Número de temporadas: 01
Número de episódios: 13
Período de exibição: 22 de janeiro a 12 de maio de 1987
Há continuação ou reboot?: Não, mas a série é um spin-off de Cheers.
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O sucesso de Cheers a partir de 1982 foi tremendo e era óbvio que seus criadores tentariam de alguma forma tirar o leite dessa vaca o máximo possível. Mesmo que eles tenham sido muito bem sucedidos com Wings, que compartilha o mesmo universo e ficou no ar por oito temporadas e com o spin-off direto, que também pode ser visto como continuação, Frasier, que ficou no ar por nada menos do que 11 temporadas, a primeira empreitada nesta direção veio em 1987, com a esquecida The Tortellis.
A série, estrelada por Dan Hedaya como Nick Tortelli, ex-marido da garçonete desbocada Carla (vivida por Rhea Perlman em Cheers) teve recepção morna e, depois de ser ferozmente atacada por uma associação de descendentes de italianos nos EUA que viam o protagonista como um estereótipo, foi cancelada depois de apenas 13 episódios. Considerando que Nick Tortelli já aparecera na série-mãe algumas vezes, sempre com a esposa-troféu Loretta (Jean Kasem) à tiracolo, essa reclamação nem faz muito sentido, mas o cancelamento da série sim, mesmo considerando que meu “veredito” se dá apenas tendo conferido o episódio piloto.
Nele, Nick, depois de se separar de Loretta, vai para Las Vegas tentar reatar com ela. O começo chega a ser estranhíssimo e ao mesmo tempo curioso, com Nick, às portas do Paraíso, tentando entrar, somente para acordar em um ônibus chegando na Cidade do Pecado. Mas isso logo é esquecido e trocado pelo padrão, com a premissa sendo resolvida imediatamente, já que Loretta o recebe na casa da irmã Charlotte (Carlene Watkins) que tem um filho pequeno Mark (Aaron Moffat), e Nick passa a morar por lá. O que segue, daí, é a chegada de Anthony (Timothy Williams), filho de Nick, e sua jovem esposa Annie (Mandy Ingber), que também passam a viver ali.
É uma estrutura cansada que, muito longe de se apoiar no estereótipo do ítalo-americano (ele existe e é bem evidente, mas não é nem de longe tão agressivo assim), o que o Piloto faz é focar na mais completa objetificação das mulheres ali presentes, seja Loretta, a típica loira burra ou Charlotte, que Nick passa o tempo todo cobiçando. Aos que vão dizer que isso era comum na época e tal, eu sei, eu vivi essa época e sei muito bem disso. Mas o problema não é a objetificação em si, mas sim o roteiro tirar quase que a totalidade de suas piadas desse tropo. Cheers, por exemplo, tem a mesma coisa, mas é apenas um detalhe usado aqui e ali para “colorir” os roteiros. Em The Tortellis, essa questão, que se mistura com a extrema burrice de Loretta, está no centro da história.
Como se isso não bastasse, as piadas tem timing terrível, com Dan Hedaya até se esforçando em seu papel, mas entregando uma atuação que se baseia em berrar os diálogos, recebendo berros em resposta. E, com isso, o interesse que o episódio consegue amealhar com o citado preâmbulo estranhíssimo do sonho celestial de Nick é arremessado pela janela de cara e trocado por uma estrutura simples, o que é ótimo, mas completamente genérica e repetitiva, o que é péssimo, obviamente.
Sei que qualquer comparação com Cheers é injusta e deveria ser evitada, mas, como a série é um spin-off direto criado pela mesma equipe, era de esperar algo inteligente e bem pensado. Mas não. The Tortellis é quase um anti-Cheers, uma série que parece ter sido criada para ganhar um trocados rápidos com qualquer coisa, o que não é incomum em Hollywood, claro. O lado bom da experiência com o fracasso da série é que ela fez seus criadores pensarem melhor o que fazer para aproveitar de verdade o material base.
The Tortellis – 1X01: Pilot (EUA, 22 de janeiro de 1987)
Criação e desenvolvimento: Ken Estin, Glen Charles, Les Charles, James Burrows
Direção: James Burrows
Roteiro: Ken Estin
Elenco: Dan Hedaya, Jean Kasem, Carlene Watkins, Aaron Moffat, Timothy Williams, Mandy Ingber
Duração: 24 min.
