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Crítica | The Old Guard – Vol. 1: Abrindo Fogo (Opening Fire)

por Ritter Fan
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Em The Old Guard, Greg Rucka essencialmente imagina um “o que aconteceria se…” em cima da premissa de Highlander – O Guerreiro Imortal, clássico oitentista com Christopher Lambert e Sean Connery, mas sem o “só pode haver um” e sem cabeças sendo decepadas a torto e a direito em uma espécie de competição por milênios por um prêmio nunca realmente explicado. O autor pretende algo menos rebuscado, mas não menos intrigante e pergunta como seria ser imortal em pleno século XXI, considerando toda a tecnologia que existe para tornar a privacidade verdadeira cada vez mais impossível e o mundo cada vez menor.

Afinal, se os guerreiros de Highlander podiam desaparecer nas brumas do tempo com uma certa facilidade até meados dos anos 80, essa tarefa começa a ficar complicada com câmeras vigilantes a todo instante que banalizam a imagem que, por sua vez, passa a ser objeto de análise de bilhões de olhos. Na história, a velha guarda do título é um grupo de quatro mercenários imortais capitaneados por Andy, apelido de Andrômeda de Cítia, que vivem e lutam juntos ao longo dos séculos completando as mais variadas missões, mas que passam a ser alvos de uma caçada por um bilionário que deseja descobrir o segredo deles. Costurando mistérios e misticismos em cima do porquê os guerreiros serem assim, Rucka ainda introduz uma nova imortal, a soldada Nile Freeman, que vem à velha guarda em estranhos sonhos e que serve de artifício narrativo para tornar mais fluida as explicações que são necessárias, inclusive diversos flashbacks para os momentos de “origem” de cada um do grupo e outros momentos-chave na longa vida de Andy.

Entre tiroteios e pirotecnias que fariam inveja à Michael Bay, a história caminha cada vez mais furiosamente para um desfecho 100% previsível, mas que satisfaz completamente se o leitor não estiver esperando discussões filosóficas profundas. Elas até existem, não tenham dúvida, mas Rucka não tenta reinventar a roda e fica nas platitudes de sempre sobre o valor da vida eterna ou o próprio sentido em si da vida sem a perspectiva da morte, algo que gera conflitos nas visões antitéticas de Andy, já mais do que veterana, e Nile, novata na arte de não morrer. São discussões instigantes, daquelas que dão uma boa roda de conversa com amigos em um restaurante, mas que o autor coloca em segundo plano, trazendo para a frente muitas explosões e muitos tiros, além de histórias pregressas que dariam excelentes quadrinhos paralelos passados em momentos diferente da Antiguidade, o que talvez tornasse seu trabalho realmente digno de nota.

Mas é aquilo: trata-se apenas do primeiro volume (com um segundo em vias de acabar na data de publicação da presente crítica) e Rucka, se quiser, terá espaço para desenvolver muita coisa que ele deixa entrever aqui muito mais como um tira-gosto do que como uma história realmente completa e complexa. Seus personagens são interessantes, o arco é bem resolvido e os flashbacks emprestam um ar melancólico, o que resulta na vontade de ler mais sobre esse mundo, certamente um dos melhores elogios possíveis a qualquer escritor.

No lado da arte, que ficou ao encargo do argentino Leandro Fernández, a pegada mais rústica, com jogo de sombras, muita silhueta, rostos pouco definidos e uma inteligente distribuição espacial por página ajuda muito para que a história de Rucka funcione de verdade. É quase como ler uma narrativa em que os personagens são arquétipos e não exatamente personagens, o que faz sentido considerando que a imortalidade impede que sintamos aquele senso de perigo que muitas vezes é necessário para criarmos alguma conexão. Fernández joga mais com o drama do momento e faz com que os sacrifícios sejam mais importantes do que os detalhes dos personagens, até porque só realmente Andy ganha camadas que vão além de sua origem. A paleta de cores limitada de Daniela Miwa também ajuda na construção dessa atmosfera heroica, amplificando as sombras, mas se recusando a deixar que o lado sombrio da narrativa domine os visuais, com um resultado muito bonito e agradável.

O primeiro volume de The Old Guard entrega muita diversão construindo um intrigante novo universo em quadrinhos a partir de conceitos batidos e conhecidos do público, com personagens fascinantes que têm enorme potencial até para histórias solo. A narrativa, aqui, é simples, feita para introduzir o conceito e fixar Andy e companhia na mente do leitor e, nisso, Rucka é definitivamente bem sucedido. Resta torcer para que essa história ganhe corpo e realize todo seu potencial e não aconteça o que aconteceu com Highlander e suas execráveis continuações.

The Old Guard – Vol. 1: Abrindo Fogo (The Old Guard – Vol. 1: Opening Fire, EUA – 2017)
Contendo: The Old Guard #1 a 5
Roteiro: Greg Rucka
Arte: Leandro Fernández
Cores: Daniela Miwa
Letras: Jodi Wynne
Editoria: Alejandro Arbona
Editora original: Image Comics
Data original de publicação: fevereiro a junho de 2017
Páginas: 170

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