Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 11X13: Warlords

Crítica | The Walking Dead – 11X13: Warlords

Quando um possível filler engata a quinta marcha da história principal.

por Iann Jeliel
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Warlords

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

A premissa de Warlords, apresentando uma nova comunidade (mais uma!?) para o grupo de personagens principais lidar, levava a crer que depois de bons episódios, finalmente desenvolvendo as questões políticas envolvendo o arco de Commonwealth, voltaríamos à programação normal de The Walking Dead enrolando seu público num filler característico, que nem foram os recentes Reapers. Felizmente, esse encaminhamento de aparência secundária foi uma isca certeira para a temporada alavancar a trama principal à máxima de sua tensão e à inevitabilidade do conflito. Novamente, uma boa montagem faz toda a diferença na qualidade da série. Antes vindo somente mais organizada nessa segunda parte da última temporada, neste episódio em específico, ela cumpre um papel fundamental na manipulação de expectativas do telespectador ao guiá-lo sob diferentes desenvolvimentos de personagens que repentinamente, mas no momento certo, transitam no tempo para completar os pormenores das circunstâncias do núcleo original trabalhado.

Começamos o capítulo com Maggie (Lauren Cohan) convencida por Lydia (Cassady McClincy) e Elijah (Okea Eme-Akwari), que as acompanha, a ir investigar esse local após um jovem aparecer ensanguentado nas portas de Hilltop clamando por ajuda. Lydia, pouco antes do ocorrido, estava a um passo de deixar Hilltop para ir a Commonwealth, bem como outros membros da comunidade praticamente destroçada fizeram. Sendo assim, no meio da viagem, o episódio aproveita o meio-tempo para colocar Lydia diretamente confrontando Maggie sobre sua ideologia de pouca confiabilidade, desenvolvendo ambas as personagens. Por mais que seja um discurso repetitivo, gosto de como as palavras de Maggie rememoram outros momentos da história – até mesmo de antes do apocalipse, como o conto de Hershel (Scott Wilson) não ceder à venda da fazenda num momento de crise – que vão se refletir em outros momentos do episódio (o fato de Commonwealth entupir outras comunidades de recursos para persuadi-las a fazerem o que ela quer, como Alexandria e essa nova; os canibais do Terminus na quinta temporada são citados diretamente, como exemplo do que Maggie dizia), dando-lhe um pouco de razão.

Em contrapartida, o desenrolar da conversa e os argumentos de Lydia, que esteve ligada à selvageria do mundo zumbi por mais tempo e num lado pior que o de Maggie, balançam a líder de Hilltop relativamente em sua ideologia, deixando uma faísca que ela possa vir a acreditar no reerguimento da sociedade proposta por Commonwealth, para o fim da cíclica infinita de violência gerada por sempre olhar o outro desconhecido como inimigo. Com apenas um simples diálogo, o roteiro volta a potencializar Maggie como personagem, coloca dubiedade em sua mente, o que será fundamental para a resolução do conflito macro que vai se tornando menos previsível, além de posicionar Lydia numa prateleira mais relevante como personagem, recuperando-a depois de ser esquecida mesmo no arco dos Sussurradores. Quando esse núcleo não tem mais o que dizer, os três personagens, após matarem três zumbis, avistam Aaron (Ross Marquand), e rapidamente o episódio corta e volta no tempo para contextualizar como ele foi parar ali.

Questiono um tanto um salto temporal utilizado com ele já estabelecido em Commonwealth junto a Gabriel (Seth Gilliam), afinal, no episódio passado, eles estavam negociando ainda a continuidade da parceria com Alexandria. Não fica claro se a consolidação do trato entre as comunidades resultou numa migração completa dos membros de Alexandria para lá ou não, pois não é mostrado quem de lá também veio, muito menos quem ficou liderando e administrando a comunidade sem ser Aaron. Tirando esses questionamentos, é bem legal a retomada do desenvolvimento dos dois personagens em conjunto após aquele atípico ótimo episódio: One More. A cena da igreja, com Gabriel atuando como padre novamente com sua personalidade mais sisuda, deixa nítida sua evolução. A conversa dele com Aaron antes da viagem, também na igreja, é muito boa. Evidencia a experiência adquirida pelos personagens e já nos coloca em alerta por ele, com um senso de presságio para a missão que lhes é destinada: o acolhimento de uma comunidade nova de 40 pessoas (com aparência hostil), denominada Riverbend – possivelmente a mesma a que se referia o ferido do início aparecido em Hilltop.

A tensão aumenta quando reconhecemos que aquele ferido é o garoto, chamado Jesse (Connor Hammond), que acompanha a equipe de Aaron e Gabriel com outro líder “carismático” de Commonwealth, conhecido como Toby Carlson (Jason Butler Harner). Ou seja, já sabemos que algo de ruim iria acontecer, que Aaron e Jesse iriam escapar de alguma forma, mas sem saber o destino de Gabriel, Toby e o restante da continuidade do conflito. Ao contrário da expectativa, no entanto, não é o líder genérico de Riverbend (Michael Biehn) a ameaça que gera todo o confronto – apesar de fornecer o estopim –, mas sim Toby, que estava lá a mando de Lance (Josh Hamilton) para recuperar armas “ilegais” perdidas, naquele tráfico que foi mostrado em Rogue Element, o qual ele organiza. Warlords volta mais um pouco no tempo para fornecer essa inversão interessante no caráter “carismático” do novo personagem, evidenciando um lado psicótico que o torna um vilão momentâneo respeitável. Ao matar a sangue-frio alguns dos figurantes da outra comunidade e torturar seu líder, Gabriel e Aaron são forçados a ir de encontro a Toby e aos soldados de Commonwealth, matando alguns e criando uma situação embolada para se administrar no agora, mas principalmente no futuro – considerando que ela ainda não foi resolvida nesse episódio.

A montagem mais uma vez é esperta em cortar o momento em que Gabriel foge com Toby, só explicando isso após voltar ao núcleo de Aaron com Maggie planejando uma retomada ao local, para revelar de forma surpreendente a volta de Negan (Jeffrey Dean Morgan) – estava com muito medo de o personagem ter encerrado sua participação na série e só voltasse no seu spin-off com a Maggie –, que salva os dois e manda Jessie a Hilltop para alertar Maggie. Um último salto na montagem reorganiza a temporalidade e dá a base para o clímax do conflito, com Toby matando os inocentes de Riverbend um a um, até alguém decidir falar onde estão as armas, forçando a resistência da comunidade (agora liderada por Negan) a ter de tomar uma atitude, enquanto Maggie, Lydia, Aaron e Elijah – por que ele não está mais com a roupa legal de Ninja? – vão chegando para ajudar pelos fundos. Nada melhor que finalizar um episódio ótimo pela habilidade de criação de expectativas criando-nos expectativas ainda melhores para o que será a resolução desta trama que se mostrou surpreendentemente boa. Que o final dela já venha no próximo episódio, de preferência com a mesma competência de execução demonstrada em Warlords.

The Walking Dead – 11X13: Warlords | EUA, 20 de Março de 2022
Diretor: Loren Yaconelli
Roteiro: Jim Barnes, Erik Mountain
Elenco: Lauren Cohan, Seth Gilliam, Ross Marquand, Jeffrey Dean Morgan, Cassady McClincy, Josh Hamilton, Michael Biehn, Jason Butler Harner, Medina Senghore, Okea Eme-Akwari, Connor Hammond, Kien Michael Spiller, Gustavo Gomez, Michael Hanson, Braian Rivera Jimenez, Henry Bazemore Jr., Jenique Hendrix, Camry Brault
Duração: 45 minutos

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