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Crítica | The Old Man – 1ª Temporada

Consequências do passado.

por Kevin Rick
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The Old Man tem uma daquelas clássicas premissas para obras de ação sobre a estrela de cinema envelhecida: Dan Chase (Jeff Bridges), um ex-agente da CIA, começa a ser caçado por causa das consequências de uma operação secreta de 30 anos atrás. De início, imaginei que estaríamos vendo a versão de Busca Implacável ou de O Protetor para Bridges, mas a narrativa e a direção da série acabam nos levando para caminhos diferentes.

Primeiramente, é interessante como o roteiro de Jonathan E. Steinberg e Robert Levine é cheio de metáforas sobre velhice. Temos muitas sequências sobre memórias (incluindo flashbacks), seja por aspectos de perda, remorso ou acobertamento, naquela antiga representação da melancolia que é envelhecer, de relembrar o passado, de querer mudá-lo ou até esquecê-lo. Nesse sentido, os dramas da série são puxados para temas semelhantes, como solidão, legado e família. Não temos nada muito inovador por esse lado da história, mas os personagens são bacanas e os atores vendem a emoção, especialmente Bridges com seu estilo ao mesmo tempo duro e vulnerável de atuar, e também John Lithgow com sua típica cadência e olhares cansados.

Mas o que me fisgou no começo do seriado foi a direção de Jon Watts nos dois primeiros episódios. Não sou exatamente fã do trabalho do cineasta nos filmes do Homem-Aranha, mas, aqui, Watts retorna às suas origens thrillers de A ViaturaO cineasta se aproveita do enredo de espiões e mistérios para trazer um tipo de ação que raramente vemos no gênero: mais tensa do que intensa, com poucos cortes e ritmo dilatado.

A sequência da casa mostra a encenação cuidadosa de Watts, mas é o ato na estrada escura que vende a produção para mim, com um tipo de ação crua, desconfortável e estranhamente brutal de assistir, seja pelo trabalho de câmera minimalista e tensamente lento de Watts, seja pela coreografia suja e cansativa das lutas, representando muito bem nosso anti-herói da terceira idade. O mistério do texto é, na melhor das hipóteses, derivativo, mas estabelece uma boa base de suspense e jogo de espionagem para a direção fazer o trabalho mais pesado.

A partir desse momento, estava totalmente a bordo da história de ação com pitadas de road-movie sobre um aposentado rabugento e seus dois rottweilers, com a conspiração estatal/internacional servindo como pano de fundo para movimentar a trama de Chase buscando respostas e sobrevivência, além de inserir alguns enigmas para resolvermos. Mas, infelizmente, Jonathan E. Steinberg e Robert Levine conduzem a narrativa para elementos que considero menos interessantes.

Começando pelo terceiro episódio, coincidentemente (ou não) o primeiro capítulo da série sem a mão de Watts, The Old Man se mostra menos um exercício de gênero de ação para poder incorporar com mais força o mistério da operação no Afeganistão. Como havia dito, os roteiristas não são muito competentes quando dão foco a este lado narrativo, tentando levantar questões políticas sem substância para estabelecer tais cenários; inchando a narrativa de flashbacks desnecessários e muitos diálogos verborrágicos; trazendo reviravoltas e revelações desinteressantes, naquele tipo de previsibilidade mais chata do que orgânica; e, acima de tudo, muito drama familiar.

À medida que a narrativa avança, o thriller e a ação vão dando espaço para diversas camadas melodramáticas, como o romance forçado de Chase com Zoe (Amy Brenneman), a questão paternal de Angela (Alia Shawkat) ou o triângulo amoroso em 1987. Os personagens começam a fazer diversos discursos pseudo-filosóficos de sentimentalidade barata (a sequência do avião e todas as cenas de Zoe, por exemplo), com a narrativa nos levando para esses estranhos dramalhões familiares que consomem o tom estabelecido por Watts no começo do seriado.

The Old Man começa como um exemplar de tensão e brutalidade sobre um fugitivo imoral, mas acaba se tornando uma longa e tediosa conversa sobre mistérios monótonos e melodramas familiares pouco sutis e pouco envolventes. Tinha algo sombriamente interessante na reta inicial do seriado, mas a narrativa acaba limitando a direção e a atmosfera para termos background de coadjuvantes descartáveis, eventos que não importam e derrubar qualquer tipo de exercício de gênero que Watts tentou ditar nos ótimos episódios de abertura.

The Old Man – 1ª Temporada | EUA, 2022
Showrunners: Jonathan E. Steinberg, Robert Levine
Direção: Jon Watts, Greg Yaitanes, Zetna Fuentes, Jet Wilkinson
Roteiro: Jonathan E. Steinberg, Robert Levine
Elenco: Jeff Bridges, John Lithgow, E. J. Bonilla, Bill Heck, Leem Lubany, Alia Shawkat, Gbenga Akinnagbe, Amy Brenneman
Duração: 8 episódios de aproximadamente 40-60 min.

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