Home TVEpisódio Crítica | The Orville – 2X14: The Road Not Taken

Crítica | The Orville – 2X14: The Road Not Taken

por Giba Hoffmann
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  • Contém spoilers. Leiam, aqui, as nossas críticas dos outros episódios.

Se considerarmos que um dos principais méritos de The Orville tem sido o de provar que nenhum clichê é essencialmente desgastado demais para não ter chances de funcionar como novidade, The Road Not Taken é um encerramento perfeito para a ótima segunda temporada do programa, representando essa qualidade em vários níveis — e, se já não bastasse, fazendo parecer fácil.

Em termos de narrativa, assumindo de forma segura o twist empolgante do episódio anterior, o finale traz de quebra uma costura direta com a trama de Identity, outro grande ponto alto da temporada. A decisão de Kelly (Adrianne Palicki) em não aceitar o segundo encontro com Ed (Seth MacFarlane) nos leva diretamente para um futuro terrível onde a amaça Kaylon dizimou os quatro cantos da galáxia. De maneira econômica e com muita precisão o episódio nos introduz, através do saque do replicador de comida por parte de Mercer e Gordon (Scott Grimes), um primeiro vislumbre comédico dessa realidade mais dura em um mundo sem o Capitão Mercer no comando da Orville.

Daí em diante, acompanhando nossa tripulação nessa linha do tempo paralela, o roteiro explora muito bem suas personaliades bem trabalhadas nesse contexto diferente, armando uma trama bem focada que empolga do início ao fim. Não há grandes faltas nem excessos exagerados aqui: a narrativa se situa muito bem com o tempo de tela de que dispõe, e encaminha-se para uma conclusão em tempo hábil que trabalha dentro dos limites de seu formato. Irresistível a comparação com a 2ª temporada de Star Trek: Discovery, que trouxe elementos narrativos semelhantes mas pecou justamente pela abertura prolixa de vias narrativas que não foram seguidas com a atenção que exigiam.

O combo “futuro distópico + viagem temporal” parece já ser um elemento tão comum à ficção científica quanto robôs ou naves espaciais. Como costuma ser o caso com a série, o segredo aqui parece ser, ao menos em parte, a sábia decisão em não tentar maquiar o clichê como novidade, e investir o tempo de tela em frutos mais palpáveis como a construção de personagens e a montagem de situações empolgantes. A premissa simples é levada a cabo de forma a recortar as partes mais interessantes da jornada da tripulação rumo a corrigir o evento catastrófico de forma inusitada — qualquer semelhança com um certo filme atualmente em exibição provavelmente se deve ao fato de que ambas as produções obviamente bebem das mesmas fontes. E tudo bem com isso — o importante é a história contada aqui e agora, e em ambos os casos felizmente o espectador deve sair bem servido.

Claro que os visuais também têm um papel central, e nesse campo a produção novamente se assume como carta de amor descarada aos gigantes do gênero. Não se contentando em brincar de Star Trek, a série se aventura aqui por outros bastiões do gênero de forma inspirada. De forma quase metalinguística, o futuro distópico retratado aqui traz o oposto da utopia clean e colorida de Trek, evocando de forma muito envolvente a ficção espacial mais pedregosa de um Firefly ou Battlestar Galactica, por exemplo. O cargueiro que serve como encarnação temporária da Orville, a base da resistência (com direito a cameo de Alara (Halston Sage) — nossa Orville já ficando grandinha e mergulhando no próprio fanservice!) e os ambientes pós-apocalípticos retratados nos dão uma ideia concreta do futuro que poderia ter sido, e garantem contornos dramáticos para dar o lastro de devida importância para a missão atual de Kelly.

Uma boa realidade alternativa distópica é essa em que você não só entende que “deu ruim” e o “porque” dessa tragédia, mas se interessa especialmente pelos “comos” disso tudo, quer saber mais sobre os personagens conhecidos naquela situação desconhecida. Bortus (Peter Macon) e LaMarr (J. Lee), em especial, protagonizam excelentes momentos heroicos que ficam fora de seu eixo usual, mais humorístico, no dia-a-dia da nave como nós o conhecemos. A missão de resgate, que envolve enviar uma Dra. Finn (Penny Johnson Jerald) desorientada para o passado de forma a terminar o apagão de memória de Kelly, monta situações brilhantes que vão do atirar uma shuttle direto da órbita até o fundo da Fossa das Marianas até batalhas espaciais pra lá de empolgantes contra os Kaylons.

A escolha em se focar no casal central também rende ótimos frutos. O relacionamento entre Mercer e Grayson nunca me pareceu muito interessante para além de um dado de caracterização dos personagens (e pano de fundo para comédia fácil, é claro). No entanto, a exploração feita aqui é muito bacana: o relacionamento dos dois, detalhe insignificante na cronologia da galáxia, acaba sendo capaz de salvá-la — por conta de uma cadeira de capitão arranjada de forma a tentar se desculpar por uma traição, de todos os motivos mesquinhos…

Que esse encadeamento absolutamente ordinário dos fatos tenha sido o fator decisivo para um final feliz no arco Identity acaba ressoando como uma temática interessante e inusitada para The Road Not Taken: a dupla Ed Mercer e Kelly Grayson como uma ode à pessoa comum, ao ordinário nada heroico e a diferença que ele é capaz de fazer no(s) mundo(s). Sem a coragem de um Kirk ou a astúcia de um Picard, mas ainda assim salvando a galáxia. Ainda sem terceira temporada confirmada, ficamos na torcida para que a Casa do Camundongo tenha boa fé em relação a The Orville, já que se trata de um cantinho de televisão que tem explorado uma veia específica como nenhum outro, mesmo com a (feliz) subida recente de interesse pelo subgênero. Se o pior acontecer, ao menos a jornada se encerrou em um ápice narrativo e temático.

The Orville – 2X14: The Road Not Taken — EUA, 25 de abril de 2019
Direção: Gary S. Rake
Roteiro: Seth MacFarlane, David A. Goodman
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Jessica Szohr, Mark Jackson, Chad L. Coleman, BJ Tanner, Kai Wener, Halston Sage, Norm MacDonald
Duração: 44 min.

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