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Crítica | The Walking Dead – 11X05: Out of the Ashes

por Iann Jeliel
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Out of the Ashes

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead. 

É… Pelo jeito ainda estamos diante do velho The Walking Dead dos últimos anos. Acheron foi mais um daqueles vários lampejos de início e final nos recortes da temporada que nos enganam direitinho, empolgam num primeiro momento, mas esfriam logo depois, sem se sustentarem nem num “meio de meio de meio” de temporada – leia-se, meio da primeira parte de três que será esta última. Apesar de termos inúmeros núcleos em Out of the Ashes, o que teoricamente é algo bom, pelo menos para dar uma sensação de progresso, cada um deles carrega os mesmos problemas de travamento da narrativa, seja com protelações de acontecimentos para próximos episódios – o núcleo de Maggie (Lauren Cohan) e Negan (Jeffrey Dean Morgan) está aqui, infelizmente só para isso –, seja por retomar dramas que já passaram, mas aparecem no capítulo pela conveniência de ter algo para contar, sendo que isso figurativamente não vai mudar nada para ninguém na história.

Contudo, há um agravante no episódio dirigido por Greg Nicotero: a pobreza visual. Mesmo os dois anteriores, que não são bons episódios, apresentavam virtudes no quesito técnico, especialmente considerando a suposta limitação orçamentária, que fica provado – mais uma vez – nesse capítulo ser uma situação em que os produtores quiseram estar. Isso fica evidente na “introdução” à comunidade de Commonwealth, se é que podemos chamar o que foi feito aqui assim. Não é preciso ir muito longe, é só comparar com World Beyond, um spin-off da principal, que se passa em alguns episódios, numa comunidade de escala parecida. A geografia, a magnitude, o brilho que aquela cidade da CRM passava em parelho com esta de agora é de uma diferença inexplicável. Fica pior quando pensamos na forma absurdamente decepcionante como Commonwealth é filmada, fazendo-a parecer menor ou menos imponente do que uma Alexandria nos meandros da quinta temporada, quando ela apareceu. Planos extremamente fechados, escuros mesmo se passando de dia, sem nem uma paleta de exploração dos arredores para dar um mínimo de vislumbre aos personagens, mas também devia fazer o público sentir o futuro que representa esse lugar.

Ao invés disso, temos Eugene (Josh McDermitt) tomando sorvete com Stephanie (Chelle Ramos), alguns diálogos desinteressantes e sem química entre os dois – sim, eu sei que há motivos para isso, mas não vou falar de spoilers de capítulos futuros – e literalmente pulamos para a “treta”, em que eles se forçam a tentar se comunicar no rádio com Alexandria sem permissão e acabam sendo pegos por Mercer (Michael James Shaw) – apagadíssimo até o momento –, para possivelmente daqui a mais uma penca de episódios, Yumiko (Eleanor Matsuura) salvá-los no tribunal, agora que é advogada do local. Sei que é colocado que eles tinham duas semanas até conseguirem um primeiro contato com a líder da comunidade, ou seja, muito tempo, mas eles já estavam há tanto tempo fora, não iria matar ninguém esperar mais uns dias, até porque eles têm a amiga privilegiada para ajudá-los a pular etapas e não precisar criar confusão numa primeira impressão, ainda puxando através desse fato o teor social do arco vindo dos quadrinhos – antes que levantem que estou comparando, a série demonstrou estar interessada em trazer esse tema também, como demonstra a cena do tratamento do balconista na apresentação do vídeo da cidade para com Yumiko e Eugene, Ezequiel (Khary Payton) e a Princesa (Paola Lázaro), uma cena para lá de malfeita, diga-se de passagem, a pessoa nem disfarça…

Sei da boa intenção em avançar rápido essa parte da história já jogando os conflitos de cara, algo a se cobrar mesmo da série fazer em outros episódios, mas é preciso elaborar esse avanço objetivo direito, sem atropelo e com verossimilhança. A montagem bagunçada não ajuda, porque os entrecortes com as outras tramas deixam as elipses com uma noção temporal distorcida, além do sentimento de pouco desenvolvimento em cada cosmo, especialmente porque os outros núcleos não são bons. Já mencionei sobre Negan e Maggie, que trocam mais uma penca de palavras copiadas de suas outras briguinhas e incrivelmente não são perseguidos por absolutamente ninguém dos Reapers no episódio. Basicamente, a série só comeu tempo utilizando a premissa de esperarem Padre Gabriel (Seth Gilliam) e outros figurantes se reencontrarem com eles. Algo inevitável pelos fins, isso não queria dizer que os meios não podiam ser interessantes até isso acontecer. Infelizmente, a separação não acabou rendendo nada, nem a caçada, afinal. Reitero: para mim Acheron já havia “resolvido” a situação dos dois, tornando as conversas daqui ainda mais “fiadas”.

Indo para as tramas de Alexandria, como de praxe, temos a velha busca por recursos que se torna uma situação de risco, ou quase isso. Aaron (Ross Marquand), diferentemente da sua última aparição, fazendo a mesma coisa no episódio One More – “é revelado que ele (Aaron) ainda tem esperança numa vida após aquilo, e isso é o que o motiva a seguir em frente”, aspas do que falei na crítica do referido episódio –, está transtornado com os sussurradores e com o histórico em geral das ameaças que o grupo enfrentou – a cena do sonho –, temendo pela vida de sua filha, Gracie (Anabelle Holloway), e ficando ainda mais paranoico quando os mascarados reaparecem em pequeno bando em Hilltop. Era óbvio que não se tratava de um retorno dos antagonistas, e o próprio Aaron já sabia disso, a questão é que todo o lance dele torturar um dos encontrados (Brad Fleischer), sendo impedido por Carol (Melissa McBride) usando o discurso das consequências das suas atitudes naquele modo irracional da décima temporada, tenta criar um “suspense” contradizente a isso, como se realmente houvesse uma possibilidade de que um grupo forte e perigoso deles estivesse rondando e planejando algo – se eles estavam em contexto pacífico, por que atacaram? –, o que seria péssimo se fosse verdade.

Não só isso, há pouco respaldo para a mudança de personalidade repentina definitivamente mais sanguinária de Aaron. No máximo, no episódio, há aquela ceninha bacana da invasão dos zumbis a uma das paredes caídas, mas, por exemplo, na parte protagonizada pelas crianças, não há alguma cena para colocar devidamente Gracie em risco, justificando mais diretamente a amargura. Acaba que toda essa sequência de Hilltop serve somente para ser um conectivo estendido de Connie (Lauren Ridloff) ao grupo, sendo que não precisava ser um dos sussurradores, mas qualquer figurante aleatório que tivesse avistado a menina, encontrado com eles e falado. E o assunto veio do nada, não foi nem numa conversa orgânica, ou seja, o sobrevivente sussurrador poderia ter largado isso bem antes e, considerando seu caráter pacífico, até ter se juntado ao grupo para procurá-la. Seria bem mais interessante ter visto isso.

O melhor dos quatro núcleos de Out of the Ashes acaba sendo inevitavelmente o carregado por Judith (Cailey Fleming). Coitada da mirim, que é excelente, não ganha espaço num lugar em que ela deveria estar sendo uma das protagonistas, e quando ganha, não diz nada que já não soubéssemos e ainda consegue comover de alguma forma. É triste que ela tenha sido abandonada, mas Rosita (Christian Serratos) não tem nenhuma conexão íntima com a personagem para ser receptora de seu belíssimo desabafo. As motivações que levaram a ele também são para lá de questionáveis, estamos falando da filha de Rick Grimes (Andrew Lincoln) sofrendo bullying de figurante adolescente (Pilot Bunch) que nunca apareceu na série, mas é certo que estava vivo quando o Rick ainda estava por lá, sem contar Michonne (Danai Gurira), é sério que ele ia ter audácia de mandar aquela frase na cara de Judith? É legal como ela reage se impondo, até ameaçando matar o garoto – e por mim, matava –, contudo, penso que não precisava desse fator externo para demonstrar o quanto ela se sente sozinha. Seria bem mais proativo que isso viesse de uma crise natural depois do treinamento com o quarteto – ela, Gracie, Rick Jr. (Antony Azor) e Hershel Jr. (Kien Michael Spiller) –, que o desabafo fosse feito a eles, fortalecendo não só a personagem, como o vínculo da próxima geração.

Out of the Ashes parece prazeroso pelo ritmo, com aparentemente várias coisas acontecendo, mas se pegarmos coisa a coisa, veremos que nada é comunicado através delas ou propriamente avança a dramaturgia. Quando avança, fica com a sensação de saltos, incompletude, pouca densidade pela ampla fragmentação compensando os dois outros episódios de núcleo, ascendendo o clima de desapontamento com o que pode vir a se tornar esta última temporada, se continuar assim.

The Walking Dead – 11X05: Out of the Ashes | EUA, 19 de Setembro de 2021
Diretor: Greg Nicotero
Roteiro: LaToya Morgan
Elenco: Melissa McBride, Lauren Cohan, Christian Serratos, Josh McDermitt, Seth Gilliam, Ross Marquand, Khary Payton, Cooper Andrews, Jeffrey Dean Morgan, Eleanor Matsuura, Cailey Fleming, Cassady McClincy, Paola Lázaro,  Michael James Shaw, Josh Hamilton, Margot Bingham, Ian Anthony Dale, Okea Eme-Akwari, Chelle Ramos, Brad Fleischer, Jesse C. Boyd, Anabelle Holloway, Antony Azor, Kien Michael Spiller, Pilot Bunch, Matt Mercurio, Rebecca Ray, Ryan Vo, Franco Barberis
Duração: 42 minutos

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