- Contém spoilers. Leiam, aqui, as nossas críticas dos outros episódios.
Após um conflito da União e a Orville contra os Kaylon, um acidente envolvendo o dispositivo Aronov envia Gordon Malloy de volta no tempo para o início do século 21, cabendo à tripulação trazer seu piloto de volta. No entanto, além da dificuldade de ir até o passado, o capitão Mercer e companhia encontram um dilema moral que deixará cicatrizes em alguns personagens, marcando a série com um desfecho cruel e comovente.
Chegando ao passado, a tripulação se divide em dois grupos: Mercer e Kelly vão procurar Malloy, enquanto Charly e Isaac precisam encontrar uma forma de combustível para retornar para casa. O núcleo de road trip entre o robozinho e a novata não é muito interessante, com o roteiro trazendo alguns momentos divertidinhos e forçando outro embate entre os dois personagens. Está ficando difícil de simpatizar com a Charly, pois a produção parece ter criado a personagem apenas para que essa trama repetitiva exista, deixando de desenvolver a ensign em qualquer outro aspecto que não seja ódio e rancor pela traição de Isaac.
Felizmente, o centro do episódio é completamente diferente. O roteiro utiliza-se da divertida e famigerada viagem no tempo para compor uma história extremamente pessoal ao redor de Malloy, Ed e Kelly quando a Orville chega ao passado 10 anos “atrasada”, com o piloto tendo constituído uma família e, por conseguinte, não desejando voltar ao seu período de tempo. A história acena diretamente para Lasting Impressions, com o romance de Malloy e Laura se tornando real.
A condução narrativa é notável, começando com algumas pistas e um bloco de ação bem frenético, para logo depois compor com paciência e introspecção o cenário no século 21. Existem muitos momentos tocantes sobre amizade, como a reunião dos três amigos no porto e posteriormente no final do episódio, e também sobre família, seja na nítida felicidade do carismático Malloy ao apresentar sua esposa e filho, seja na “despedida” emocionante sobre os laços de amor.
Mas também existem momentos dolorosos de embate e discussões sobre dever, bem-maior e sacrifício quando Ed e Kelly querem obrigar Malloy a abandonar sua família. Apesar de Seth MacFarlane não ser o melhor ator para transpor a culpa do capitão, ele continua mandando bem como roteirista, tendo uma abordagem um tanto obscura e mais alegórica do que hard sci-fi para uma trama de viagem no tempo, especialmente em relação aos diálogos. As conversas do episódio são cortantes, humanas e de nos deixar de coração partido, com destaque especial para um Scott Grimes comprometido com a dor impossível do seu personagem.
Como um dos leitores sagazmente pontuou em uma das minhas críticas, os episódios de The Orville estão parecendo filmes. Twice in a Lifetime passa essa impressão com sua história de “e se?” completamente fechadinha e com duração acima de 60 minutos, ainda que seja bem possível que tenhamos desdobramentos deste evento em futuros episódios. O desfecho com a Orville voltando no passado mais dez anos para resgatar Malloy antes dele construir uma família, consequentemente apagando a existência de seus filhos (será?), é simplesmente angustiante. A narrativa é tão eficiente em transpor a situação que Ed e Kelly se tornam antagonistas aos nossos olhos, enquanto Malloy é um homem fora do tempo em uma história sobre uma escolha impossível, o dilema do dever e os cacos emocionais que sobraram de um evento super dramático.
The Orville – 3X06: Twice in a Lifetime — EUA, 07 de julho de 2022
Direção: Jon Cassar
Roteiro: Seth MacFarlane
Elenco: Seth MacFarlane, Adrianne Palicki, Penny Johnson Jerald, Scott Grimes, Peter Macon, J. Lee, Mark Jackson, Chad L. Coleman, Will Sasso, Mike Henry, Chris Johnson, Anne Winters
Duração: 70 min.
