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Crítica | The Walking Dead – 10X16: A Certain Doom

por Iann Jeliel
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A Certain Doom

Esta jornada… sua jornada… deve ser completada. Não só para você, mas para todos nós aqui e aqueles que nós deixamos para trás. Devemos tentar. Isso é o que nos trouxe tão longe. E isso é o que eu quero lembrar. A Certain Doom A Certain Doom A Certain Doom

Rei Ezequiel A Certain Doom

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

No fim das contas, a pandemia trouxe um lado benéfico para definir o destino de The Walking Dead. Se por um lado assustou a série adiar sua season finale por não estar pronta dentro de três semanas de sua exibição, por outro a decisão de adiá-la talvez tenha sido a melhor que os produtores da série tomaram nos últimos anos, quando pouco se criou, mas se “consertou”. Desde a sétima temporada, em que o arco do Negan (Jeffrey Dean Morgan) foi postergado erroneamente por duas, a série assinou seu decreto de crise. Crise de audiência, decrescente conforme cada nova enrolação inserida, que provocou uma crise interna de recursos orçamentários e de personagens, com a saída de vários membros de peso do elenco principal – Carl (Chandler Riggs), Rick (Andrew Lincoln), Maggie (Lauren Cohan) e Jesus (Tom Payne). A nona temporada até conseguiu organizar o caos deixado pelas duas anteriores com sucessivas renovações, mas no fim, quando tinha que entregar seus efeitos práticos nessa temporada, recuou novamente sobre um novo pano de fundo, mas ainda enrolativo, dentro de dramáticas pouco substanciais e circuladas de promessas de um futuro que a série não tinha mais recursos para entregar em longo prazo.

Episódio adiado e Coronavírus cessando as capacidades produtivas, as criativas puderam finalmente ser pensadas com clareza. Será que valia a pena arriscar mais uma nova vida da série? A resposta nesse contexto é evidente. Por mais que defenda a tese de que pouquíssimas séries chegaram a 10 anos de existência ainda com tantas ferramentas dramáticas que as sustentassem substancialmente por mais tempo, é preciso saber o momento de encerrar um ciclo, especialmente se esse ciclo já não tem nem mais quem o iniciou, ou seja, talvez essa hora já pudesse ter passado para The Walking Dead, mas este episódio dá um fio de esperança que a série ainda tem sua última cartada. Sei que parecem contraditórios esses argumentos, visto que a season finale não é mais este episódio e que a série ainda terá mais seis episódios para terminar a temporada. Contudo, mesmo não sendo um episódio de fechamento, há um fechamento – até para não ser sacana com o público – da ameaça dos sussurradores, de modo prático, objetivo e que ainda valorizou e deu um beijinho sobre o potencial desperdiçado com esses vilões.

Mesmo que a sensação final ao pensar nesse arco como um todo é de que eles nunca foram esse desafio tão grande quanto prometiam – logo, não precisavam ter demorado quase duas temporadas para se resolver, tipo o Negan. O episódio consegue centralizar os seus baixos recursos para compensar a promessa numérica com a periculosidade ao que importa, sem precisar matar ninguém prejudicial no processo. Parece algo simples, mas é um feito deveras louvável vindo de uma série que já não conseguia oferecer essa sensação de ameaça sem apelar para perdas sentimentais práticas, mesmo em seus grandes episódios ao longo desses anos complicados. Existiram as exceções no meio do caminho, inclusive na própria temporada com Squeeze, mas naquele episódio e em outros, a sobrevivência vinha mais dos perigos do cenário do que exatamente de suas fontes primárias, os zumbis. Aqui não, toda execução do plano que precisava passar no meio de zumbis é conduzida de uma forma verdadeira, a câmera e os personagens se jogam no mar de mortos como se a vida deles realmente dependesse disso.

Essa vulnerabilidade é construída ao longo de todo o episódio, parece banal, mas foi o que fez The Walking Dead ser luxuosa em seus tempos de glória e oferecer um ponto de vista em que os personagens sentiam que tinham algo a perder, e que você realmente testemunhasse o perigo que trazia essa sensação a eles. Greg Nicotero volta à boa forma de dirigir episódios decisivos e conduz a experiência do mar de mortos com tremenda destreza, uma claustrofobia instaurada imagética e sonoramente, com os barulhos dos zumbis tomando conta do ambiente, e a tela preenchida com eles no melhor que os efeitos práticos da série tinham a oferecer, palpáveis, grotescos e presentes. Um preenchimento espacial preciso matura a ideia de que algo possa acontecer e que, mesmo que não aconteça, esse domínio de timing é suficiente para nos colocar numa atmosfera de grandiosidade, mesmo que a série não esteja totalmente presente visualmente.

Falo isso porque a figuração da temporada é um problema, não há a quantidade de sussurradores que deveria, assim como não há a quantidade de pessoas dos cinco reinos ali, mas aqui isso pouco importa, porque não é a guerra que constrói a grandiosidade, ela não está nos números, e sim nos pequenos momentos conduzidos de forma grandiosa e valorizada. O retorno de Maggie é gratificante nesse sentido, é a série puxando tudo o que resta de importante para se juntar novamente e iniciar o fim, que precisa ter o seu melhor disponível, “vibe” Padre Gabriel (Seth Gilliam), que só pela disposição de sacrifício e proteção ao que restou já evoluiu um pouco mais como personagem. Por isso também que Carol (Melissa MacBride) e Lydia (Cassady McClincy) não começam uma nova relação de maternidade, cada arco individual se preenche com o que havia sido produzido, uma salva a outra, literalmente e simbolicamente, na belíssima cena do penhasco, que seria ainda melhor se a temporada inteira fosse pensada para esse momento. Independentemente de pensar ou não, funciona porque, como dito, é a série se valorizando dentro do que tinha, levando Negan, Beta (Ryan Hurst) e Daryl (Norman Reedus) num duelo rápido, mas com movimentos tão plásticos quanto poéticos, visto o embate particular de cada um envolvido. É a redenção de que Negan precisava, é o momento que Daryl deveria ter tido, é a morte que Beta merecia.

E essa convergência de recursos fica muito clara e parece que finalmente tem aonde ir, no gancho deixado com Eugene e sua jornada para Stephanie, e com Virgil (Kevin Carroll) encontrando Connie (Lauren Ridloff) empoeirada da caverna. Não fica tão clara ainda a temporalidade entre as cenas, mas dá para supor que elas acontecem antes da ação principal e, de algum modo, o retorno de Maggie será a ponte da primeira, e Virgil uma ponte para que no futuro os outros encontrem aqueles esquecidos para desdobramentos finais. Lógico, com a instabilidade do universo The Walking Dead é bem possível que essa ideia e sensação passada se esvazie ao longo dos próximos episódios, mas só dentro desse hiato de meses sem um episódio, há uma transformação considerável de maturidade para um fim, que diante de seu anúncio, tinha mais é que estar presente. Ainda haverá 30 capítulos até lá, fora a confirmação do derivado de Daryl e Carol (o que preocupa de algum modo), e a sensação dada por este episódio não só é promissora como bem muito bem entregue dentro dele. Resta saber se esse novo hiato de um ano para pensar o que fazer do encerramento do ciclo será devidamente bem pensado, para ser igual e sequencialmente bem executado, como foi este início do fim.

The Walking Dead – 10X16: A Certain Doom | EUA, 04 de outubro de 2020
Direção:
Greg Nicotero
Roteiro: Jim Barnes, Eli Jorne, Corey Reed
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Christian Serratos, Josh McDermitt, Seth Gilliam, Ross Marquand, Khary Payton, Ryan Hurst, Jeffrey Dean Morgan, Callan McAuliffe, Eleanor Matsuura, Cooper Andrews, Nadia Hilker, Cailey Fleming, Cassady McClincy, Lauren Ridloff, Dan Fogler, Kevin Carroll, Paola Lázaro, Kenric Green, Angel Theory, Avianna Mynhier, Kerry Cahill, Nadine Marissa, Karen Ceesay, Lauren Cohan, Alex Sgambati, Briana Venskus, Gustavo Gomez, Anthony Michael Lopez, Anabelle Holloway, Antony Azor
Duração: 45 min.

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