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Crítica | The Orville – 3X01: Electric Sheep

A redenção de Isaac.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Depois de atrasos de produção causados pela Disney ter comprado a Fox, e também por culpa da pandemia, The Orville teve um hiato de mais de três anos, finalmente retornando agora com nova casa, o serviço de streaming da Hulu, e também com subtítulo: New Horizons. Apesar do que o novo nome possa indicar, o começo da terceira temporada é uma continuação direta do tom mais dramático que o criador Seth MacFarlane aderiu a partir do segundo ano, deixando um pouco de lado a sátira da temporada de estreia, também lidando com um problema de eventos passados: a traição de Isaac (Mark Jackson).

É um conflito apresentado tardiamente na história do seriado, considerando que MacFarlane deixou essas repercussões engavetadas por cinco capítulos após os acontecimentos de Identity, decidindo abordá-las aqui como uma correção de curso do roteiro da série. É um pouco estranho em termos de continuidade narrativa e ainda mais estranho como o início de uma nova temporada, mas problematizar as ações de Isaac e os efeitos que sua reativação tiveram na moral da tripulação ainda é uma premissa interessante para se contar uma história.

O texto de MacFarlane é rápido e perspicaz na forma que estabelece o conflito do episódio, usando uma sequência de sonho de Marcus Finn (BJ Tanner) para fazer uma recapitulação da Batalha de Kaylon e compor o drama traumático de outros tripulantes, assim como para proporcionar cenas de ação com muito CGI para surpreender a audiência com euforia após a longa pausa. A partir disso, Electric Sheep direciona a história para Isaac, com diversos personagens confrontando de forma hostil o robozinho, inclusive o próprio Marcus, e também Charly Burke (Anne Winters), nova integrante da nave que tem uma personalidade forte e que irradia tensão no episódio.

Á medida que o conflito é desenrolado e desmembrado para diferentes personagens, as temáticas ficam cada vez mais sérias, com discussões indo de ódio a suicídio de maneira organicamente melancólica, sobrando destaque para a direção cadenciada e meditativa de MacFarlane, especialmente na cena de Claire Finn chorando sozinha – a escolha por não ter música ao fundo é sutilmente perfeita e aumenta a dimensão de tristeza vaga do momento. Aliás, Electric Sheep funciona melhor quando é voltado ao drama familiar dos Finn e sua relação conturbada com Isaac, do que nos embates de Burke, ainda que a personagem seja essencial para o desfecho e a mensagem geral da história.

É um episódio basicamente de perspectivas, montado com diversas brigas e argumentações sobre a reinstalação de Issac e posteriormente sobre sua escolha de suicídio. Cada ponto de vista e cada contraponto têm bons fundamentos e justificativas, especialmente pelo lado emocional que a morte atinge, o que torna as discussões ricamente tênues, e as discordâncias genuinamente válidas. Não existe uma solução correta. O fato dos elementos cômicos não terem parte aqui é mais um ponto positivo, com MacFarlane atacando o chato preto-no-branco sem facilitadores e sem risadinhas – minha única ressalva é aquela looonga sequência de Malloy pilotando, sendo totalmente deslocada e sem sentido no contexto geral do episódio.

Além disso, como é comum na série, há diversas referências ao gênero de ficção científica. Tirando as óbvias inspirações em Star Trek, o episódio é uma ode à Philip K. Dick, como o próprio título indica, trazendo seus temas existenciais para a essência da história após o suicídio de Isaac.  Há alguns contrapontos interessantes sobre o tema, como o debate cultural de LaMarr com uma alienígena que defende o ato, mas é especialmente interessante como o roteiro utiliza o clichê de “máquinas têm emoções?” para explorar como os atos de Isaac são reflexos das emoções humanas e dos ataques que sofreu, e como sua decisão “lógica” vem com diferentes camadas psicológicas, emocionais e, bem, humanas, para um ser sem sentimentos.

Obviamente, MacFarlane não tem a mesma profundidade e reflexão de um Philip K. Dick, mas o artista continua mostrando sua diversidade de abordagem, não tendo medo de sair da sua zona confortável da comédia para levar The Orville cada vez mais para situações dramaticamente complicadas. É um episódio meio confuso em termos de timing narrativo e também não funciona tão bem para estabelecer o tabuleiro e o status quo da New Horizons, mas funciona como o fechamento tardio para conflitos passados e como uma história bastante interessante por si só, principalmente em termos de desenvolvimentos de personagens e dinâmicas da nave.

The Orville – 3X01: Electric Sheep — EUA, 02 de junho de 2022
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Anne Winters
Duração: 69 min.

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