Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 10X17: Home Sweet Home

Crítica | The Walking Dead – 10X17: Home Sweet Home

por Iann Jeliel
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Home Sweet Home

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

Num cenário caótico de quedas de audiência e qualidade após a oitava temporada, The Walking Dead tomou dois golpes duros na nona temporada com a perda iminente de Andrew Lincoln (Rick Grimes) e Lauren Cohan (Maggie Greene) no elenco. Lincoln precisava passar mais tempo com a família na Irlanda, e com aviso prévio (até por ser o protagonista), ganhou um episódio inteiro para a sua despedida. Já Lauren nem chegou a ter a mesma dedicatória, pois sua saída ainda dava brecha a um possível retorno no futuro, visto que a personagem não havia morrido ou parecia ter morrido nos olhos dos outros personagens, como foi o caso de Rick. Ela simplesmente abandonou o grupo por motivações genéricas – ela teve desentendimentos sérios com Michonne (Danai Gurira)… Mas quais? – porque a atriz optou por abandonar o show para dedicar sua agenda a outros projetos que via como mais promissores naquele momento, mais especificamente a série Jogo de Espiões da ABC, em que ela era protagonista. Home Sweet Home

Essa série, no entanto, foi cancelada logo em sua primeira temporada, ou seja, era só uma questão de tempo até a atriz decidir voltar para o papel de que ela nunca deveria ter cogitado sair, nem sequer dar uma pausa. Apesar do controle de danos da nona temporada ter reverberado em uma ótima temporada, a carência de personagens de peso ficou nítida nessa décima temporada, que teve uma dificuldade enorme em criar novas possibilidades à narrativa, sobrando tão poucos do grupo original com que a gente se importava (houve outras saídas importantes ainda no caminho, como a própria Michonne) para conduzi-las, tampouco conseguia sustentá-la em formato reduzido de mais desenvolvimento íntimo, buscando melhorar aqueles personagens presentes, que apesar de bons, não tinham calibre para as ambições que a série realmente tinha. Acabou que essas ambições de algum modo foram cessadas ou repensadas pela pandemia do Corona Vírus, o que na pausa da produção a forçou a tomar medidas drásticas para o futuro, anunciando seu fim na próxima temporada e deliberadamente acrescentando seis episódios extras à décima, visando organizar o tabuleiro já para direcionamentos finais.

O primeiro deles, Home Sweet Home, é descaradamente a explicação que ficou por tanto tempo guardada: por que Maggie decidiu abandonar de vez o grupo de sobreviventes em quem tanto confiava. Aposto que nem os roteiristas exatamente sabiam qual seria,  porque era um cenário de incertezas junto à necessidade de continuar avançando a história, ou seja, o retcom acabaria sendo inevitável. E por mais que tente se fazer coerente, graças a vários fatores, a missão desse episódio era muito difícil de convencer dentro da verossimilhança contínua antecessora. Por isso, repito: Lauren Cohan nunca deveria ter saído. Sua personagem poderia ter ficado escanteada, mas era necessário na temporalidade um meio que mostrasse a gravidade do conflito entre ela e Michonne que a fez se afastar do grupo (talvez até apareça dentro do aspecto filler desses seis episódios, mas ainda seria tarde) por conta da presença de Negan (Jeffrey Dean Morgan), vivo na comunidade.

Eu até acho que seja plausível a motivação, a amargura não ter diminuído nem um pingo desde o momento em que Lucille atingiu a cabeça de seu amado Gleen (Steven Yeun), e isso é perfeitamente provado na cena em que eles se encontram. A atuação de Cohan é poderosíssima, tanto que não é necessário nem um diálogo para voltar o convencimento da amargura da personagem, apenas um olhar puramente odioso. No entanto, não deixa de parecer um velho drama, por mais que a intenção seja essa, para tentar retomar a personagem no posto de importância protagonista e ainda dar o gancho para que Negan se torne ainda mais um, só que agora mocinho (ainda nesses seis capítulos, haverá um somente contando sua origem para dar ênfase a isso), ainda é uma dramática tardia, inevitavelmente diluída em peso conforme todo esse tempo. Aliás, o tempo aqui é prejudicial inclusive num aspecto geográfico, que consegue prejudicar ainda mais a compra da motivação antiga de Maggie para o agora.

A décima temporada volta a ter uma distribuição de elipses pessimamente organizada na montagem. Quer dizer que esse tempo todo Maggie estava a menos de um dia de caminhada de Alexandria, vivendo com outro grupo aleatório do qual sobrou menos de meia dúzia? Que por sinal, ela vê vários morrendo nesse episódio e reage tipo: “Whatever”. Chega a ser egoísta para uma pessoa que, como bem descreve Kelly (Angel Theory), gosta de cuidar dos outros. Ok, se pararmos para pensar, é boa essa limpa de personagens para não termos mais secundários inúteis somente para encher o elenco, mesmo assim, é difícil não perceber a tentativa forçada de redução de números somente porque não há mais recursos. É só pegar a desculpa do que aconteceu com Georgia (Jayne Atkinson), aquela senhorinha que em The Key foi introduzida como líder de uma comunidade grande com direito a conhecimento e recursos que poderiam ser a deixa para a Nova Ordem Mundial, simplesmente não ter dado em nada. Fora que, como os sussurradores depois de Alpha morrer, a ampla população de Alexandria simplesmente desaparece. Na caminhada do fim, pelo jeito, precisa haver menos gente, mas seria bom ser mostrado organicamente como ocorreu essa diminuição.

Falta isso a Home Sweet Home, organicidade. The Walking Dead vem pulando várias etapas e de vez em quando funciona, quando o objetivo é realmente ser prática, como foi no último episódio. Não que aqui o objetivo não seja organizar um cenário de maneira prática também, mas a construção exige uma maturação de tempo que pelo visto a série não consegue mais fazer sem apelar aos mesmos ciclos. Uma nova ameaça é estabelecida nesse capítulo, um novo grupo psicótico que provavelmente estará ali só para providenciar os acontecimentos que precisam acontecer. Maggie e Negan precisam se entender, Hershel Neto (Kien Michael Spiller, a carinha toda de Gleen) é a ponte para isso, visto que Negan parece se entender bem com os jovens do grupo, e algo me diz que ele será capturado por esse novo grupo, Negan o resgatará e essas pazes finalmente possam acontecer – no mínimo, será algo do tipo. A grande questão em branco vai mais para a motivação específica desse grupo para com o grupo de Maggie, sendo o único elemento de gancho incerto o suficiente para sustentar a atenção do público de forma unitária entre esses episódios extras, com claro caráter de filler.

No fim, apesar de todos esses problemas mencionados, Home Sweet Home não chega a ser um episódio ruim. O núcleo da missão de resgate a Hershel, por exemplo, possui uma construção interessante de tensão da ameaça, que de invisível passa a ser fisicamente desafiadora até mesmo para Daryl e Maggie. Mesmo com aquele fim tosco do vilão explodindo à queima-roupa e não machucando ninguém ao redor, não anula a boa ação do capítulo, que tem outra cena interessante de matança de zumbis que rendeu um baita corte no braço de Maggie (pena que não deu tanto pano pra mangá depois, uma infecção ou algo do tipo) e peripécias visualmente divertidas do novo personagem “ninja” (Elijah – Okea Eme-Akwari), em seu método “massa véi” de matar os mortos-vivos. E claro, e mais importante, Maggie voltou, só de vê-la interagindo novamente com o grupo, já traz um ar diferente, de esperança para esse fim de ciclo, valorizar toda a história que o seriado construiu até aqui.

The Walking Dead – 10X17: Home Sweet Home | EUA, 28 de Fevereiro de 2021
Direção: David Boyd
Roteiro: Kevin Deiboldt, Corey Reed
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Cailey Fleming, Cassady McClincy, Angel Theory, Nadine Marissa, James Devoti, Okea Eme-Akwari, Brianna Butler, Kien Michael Spiller
Duração: 42 minutos

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