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Crítica | The Vampire Diaries – A Série Completa

por Iann Jeliel
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The Vampire Diaries

Dizer que a CW é a emissora mais predatória do mundo da TV é uma redundância inegável, até quem gosta de suas “formulinhas” de sucesso baratas tende a reconhecer a infinitude de problemas relacionados à extensão de seus seriados pelo máximo de tempo possível para que eles tenham audiência. Dito isso é desconsiderando esses problemas nos quais “TVD” (sigla para The Vampire Diaries) também se enquadra, é possível encontrar nas nuances de suas obras o mínimo de caracterização e personalidade que justificam o fato de elas serem tão bem-sucedidas em público. Grande parte desses méritos está na triangulação de seus personagens. Junto a Supernatural, talvez The Vampire Diaries seja a série da CW com a gama mais carismática de estereotipações em constante transformação. 

Os irmãos Salvatore movimentam diferentes conflitos ideológicos que modificam o universo “high school” dos adolescentes. É uma maneira eficiente de se introduzir o universo para o público-alvo, que queria ver seu colegial ameaçado por criaturas mitológicas vestidas de belos marmanjos bonzinhos ou “anti-heróis”. Mesmo sem intenção, esse ar canastrão dos embates familiares e/ou adolescentes funciona dentro da falta de planejamento, onde o passado convenientemente aparece com justificativas e ao mesmo tempo instaura novos conflitos com a máxima urgência para terem que “pular” logo para o próximo. Claro que essa escolha dá uma tremenda irregularidade à narrativa, que não tem uma unidade se não a assumidamente episódica, várias subtramas espalhadas em 22 episódios ao longo de 8 temporadas, com alguns arcos bons e um senso consequencial até surpreendente (como o da Vicky, a primeira com quem Stefan sai da racionalidade), e outros são completamente sem noção (Silas, Os Viajantes, Kai…).

O que importa na real não é a história, mas como seus personagens se comportam nela. É um seriado de desventuras novelescas que, ao menos no início, era inegavelmente cativante dentro de sua proposta. As 3 primeiras temporadas tentavam não ficar na zona de conforto de ser apenas o que seus estereótipos diziam, buscando amplificar a escala em detrimento da evolução dos personagens. O elenco, por ser sempre bem empenhado, quando tinha mais material para trabalhar sabia entregar bem essas transmutações radicais da narrativa. Uma bela demonstração disso é Nina Dobrev, segurando Elena e o alter-ego Katherine numa dosagem equilibrada entre o sem sal de uma e a galhofa de outra, e logicamente Paul Wesley e Ian Somerhalder, convincentes até no piloto automático nos finalmentes da série, dos momentos mais sombrios e “bonzinhos” dos vampiros. 

Lógico que mesmo nessas boas temporadas, existia a cota gordurosa de enrolação, pegando como exemplo a narrativa “Os Originais”, possivelmente a mais memorável na cabeça do fandom (tanto que rolou série spin-off depois somente sobre eles), até essa teve seus desvios nada convincentes de percurso. Elijah com sua elegância ameaçadora introduz bem essa narrativa, que na crescente promete a chegada de um tal de Klaus como o grande vampiro supremo, e quando mostrado pela primeira vez, vem ao mundo através de uma troca de hospedeiros (isso é coisa de vampiro?), barganhando por um artefato que não leva nem ele nem os mocinhos a cumprirem seus objetivos. Leva um tempo para ele se transformar no grande vilão da série, manipulador e ao mesmo tempo de ego frágil, temperamento explosivo e decisões instintivas que pedem constantemente para a narrativa inventar soluções criativas para lidar com um ser basicamente imortal. 

E mesmo assim, todos esses desafios impostos por Klaus (ou qualquer outro vilão) no fim não levam a grandes consequências. Geralmente os conflitos viviam de barganhas eternas para manter o personagem por maior tempo possível, consequentemente gerando diversas soluções preguiçosas e anticlimáticas de roteiro, criando ganchos para resolver pendências em outros momentos. Aliás, esse é um enorme problema da série, que prefere propor desvios e novos elementos de universo ao invés de resolver o que estava sendo articulado nos momentos decisivos, inchando escandalosamente a duração já desgastante. Isso só piora nas temporadas seguintes, com o agravante do “morre e não morre”, quando os personagens que deveriam ter tido seu adeus vão embora, os demais ao seu redor sofrem pelo acontecimento, mas alguns episódios ou temporadas depois, eles retornam se não à vida, com alguma pontinha para fornecer uma despedida conveniente.

TRECHO COM SPOILERS

Isso é repetido à exaustão com basicamente toda a gama de secundários, com raras exceções, inclusas num pacote de falta de peso, já que durante a assistida, a possibilidade de retornarem era altíssima. Tanto que nas 8 temporadas houve ao menos 5 conceitos do “além” introduzidos só para conseguirem resgatar personagens através da magia que insere uma nova regra sempre quando precisa. Primeiro eles funcionavam como almas soltas que alguns poderiam ver, depois passaram a fazer parte de um mundo inteiro ao qual alguns bruxos tinham acesso, mas aí na 5ª temporada esse entra em colapso com Bonnie (que já tinha morrido e foi ressuscitada) e Damon dentro, levando-os para uma dimensão de espaço-tempo, mas incrivelmente só eles foram, o restante dos mortos? Iriam para onde? Nem eles sabiam, aí na última temporada, criam um inferno e um céu para meterem o próprio diabo (de nome Cade) como vilão ultimato, sendo que para conseguirem derrotá-lo, eles inventam que o inferno dele é uma fenda própria, que Bonnie consegue abrir uma igual para adquirir a capacidade de derrotá-lo e impedir a morte de Damon. Mas logo no capítulo seguinte, Katherine volta dos mortos com a desculpa de ter que assumir esse inferno anterior do Cade, no qual ela e os outros personagens do outro mundo mencionado estavam desde o início, ou seja, qual o sentido de Bonnie e Damon terem ido para aquela outra dimensão e os outros para o inferno? Pois é, nenhum.

FIM DOS SPOILERS 

Claro que não dá para cobrar tudo fechadinho de uma série desse porte com tal proposta, mas acho que o mínimo de organização de conceitos deveria existir. Porque existem outras bizarrices, como a inserção de sereias e híbridos de lobisomem e vampiro que funcionam com coesão no universo. Nesse sentido, os romances se saem melhor, a formação de casais se difere muito ao longo do tempo, mas com as devidas ressalvas, boa parte obedece à situação atual em detrimento do histórico das personalidades, embora não sejam muitos aqueles que têm uma química funcional. O bom dessas mudanças constantes é que a série passeia entre diferentes dilemas, tanto familiares quanto de relacionamentos, o que não deixa outros elementos repetitivos como as musiquinhas melosas ao final de cada episódio ou diálogos extremamente expositivos (é sério, só ver quantas vezes algumas frases como “porque você é meu irmão”, “ele desligou a humanidade”, entre outras são repetidas) se tornaram tão cansativos. 

Contudo, infelizmente não tem jeito, mudar tanto e tantas vezes dentro de um mesmo modus operandi em 171 episódios pesa demais. Numa projeção de 5 a 6 temporadas, com 10 ou no máximo 13 capítulos cada, retirando toda a gordura e arcos irrelevantes, distribuindo melhor o orçamento, não tenho dúvidas de que existiria material para render uma grande série. Exemplifico com a última temporada de apenas 16 episódios, que embora não seja a favorita de muitos e tenha uma sequência de falhas cumulativas das outras, particularmente, pelo menos até o episódio 14 era a mais bem orquestrada por saber impor sua personalidade OBJETIVAMENTE e por estar no leito do fim, se dispôs a arriscar mais. Uma pena que o protocolo da CW colocou novas amarras tão covardes nos dois capítulos finais para fechar simpaticamente que acabou manchando o legado da temporada. Enfim, no balanço geral é uma jornada longa, pouco recompensadora, mas tampouco esquecível graças a grandes momentos, que para o público-alvo, feminino de 15 anos que cresceu assistindo, falaram mais alto que sua inegável irregularidade.

Diários de um Vampiro (The Vampire Diaries, CW/EUA – 2009/2017)
Criadores: Kevin Williamson e Julie Plec
Principais diretores: Chris Grismer, Joshua Butler, Marcos Siega, Kellie Cyrus, Michael Allowitz, Pascal Verschooris, J. Miller Tobin, John Behring, Jeffrey Hunt, Rob Hardy, Lance Anderson, Leslie Libman e Paul Wesley
Principais roteiristas: Caroline Dries, Brian Young, Julie Plec, Rebecca Sonnenshine, Brett Matthews, Kevin Williamson, Melinda Hsu Taylor, Neil Reynolds, Michael Narducci, Andrew Chambliss, Chad Fiveash, James Stoteraux, Holly Brix, Elisabeth R. Finch, Barbie Kligman e Evan Bleiweiss
Elenco principal: Paul Wesley, Ian Somerhalder, Nina Dobrev, Candice King, Kat Graham, Zach Roerig, Matthew Davis, Steven R. McQueen, Michael Trevino, Michael Malarkey, Marguerite MacIntyre, Joseph Morgan, Claire Holt, Sara Canning, Susan Walters, Daniel Gillies, Malese Jow, Kayla Ewell e David Anders
Duração: 43min (cada episódio) – 8 temporadas (22 episódios cada, com exceção da última com 16, totalizando 171) – Baseada na série de livros de mesmo nome escrita por L. J. Smith.

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