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Crítica | The Walking Dead – 11X11: Rogue Element

O mistério de Stephanie.

por Iann Jeliel
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Rogue Element

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Mesmo que o sentimento de estarmos acompanhando algo começado pela metade ainda permeie e deva continuar assim durante essa segunda metade da última temporada, Rogue Element funciona em sua proposta isolada de investigação, muito por se segurar num histórico minimamente bem construído de tramas anteriores e devidamente bem usadas como sustentáculo dramático. Me refiro ao relacionamento de Eugene (Josh McDermitt) e Stephanie (Chelle Ramos), iniciado por conversas de rádio no meio do conflito entre os sussuradores e que deu o pontapé inicial promissor ao arco do Império. Ainda que tenha passado muito tempo, que deveria ser destinado a consolidar a paixão platônica estabelecida para Eugene no início desse episódio com um clássico “Eu te amo”, o retrospecto de toda jornada do personagem que conhecemos de longa data (com suas desilusões amorosas) é suficiente para comprarmos o seu sentimento de paranoia instaurado com o misterioso desaparecimento da amante.

Uma boa montagem faz toda a diferença. É nítido que esse é o maior defeito de The Walking Dead de um tempo para cá. Tanto que os todos episódios que se destacam nesse período possuem uma montagem organizada. Rogue Element, além de organizado nas elipses temporais que acontecem com naturalidade na progressão dos eixos narrativos com trocas entre eles que não quebram a lógica rítmica do episódio, possui criatividade na utilização de recursos de edição para nos envolver nos direcionamentos do mistério central – a cena do Eugene explicando sua investigação para a Princesa (Paola Lázaro) é muito bem editada –, didatizando com uma competência compensadora as informações que deixaram de ser mostradas nesses vários saltos temporais. A direção de Michael Cudlitz (sim, o ator que interpreta Abraham na série) sabe estabelecer tensão através da imagem, nos imergindo na ansiedade do protagonista com escolhas inteligentes de enquadramentos que de algum modo questionam sua sanidade, manipulando-o conosco para os encaminhamentos (quase) surpreendentes da resolução.

É nessas horas que não queria escrever sobre a série para não ser “obrigado” a ter de consumir certas informações. Ainda que me preze ao máximo escapar das que podem ser comprometedoras à experiência, invariavelmente elas chegam até mim e até outros que ainda consomem a série por serem alimentados pela vontade de ver os spoilers liberados com antecedência. No caso, o que entregou a falsa Stephanie foi o anúncio da verdadeira atriz confirmada pela AMC para vivê-la, não sendo aquela com que estávamos vendo. Essa era uma impostora, uma massa de manobra de Lance (Josh Hamilton) que utilizou essa narrativa para influenciar Eugene a lhe dar informações sobre Alexandria e podê-las utilizar em benefício próprio. Quando ele percebeu que Eugene estava emocionalmente envolvido com a falsa Stephanie, Lance a fez desaparecer para novamente manipular Eugene, induzindo-o a descobrir seu plano dentro de um contexto em que ele estivesse protegido, onde ninguém acreditasse na palavra de Eugene, nem os seus amigos.

Foi um belo plano e faz muito sentido com o caráter “teatrinho” da sua personalidade apresentado até então, tornando-o crível e um personagem devidamente mais interessante. Não gosto tanto de como o aspecto sombrio da cena evidencia a sua vilania, mesmo que as motivações egocêntricas não necessariamente sejam negativas diante do pouco que sabemos dos pormenores políticos do local. Mas parece que o roteiro está ciente disso de alguma forma e utiliza o fato de nos ter dado poucas informações como abertura de ambiguidade nessa série de conflitos internos desenhados em Commonwealth. Melhor assim do que algo puramente escancarado como ficou entendido no arco de rebelião popular por distanciamento de classes sociais no episódio passado. O plano de golpe político de Lance é um conflito à parte, mas há brechas de conexões que fortalecem a ambiguidade do outro, que intencionalmente, a fim de sincronizá-los, “pouco progride”.

Coloco em aspas, não porque a série volta a enrolar, mas sim porque o roteiro deixa mais perguntas em aberto do que respostas, numa vibe positivamente bem Lost. Como o Soldado rebelde, Tyler (Cameron Scott Roberts), escapou do hospital? O que seria a lista que seu nome está encaixado? Onde a verdadeira Stephanie (Margot Bingham) que aparece no final conversando com Eugene desolado (que ótimo gancho!) se encaixa? Ela é a irmã de Mercer (Michael James Shaw)? Há muitas teorizações a se fazer a partir dessas informações incertas, pingadas na investigação da dupla de linguagem de sinais. Falando nelas, é legal perceber que os membros de Alexandria se encontram no meio dos dois sob diferentes posições. Enquanto Daryl (Norman Reedus), Rosita (Christian Serratos) e a própria Princesa parecem cada vez mais complacentes com a lógica da comunidade, Connie (Lauren Ridloff) e Kelly (Angel Theory) questionam; Eugene se revolta e Carol (Melissa McBride) parece forjar complacência em mais um de seus teatrinhos para ganhar Lance – ela começa a entendê-lo naquela negociação de Ópio com outra comunidade – e tê-lo na mão quando precisar.

Pena que isso tudo foi estabelecido à força e não podemos realmente acompanhar essas transformações por instinto social acontecendo em cada personagem. Pena que eu já imaginava o twist de Stephanie e não fiquei tão surpreendido quando ele aconteceu, como alguém do povão que não tem acesso às informações prévias possam ter sido. Se na base do “aceite”, sem desenvolvimento prévio algum, pulando um monte de coisa importante e com a reviravolta já entregue bem antes, conseguiu-se estabelecer uma premissa interessante e retomar o fôlego de envolvimento com a série, imagine se houvesse um desenvolvimento prévio e escondem a boa surpresa? Os bons episódios da série como é Rogue Element são uma prova (incompreensível) do quanto The Walking Dead consegue ser bom quando quer, independentemente de um contexto completamente desfavorável. É esperar que ele não seja um acerto isolado e que esses conflitos não se resumem em outra guerra genérica entre as comunidades – só agora eu parei para pensar que Commonwealth está mais para Woodbury maiorzinha do que um império tipo a CRM? – que ninguém aguenta mais ver.

The Walking Dead – 11X11: Rogue Element | EUA, 6 de Março de 2022
Diretor: Michael Cudlitz
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick
Elenco: Melissa McBride, Christian Serratos, Josh McDermitt, Lauren Ridloff, Paola Lázaro, Michael James Shaw, Josh Hamilton, Margot Bingham, Angel Theory, Chelle Ramos, Michael Tourek, Aneesh Sheth, William Mark McCullough, MaryJean Feton, Bruno Rose, Darrell Snedeger, David E. Collier, Carrie Walrond Hood
Duração: 45 minutos

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