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Crítica | The Walking Dead – 11X16: Acts of God

Nem Deus salva mais essa temporada depois desse episódio.

por Iann Jeliel
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Acts of God

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Considerando o cenário deixado pelos dois últimos episódios, eu não esperava algo qualitativamente diferente deles para o segundo clímax da temporada nessa mid season finale. Contudo, como bem coloquei na conclusão do meu último texto: “The Walking Dead vem tendo a incrível capacidade de decepcionar mesmo há quem já espera a decepção”. Pois bem, sem muitas enrolações, afirmo: Acts of God é um episódio TRÁGICO. Muito mais furado do que imaginava que poderia ser, e que fica ainda pior quando levamos em conta que faltam apenas oito episódios para o fim da série.

Tudo bem que Acts of God não inicia exatamente com culpa da sua própria esquematização. Afinal, foi em Trust que o roteiro optou por simplesmente não começar de imediato o conflito entre Commonwealth e Hilltop, a partir do momento em que Lance (Josh Hamilton) encaixa o boné em Hershel Jr. (Kien Michael Spiller), é intimidado por Elijah (Okea Eme-Akwari) e, por consequência, pelo resto da comunidade. Ali foi provado escancaradamente para Hornsby a culpabilização de Hilltop sobre os acontecimentos em Riverbend e, ali, ele tinha total controle da situação e podia resolver exatamente do jeito que busca resolver durante o episódio: eliminando os responsáveis. Nem sei se seria pior ou melhor se inventasse alguma desculpa que justificasse minimamente o porquê de ele recuar à frente de soldados para poder atacar com eles do mesmo jeito, no dia seguinte. Prefiro acreditar que foi simplesmente “porque sim” do que pensar que o plano envolvendo Leah (Lynn Collins) é essa desculpa.

Até porque, faria menos sentido ainda usar Leah como essa arma para se livrar de Maggie (Lauren Cohan) e o povo Hilltop, sem precisar arriscar a vida de mais de seus homens ou manchar a sua imagem dentro da comunidade onde  busca ter poder, e mesmo assim, sair com os soldados perambulando à  noite pelos entornos da comunidade, procurando realizar a mesma tarefa que tinha designado para Leah. Porque diabos então o roteiro decidiu envolvê-la nesse núcleo? Já não faz o menor sentido Hornsby, sem nem conhecer a mulher, chama-la para realizar essa árdua tarefa como se ela fosse mais capacitada que todo o seu exército (lembremos o perrengue que a comunidade passou com o grupo de 10 pessoas como os Reapers. Imagine para combater não sei quantos soldados?). Só se Hornsby tivesse um poder de dedução mágico em adivinhar que Leah já era rival de Maggie, mas isso só faria sentido se ele realmente a utilizasse (sem precisar de outros soldados a acompanhando – detalhe: sem armadura) como uma “mulher-bomba” para exterminar os remanescentes de Hilltop.

E sim, é óbvio que Lance não deduz que elas eram rivais antes de conhecê-la, pois seria criminoso ele acertar essa dedução e não perceber que a mulher carregava o armamento que estava procurando. Aliás, de qualquer forma, como ele não percebeu? Faz mais sentido ele não ter percebido do que simplesmente ignorar esse fato, sendo que seu pau-mandado Toby (Jason Butler Harner) iria matar Riverbend inteira para recuperar esse armamento. Porque não matá-la logo e depois ir caçar o pessoal como acabou fazendo de todo modo? Talvez Hornsby quisesse manipulá-la para fazê-la se matar com Maggie e eliminar as duas de uma vez, mas aí ele tinha que deixar as duas quebrando o pau, o que, reitero, não acontece. Além disso,  quando Hornsby encontra Leah morta no final, ele se frustra, logo, fica claro que a sua intenção não era vê-la morta também. Não há nenhuma cena para intuir o contrário, assim como não tem nenhuma cena que estabelece realmente as motivações da aliança.

Não mostra Hornsby conversando antes com Leah, explicando seu plano, dizendo que é Maggie (e porque) que ele quer morta, para Leah revelar a  ele histórico das duas, e assim ser coerente  topar um esquema de risco como favor para um desconhecido. Acts of God simplesmente lida com essa e outras progressões da narrativa numa arbitrariedade mais ofensiva do que vinha sendo os inúmeros saltos temporais da temporada. É inacreditável terem a coragem de tentar criar suspense em torno de uma encurralada dos soldados em cima de Daryl (Norman Reedus), Aaron (Ross Marquand) e Gabriel (Seth Gilliam), sendo que: 1) já não faz qualquer sentido eles terem saído de Hilltop sabendo que Lance descobriu da verdade, se colocando como alvos fáceis totalmente de graça; 2) no momento da ação – extremamente mal filmada geograficamente – coloca-se Daryl andando tranquilamente sem proteção no meio do tiroteio onde só ele e seus companheiros acertam os tiros. Quer dizer, Aaron até leva um tirinho no ombro e o Padre outro de raspão, mas isso não altera uma vírgula da precisão de suas miras. Detalhe: há um frame do Padre mirando na arma com seu olho CEGO!

Não sou muito de implicar com esses detalhes de continuidade que são a coisa mais normal do mundo de acontecer, mas, nesse caso, quando vem uma sucessão de alguns bens absurdos em conveniência, não tem como ignorar. Como ignorar que Leah, na máxima de ódio que estava de Maggie, não atira nela em vez do coitado do figurante, Marco (Gustavo Gomez), quando eles dois, Elijah e Lydia (Cassady McClincy) se levantam após a explosão da casa de Hilltop, achando que foi suficiente para matar todos os soldados que iam para lá. “Pera”, o que eles estavam fazendo lá mesmo? Numa missão suicida achando que só eles iriam cuidar das forças de Hornsby? Achando que Hornsby, do jeito que ele é, estaria na linha de frente para se livrarem logo dele (e o pior é que o incompetente estava por lá mesmo…)? “Ah, mas a Leah queria fazer Maggie sofrer”. Ignoramos o fato de que nunca foi convincente seu papo de família com o grupo de loucos que eram os Reapers liderados por Pope (Ritchie Coster). Opções não faltavam. Ela poderia atirar na perna ou em outro canto que não a matasse já para deixá-la mais fraca quando ocorresse um embate frente a frente.

Tudo bem que quando esse embate acontece (sério que a série quis implementar um clima de terror para a Leah se aproximando?), Leah vence de todo modo. Contudo, em vez de aproveitar a vantagem, a personagem espera no outro dia Maggie acordar para deixar a própria Maggie explicar porque Leah quer vingança contra ela, como se ninguém soubesse. Uma explicação que só sai da boca de Maggie para promover um espelhamento forçado da situação de Leah com o que a própria Maggie vivenciava com o Negan (Jeffrey Dean Morgan) pouco tempo atrás. Pelo menos, até que enfim ela diz que começa a perdoá-lo por ter salvo seu filho em The Rotten Core. Enquanto isso, Leah dá mole, Maggie se liberta facilmente dos nós que a amarravam na cadeira e as duas entram em pancadaria corpo a corpo novamente, naquela que podia ser a única cena boa do episódio.

A violência da cena é franca, sangrenta, mas se resolve da maneira mais preguiçosa possível, com Daryl salvando Maggie no último minuto antes da faca entrar em  seu peito. Não que eu achasse uma boa ideia, uma personagem tão fraca como Leah ser a responsável por matar uma personagem do peso da Maggie bem ali, mas era melhor isso acontecer (ou Maggie simplesmente conseguir contornar a situação sozinha) do que por “Daryl Ex Machina” finalizando-a com tamanha frieza. Fica o pleno sentimento de “porque diabos ele não fez isso no final de No Other Way?”. No mínimo, para ser coerente com quanto tempo gastaram em tentar vendê-los como um casal, era para ter mostrado ele sentido após o ato. Se tivessem respeito com o personagem, mostrariam ele chegando na cena antes do confronto, observando de longe a briga e estando conflito interno até a hora de apertar o gatilho.

Mas não tem nada parecido disso, ou seja, parece que foi para nada o que foi elaborado entre os dois durante o arco dos Reapers, e ficou ainda mais injustificável o retorno de Leah novamente para um clímax da última temporada. E se eu quiser ser mais chato com errinhos de continuidade convenientes, cadê a sua baita mira para acertar Lance naquele finalzinho? Parece que ele acertou o rosto de raspão de propósito. Acts of God mais do que um episódio totalmente furado e desconexo também é prepotente o suficiente para jogar uma nuvem de gafanhotos (que nem participam geograficamente das cenas de ação, o que poderia ser legal) como presságio divino – como se não fosse óbvio o título do episódio, Negan ainda parafraseia um constrangedor “se isso não é um ato de Deus, eu não sei mais o que é…”– para porcaria nenhuma. Aliás, presságio da dominação “Nazista” que Commonwealth passará a aplicar com as outras comunidades, dado a imagética referencial das cenas das bandeiras.

Mas, calma, o Lance ainda não tinha controle nenhum da cidade acima de Pâmela (Laila Robins), como que ele convenceu a governadora que o certo era o extermínio dessas comunidades? Só porque um pessoal de lá divulgou aquela lista de desaparecidos num jornal? O que uma coisa teria a ver com a outra? Ou Lance está fazendo isso sem Pâmela saber? Como? E a Carol (Melissa McBride) que era a sua aliada, não está sabendo de nada? Não soube de nada por Ezequiel (Khary Payton) que estava com o grupinho de Max (Margot Bingham), Eugene (Josh McDermitt) e companhia fizeram antes de soltar a bomba? O que acontecerá com esses personagens todos em Commonwealth se essa dominação tiver sido assinada por Pâmela? Enfim, se for perguntar tudo que quero, a crítica não acaba mais. E sim, eu sei algumas respostas podem aparecer nos próximos episódios, mas era preciso dar o mínimo de contexto ou noção antes de soltar uma dessa, que nem faltou a aquele gancho vagabundo de No Other Way de Maggie vs. Daryl.

Bem… se tem uma conveniência do destino coerente que essa temporada proporcionou foi a semelhança de Commonwealth (que nunca passou de algumas ruas) com Woodbury e de Lance com o Governador (David Morrissey). Acts of God é equivalente a Welcome To The Tombs, aquele final tenebroso e igualmente furado da terceira temporada, onde o Governador com ampla vantagem numérica não consegue fazer nada contra o grupo de sobreviventes e ainda por cima enlouqeuce e mata o próprio exército e população. Foram necessários oito episódios para corrigir aquela catástrofe e entregar o clímax que aquele arco merecia no fabuloso Too Far Gone. Será que ainda tem tempo para essa temporada traçar o mesmo caminho? Nunca é tarde, mas acho muito difícil. Infelizmente com meu ceticismo construído pelo histórico de última temporada que apresentou (que não chega aos pés do desenvolvimento da terceira), tendo a crer que depois dessa derrocada, nem Deus salva mais o final de The Walking Dead de uma possível tragédia.

The Walking Dead – 11X16: Acts of God | EUA, 10 de Abril de 2022
Diretor: Catriona McKenzie
Roteiro: Nicole Mirante-Matthews
Elenco: Norman Reedus, Lauren Cohan, Josh McDermitt, Seth Gilliam, Ross Marquand, Khary Payton, Jeffrey Dean Morgan,
Nadia Hilker, Cassady McClincy, Lauren Ridloff, Lynn Collins, Josh Hamilton, Margot Bingham, Laila Robins, Angel Theory, Medina Senghore, Okea Eme-Akwari, Avianna Mynhier, Teo Rapp-Olsson, Gonzalo Menendez, Matt Bushell, Kien Michael Spille, Gustavo Gomez, John Gettier
Duração: 45 minutos

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