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Crítica | The Shivering Truth – 1X00: Chaos Beknownst

Bizarro e genial.

por Luiz Santiago
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 2
Número de episódios: 13 (12 episódios regulares e um piloto lançado como forma de Especial)
Período de exibição: 22 de maio de 2018 até 14 de junho de 2020
Há continuação ou reboot?: Não.

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Uma mistura de todas as maravilhosas bizarrices que a gente conhece do Adult Swim, The Shivering Truth é aquele tipo de série animada em stop-motion da qual você não consegue tirar o olho de jeito nenhum. Saído da mente perturbada de Vernon Chatman, o programa é construído em formato de antologia, com cada episódio narrando diversas histórias que podem ou não ter algum tipo de ligação. No caso de Chaos Beknownst, o piloto da série, temos situações que mostram as inúmeras possibilidades do projeto, a linha de roteiros que se propunha seguir e, claro, aquele alto nível de trabalho em animação quadro a quadro que, por si só, já garantiria a obrigatoriedade de conferir a produção.

As histórias separadas de Chaos Beknownst não estão ligadas narrativamente, mas há uma cadência perfeita entre elas, começando com o curtíssimo drama de uma garota cega do Ensino Médio que teve seu sutiã puxado (e a subsequente investigação para descobrir quem foi — mais o motivo); seguindo-se a hilária história de uma operadora de linha direta de suicídio (e como duas pessoas com intenções e ações contraditórias criam uma bizarra interação de vida e morte); e finalizando-se com a complexa, reflexiva e lírica (?) aventura de um cientista que pesquisa o Efeito Borboleta e que chega a verdades inimagináveis sobre o evento. Esta última história é a grande estrela do episódio, seja por sua extensão, pela variedade de cenários utilizados, pela composição das cenas, atenção aos detalhes e cuidadoso desenvolvimento conceitual de toda a saga.

O texto de Vernon Chatman (que também é o diretor, ao lado de Cat Solen) explora um humor cru, seco, com cortes bruscos, frases curtas e conclusões sombrias para as ações de um personagem, especialmente na terceira história. Em todas elas, porém, essas transições — que servem como punchline de alguma piada ou sugestões de acontecimento medonho — fazem sentido e não deixam o espectador sem respostas. A ausência de explicação sobre “como” algo aconteceu não faz diferença ou nem é importante para a história, o que denota grande cuidado na escrita do texto, para não tornar o episódio preguiçoso, como vemos em muitas séries que jogam um monte de migalhas, introduzem dezenas de mistérios, confundem a cabeça do público, não criam base de reflexão ou resolução e se escoram no famoso “final aberto“; recurso de escrita usado e abusado por maus roteiristas. Ainda bem, este não é o caso aqui, mesmo nas interrogações deixadas nos segmentos.

Construída com uma técnica de armaduras (arame) cobertas por resina, isopor, silicone ou lã, a animação é visualmente amedrontadora, e a coloração dos fantoches de 25 cm, dos cenários e dos objetos diante dos quais a câmera se aproxima ao máximo nos lembra algo doentio, sombrio, percepção bem própria de animações de terror, mesmo em sequências onde a fotografia tem cores quentes ou aparentemente retrata situações normais e bonitinhas. São onze minutos de cenas atmosfericamente pavorosas desfilando na tela, animadas com técnica e qualidade impecáveis e nos fazendo rir de coisas que, a rigor, não têm graça nenhuma. Ou seja, é um daqueles episódios que viram a chavinha do humor ácido para o humor tétrico e vai rompendo um bom número de barreiras do aceitável. Imperdível, é a única palavra para definir essa maravilha aqui.

The Shivering Truth – 1X00: Chaos Beknownst (EUA, 22 de maio de 2018)
Direção: Vernon Chatman, Cat Solen
Roteiro: Vernon Chatman
Elenco (vozes): Michael Cera, Vernon Chatman, Jonah Hill, Starlee Kine
Duração: 11 min.

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