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Crítica | The Orville – 2X02: Primal Urges

por Giba Hoffmann
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  • Contém spoilers. Leiam, aqui, as nossas críticas dos outros episódios.

Após se iniciar com um bottle episode com ares definitivamente pouco aventurescos, a segunda temporada de The Orville prossegue com mais uma decisão curiosa. Dando sequência a Ja’loja, temos não apenas mais um episódio envolvendo prioritariamente o cotidiano da tripulação da nave — mas também o segundo capítulo consecutivo focado nas necessidades fisiológicas de Bortus (Peter Macon) e suas vastas e imprevisíveis consequências sobre a missão da espaçonave.

A premissa é simples: explorar os efeitos do vício em pornografia holográfica sobre um oficial em missão, sob a mescla de humor satírico e drama que se tornou característica da série. Ainda que “pornô no Holodeck” seja um terreno temático bem alinhado com os intentos da série — talvez até mais do que aventuras sci-fi mais tradicionais como no excelente If the Stars Should Appear —, Primal Urges acaba ficando aquém de seu próprio potencial tanto humorístico quanto dramático.

Reconhecida a espirituosidade da proposta, o capítulo causa estranhamento: à proximidade com outro episódio focado em Bortus, somam-se tanto o desaparecimento dos novos tripulantes apresentados no episódio anterior quanto a ausência de uma trama mais suculenta em termos de ficção científica. Em termos do sequenciamento da série, Primal Urges não se encaixa muito bem e traz à tona a dificuldade central do seriado, que a é a de balancear seus intentos de satirizar e, ao mesmo tempo, recriar a fórmula clássica de Trek. Isso provavelmente se deve ao fato de que o episódio aparentemente fora gravado para a temporada anterior, tendo sido apenas posteriormente realocado e adaptado em pós-produção para o segundo ano.

O drama pessoal de Bortus é abordado de forma bastante interessante. Dosando bem o humor pueril, a sátira nonsense e o drama sincero, somos levados a acompanhar de perto a crise familiar do casal Bortus e Klyden (Chad L. Coleman), segmentos nos quais as atuações de Macon e Coleman merecem elogio pela respeitabilidade sob condições pouco propícias. Economizando nas subtramas, o tempo de tela é concedido majoritariamente para o casal, com o restante da tripulação envolvido ora com a contemplação da morte do último planeta de um sistema solar em colapso, ora com o bafafá gerado pelo divórcio curto-e-grosso à moda Moclan.

Embora o capitulo pareça querer trazer uma mensagem sincera sobre crise relacional (ponto para o roteiro em retomá-la como consequência dos eventos de About a Girl), o que provavelmente ficará fincado mais fundo na memória do espectador são as fantasias sexuais (cada vez mais complexas — e gráficas) de Bortus. Além, é claro, do desfecho final onde civis esperançosos acabam engolidos por uma estrela como consequência direta do consumo de pornografia de procedência duvidosa por parte do oficial.

Embora aborde de forma energética — e até por vezes inspirada — sua premissa, o capítulo acaba recaindo um erro que é comum nos segmentos humorísticos de The Orville. Confiando demais na quebra de expectativas como fonte de humor, o roteiro insiste em percorrer algumas piadas já bem exploradas, e se arrasta por alguns segmentos sem criar muito em cima deles. O contraste entre a representação cuidadosa do drama familiar e o absurdo das cenas “paródia pornô de Star Trek Discovery” tem como efeito uma tonalidade mista. Por sorte, o episódio traz momentos hilários o suficiente para sustentar as investidas mais apáticas — a sequência com LaMarr (J Lee) e Isaac (Mark Jackson) resistindo à sedução Moclan fora de contexto para salvar a nave do ataque de spyware é especialmente engraçada, realizando muito bem o humor gráfico que é um dos fortes da série.

Em termos narrativos, o desequilíbrio tonal cobra seu preço na resolução da frente dramática da trama. Sendo responsável indireto pela morte de mais da metade dos colonos a serem resgatados, Bortus passa a valorizar mais a companhia de Klyden e decide tentar reconstruir seu relacionamento, valendo-se dos ganhos obtidos pela terapia de casal da multifacetada Dra. Claire Finn (Penny Johnson Jerald). Embora consiga sustentar de forma relativamente convicente esse desfecho (com visuais impressionantes para a missão de resgate de Bortus e Isaac), a tonalidade mista acaba dando à conclusão ares anticlimáticos. O misto de humor nonsense, drama e sátira social desemboca na morte de inocentes sem com isso ter aparentemente nada a comentar sobre o assunto.

Eu particularmente temi um sacrifício de Bortus — não escondo ser um de meus personagens favoritos, embora a superexposição nesse início de temporada deponha contra o Moclan. Poderia ser um desfecho um tanto deprimente (e prejudicial para o seriado no longo prazo), mas sem dúvida se alinharia melhor com o restante do roteiro, que acaba mergulhando em um cataclisma planetário sem ter muito o que aproveitar do cenário. O desfecho poderia funcionar em um episódio de Futurama, por exemplo, mas os passos decisivos de distância em relação à comédia cartunesca tornavam um fechamento mais trabalhado algo necessário. Teriam havido mudanças de roteiro decorrentes do reagendamento do episódio? De toda forma já são águas passadas, e Primal Urges segue entretendo — mas é compreensível que os fãs de Star Trek devem estar aguados por uma trama mais tradicional para a nossa tripulação.

The Orville – 2X02: Primal Urges — EUA, 3 de janeiro de 2019
Direção: Kevin Hooks
Roteiro: Wellesley Wild
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, Halston Sage, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Jason Alexander
Duração: 44 min. (cada)

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