Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 11X12: The Lucky Ones

Crítica | The Walking Dead – 11X12: The Lucky Ones

As consequências do desejo de voltar ao mundo normal.

por Iann Jeliel
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The Lucky Ones

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Finalmente podemos sentir o gosto de um desenvolvimento de qualidade novamente nessa última temporada de The Walking Dead. Precisou ela chegar na metade pulando um monte de coisa no caminho? Sim. No próximo episódio, é capaz de tudo degringolar novamente? Também. Mas, pelo menos, The Lucky Ones consegue isoladamente remeter aos tempos em que a série era substancial… ou buscava ser. Cuidando de diversos eixos narrativos com cuidado. Cronometrando a atenção necessária de cada um na duração do episódio. Construindo conflitos a partir de minúcias dos personagens e, consequentemente, desenvolvendo-os conforme a progressão desses conflitos com encaminhamento político e ideológico fortes. De bônus, digo também que é um dos poucos episódios em que realmente sentimos o universo da série se expandindo, não exatamente por crescimento geográfico, mas pela noção de progresso enquanto sociedade. Um encaminhamento para o fim de um cenário apocalíptico para elaboração de um novo sistema social para a continuidade da humanidade.

Reclamei alguns episódios atrás a respeito do salto temporal que deu a impressão que o grupo selvagem dos heróis que acompanhamos se acostumar rápido demais com a comunidade, sem questionar a reaplicação do capitalismo dentro do apocalipse. Pois bem, diria que é feito um “mini-retcom” aqui para contextualizar essa falta, na cena de Daryl (Norman Reedus) conversando com a governadora Pamela Milton (Laila Robins) sobre a história de Alexandria. É revelado que Pamela conheceu Deanna Monroe (Tovah Feldshuh), a primeira líder da comunidade que deixou o grupo de Rick (Andrew Lincoln) fazer parte. As lembranças ditas nessa conversa mostram que os personagens não esqueceram daquela chama do retorno da humanização acesa naquele tempo, depois apagada pelas inúmeras guerras ocorridas desde então. Há um teor nostálgico nas falas de Daryl e Aaron (Ross Marquand) – praticamente o último remanescente daquele período pré-Rick de Alexandria – bem representativos, reforçando o cansaço desse grupo a sobrevivência dia após dia, tornando mais plausível acreditarmos nesse fácil costume deles com a normalidade, porque existe um desejo coletivo depois de terem vivido tantas batalhas .

Os contrapontos acabam centrados em Maggie (Lauren Cohan), Carol (Melissa McBride) e Eugene (Josh McDermitt), cada um à sua maneira. Maggie vem sendo uma personagem bem ambígua por enquanto, soando menos autoritária e sanguinária do que foi mostrada outrora, sendo uma antítese de Pamela no capítulo, uma líder do povo que faz questão de sujar as suas mãos com eles – embora já tenha largado Hilltop totalmente na mão no período que ficou fora. Tanto que Pâmela precisa se expor ao sair da sua carroça de luxo e ir em uma caçada com Maggie, tentar tirar das interações confiança o suficiente para forjar a aliança política entre as comunidades (Alexandria, Hilltop, até mesmo Ocean Side volta a aparecer), negada pelo pretexto justo de desconfiança de Maggie em cima dos custos que isso iria lhe trazer no futuro. Interessante como essa resiliência da personagem abre caminhos interessantes na trama: forçará Lance (Josh Hamilton) a entrar num jogo mais sujo para conseguir seus objetivos; colocá-la em embate com Daryl cada vez mais dentro do outro lado do esquema – e Maggie já percebe isso nesse episódio –; à distância de pessoas próximas igualmente exaustas da vivência no limite, como é o caso de Diane (Kerry Cahill) e outros figurantes que abandonam Hilltop ao final.

Basicamente, Maggie foi colocada como o estopim da grade de conflitos preparada ao restante da temporada, tanto da disputa política interna de Commonwealth, como da cisão ideológica entre o grupo de principais. É possível notar avanços dessas divisões nos núcleos dos outros contrapontos citados. Carol e Ezequiel (Khary Payton) se desentendem quando ele descobre o que ela fez para o fazer passar na fila de espera da cirurgia, embora, o antigo “Rei” acabe aceitando fazer a operação a contragosto de achar injusto com as outras pessoas em espera. Eugene deixa a impressão de esconder Rosita (Christian Serratos) de quem era aquela Stephanie (Chelle Ramos) e todo o esquema de Lance, por desconfiança de uma traição e não para “protege-la”. Aliás, gostei de que o episódio foi direto ao ponto no que ficou em aberto sobre esse caso após o gancho do final do episódio anterior, inclusive abrindo-o com a verdadeira Stephanie – no caso, Max (Margot Bingham), seu real nome – explicando como foi toda a situação sobre sua perspectiva.

É verdade que a reconciliação facilitada de Eugene com Max, no final, traz um forte questionamento acerca da necessidade da existência dessa trama da falsa Stephanie para além de um twist bacana, afinal os dois enquanto casal só começarão a ser desenvolvidos a partir de agora, mas ao menos, há a confirmação da informação sugerida de que Max é sim irmã de Mercer (Michael James Shaw) e com isso, novas arestas narrativas promissoras. Descobrimos que o líder dos soldados a acobertou da comunicação clandestina que estava fazendo com Eugene, deixando pontas soltas: sua paranoia com aquele referido soldado que escapou e ameaçou a vida da sua irmã (feita de refém naquela cena do baile em New Haunts) deve-se ao fato de que sabia de algo? Foi ele – Tyler (Cameron Scott Roberts) – quem  delatou para Lance criar a narrativa da falsa Stephanie para enganar Eugene? É uma boa prerrogativa para os próximos episódios explorarem mais Mercer, centralizá-lo na teia de conflitos. Venho gostando das suas interações com Daryl, aos poucos expondo cada vez mais as particularidades do personagem, que deve exercer um papel fundamental na trama daqui em diante.

Tá melhorando! Embora a qualidade desses dois últimos episódios se relacione diretamente com suas portas abertas, ou seja, a margem de decepção para com as resoluções ou outras mudanças de rumo (leia-se: possíveis enrolações) é equivalente ao potencial que conseguiu ser articulado contra todas as adversidades e consequências da falta de desenvolvimento prévio. Felizmente, The Lucky Ones consegue chegar num marco que faz ser possível a volta por cima da última temporada The Walking Dead na sua outra metade mais decisiva.

The Walking Dead – 11X12: The Lucky Ones | EUA, 13 de Março de 2022
Diretor: Tawnia McKiernan
Roteiro: Vivian Tse
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Lauren Cohan, Christian Serratos, Josh McDermitt, Ross Marquand, Khary Payton, Cooper Andrews, Cassady McClincy, Michael James Shaw, Josh Hamilton, Margot Bingham, Laila Robins, Ian Anthony Dale, Kerry Cahill, Avianna Mynhier, Okea Eme-Akwari, Chelle Ramos, Kien Michael Spille, Nicholas Velez
Duração: 45 minutos

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