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Crítica | The Sandman – 2X12: Morte: O Alto Preço da Vida

Uma despedida bonitinha.

por Kevin Rick
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Lançado como epílogo da segunda e última temporada de The Sandman, Morte: O Alto Preço da Vida é um episódio que abre mão da grandiosidade mítica para retornar a explorar o extraordinário nas dobras sutis do cotidiano. Após uma temporada marcada por confrontos divinos, renúncias existenciais e tragédias inevitáveis, esse conto menor funciona como uma despedida morna para o seriado. Nada mais natural, portanto, que seja um capítulo especial focado na Morte (Kirby Howell-Baptiste), acompanhando a jornada da personagem que assume uma vida mortal por um único dia a cada século.

Durante sua folga, a Morte encontra o desiludido e desajeitado Sexton (Colin Morgan). A estrutura da história é simples, quase ingênua em sua premissa: Morte quer viver um dia como humana para lembrar por que a existência vale a pena; Sexton quer morrer porque não enxerga sentido algum. Da colisão dessas duas perspectivas nasce uma narrativa que busca sutileza, onde os grandes temas — morte, vida, tempo, sentido — não se impõem com peso, mas são percebidos nos pequenos gestos, nas conversas soltas e nas ações dos personagens. Existem muitas coincidências e conveniências nessa trajetória, ajudando ao argumento simples, quase de uma fábula urbana do episódio.

Infelizmente, mesmo almejando uma história singela e profunda, o texto tropeça em alguns momentos de filosofia barata e em alguns monólogos pouco inspirados sobre os pequenos prazeres da vida. A narrativa tem dificuldade com os momentos de maior tensão – como quando a protagonista e Sexton ficam presos na boate – e também com o uso de alguns personagens – como a Hettie Louca, bem deslocada -, e a trama de maneira geral é pouco memorável e nada de muito diferente sobre o tópico da importância de viver. Ainda assim, o episódio encontra momentos bonitos, com um conto que tem coragem de desacelerar, que rejeita a ansiedade narrativa, que não quer forçar algum pós-crédito de gancho pro futuro da franquia, e uma trama que se resolve dentro de si, sem depender de cliffhangers ou reviravoltas.

Kirby Howell-Baptiste é o grande ponto positivo no meio do episódio, retomando o papel de Morte com uma leveza que contrasta com o peso da personagem. Ela é calorosa, excêntrica sem ser caricata, profundamente presente e vende bem a ideia de uma companhia que equilibra ternura e melancolia na passagem desse mundo. Seu drama de ter uma vida efêmera também cativa, principalmente no finalzinho do capítulo. Já seu companheiro de cena, Sexton, é meio que o oposto. O personagem representa o cansaço da juventude contemporânea, mas a performance de Morgan é pouco inspirada dentro do arquétipo do jovem depressivo, que passa mais tédio existencial do que emoção e conexão (de maneira geral, achei o personagem até irritante). O elenco coadjuvante à sua volta é mais interessante, incluindo Theo em seu dilema com pouco tempo de tela.

A direção de Jamie Childs também deixa a desejar. A adaptação teve seus momentos de simbolismo visual, algo que não é empregado aqui, onde tudo parece bem banal. A cidade é filmada como qualquer cidade genérica, os ambientes não têm identidade e a fotografia, que poderia apostar em contrastes entre o mundo etéreo de Morte e o cotidiano humano, opta por um tom neutro. Pode ser argumentado que a produção escolhe a simplicidade como abordagem, já que nada aqui grita fantasia ou mitologia. As ruas são comuns, os enquadramentos são discretos, a fotografia é escura, com uma pegada meio melancólica, mas nunca opressiva. Mas mesmo assim, para um capítulo que aposta tanto em lirismo, faltou um tato estético e uma criatividade por parte da produção para ajudar a proposta – a própria sequência final da Morte “entre mundos” não é marcante.

Morte: O Alto Preço da Vida é uma tentativa de buscar valor em algo pequeno, porém importante, quando comparado ao escopo desse universo: um único dia de vida. Existe aqui suavidade, gentileza e afeto o suficiente para entregar um conto bonito, mas também falho e morno. Em sua contenção, porém, o único capítulo que tem Neil Gaiman creditado como roteirista é uma despedida apropriada para o seriado, buscando fazer com que o espectador olhe para a própria vida com um pouco mais de ternura, mas sem negar o lado agridoce da nossa existência.

Sandman – 2X12: Morte: O Alto Preço da Vida (Death: The High Cost of Living) — EUA, Reino Unido, 31 de julho de 2025
Direção: Jamie Childs
Roteiro: Neil Gaiman, Allan Heinberg
Elenco: Kirby Howell-Baptiste, Colin Morgan, Clare Higgins, Jonno Davies, Adwoa Akoto, Jade Anouka, Kem Hassan, Tayla Kovacevic-Ebong, Ellie Mejia, Tracy-Ann Oberman
Duração: 58 min.

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