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Crítica | The Orville – 3X05: A Tale of Two Topas

Poder de voz.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

A Tale of Two Topas traz uma das minhas tramas favoritas em The Orville: o enredo dos Moclan e a sua doutrina machista. São episódios complicados, reflexivos e de difícil interpretação. Felizmente, Seth MacFarlane sempre consegue abordar o cenário melindroso e desafiador com boas histórias, e o mais novo episódio de New Horizons é, talvez, o melhor capítulo da narrativa recorrente de Bortus, Klyden e Topa na série.

A premissa começa de maneira simples, inclusive com algumas piadas com leves referências à Indiana Jones numa escavação arqueológica. Rapidamente, porém, vemos que nada disso importa, com a narrativa nos encaminhando para Topa tendo um exercício de batalha na sala de simulações da nave. Na esperança de um dia se tornar um oficial da União, o personagem está tentando encontrar algum tipo de propósito, aceitando ter a Comandante Kelly Grayson como mentora. No processo de aprendizagem, Topa se abre para Kelly sobre sua profunda infelicidade e incertezas acerca de si mesmo. As dúvidas, claro, nascem do fato do personagem ter tido seu sexo alterado quando era um bebê, uma mudança que ele sente, mas que não consegue entender ou identificar.

O que segue a partir disso é uma história de diferentes discussões e perspectivas, como The Orville adora fazer. O primeiro ato do episódio circula o questionamento de “devemos contar para Topa?”, com brigas calorosas entre Kelly e Klyden, enquanto o ato final é sobre o desejo de Topa em fazer uma cirurgia de “destransição” sexual. Provocante nem começa a definir a situação, com McFarlane tendo a incrível capacidade de irritar tanto minorias quanto os chatos de plantão que gritam “lacração” aos quatro ventos sempre que não veem algo sobre um homem branco ganhando uma luta.

O negócio é que A Tale of Two Topas não é exatamente sobre cultura trans e LGBTQ+. Claro que as analogias e os paralelos existem, passando por identidade de gênero e preconceito social, mas o dilema de Topa é mais sobre direitos, consentimento e autonomia do que necessariamente sobre um grupo específico ou uma grande metáfora realista. É nesse ponto que o roteiro de MacFarlane sempre fica interessante nas tramas dos Moclan, porque o artista não quer dar uma “mensagem”, não quer “apenas” criar uma representação óbvia e objetiva, e muito menos mastigar lições de moral.

É um roteiro de nuances, com diversas camadas, negando qualquer tipo de facilidade interpretativa para o público. Topa tem o direito de saber, mas quem tem o direito de contar? Até onde uma criança tem o direito de decidir mudanças corporais drásticas? E se elas já tivessem acontecido, o panorama muda? E onde é traçado a linha entre tolerância cultural e respeito universal? É tudo tão magistralmente intrigante aqui. Da velha dicotomia do indivíduo X coletivo, inclusive com blocos de críticas políticas, até a fantástica cena de Isaac confrontando a irracionalidade humana com lógica, todo o episódio é uma sucessão de diálogos cheios de ambiguidade e ponderação sobre a natureza de existir em sociedade.

Ainda mais interessante, então, que num roteiro com tanta abrangência temática, a abordagem da direção e da narrativa seja íntima e particular. Saindo das reflexões, simbologias, analogias, críticas e comentários sociais, A Tale of Two Topas é essencialmente um estudo de personagem e um drama familiar, transbordando angústia e empatia na história de uma criança tentando entender a si mesma e descobrindo o poder de voz de maneiras espetacularmente emocionantes, seja nas conversações de Kelly, seja no momento que Topa se vê representada com orgulho e felicidade no discurso de Heveena. The Orville continua dando aula!

The Orville – 3X05: A Tale of Two Topas — EUA, 30 de junho de 2022
Direção: Seth MacFarlane
Roteiro: Seth MacFarlane
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Anne Winters
Duração: 65 min.

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