert R. Shafer
Duração: 23 minutos (em média) cada episódio 

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