Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 11X17: Lockdown

Crítica | The Walking Dead – 11X17: Lockdown

A reta final de uma série fazendo hora extra.

por Kevin Rick
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  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Primeiramente, acredito ser importante notar que deve ser estranho para alguns dos leitores que vinham acompanhando as críticas terem um novo colunista faltando apenas oito episódios para o seriado terminar. Bem, é meio estranho para mim também. Eu desisti de ver The Walking Dead no sétimo ano, para mim o ponto em que a série começou a sair dos trilhos. Ao retornar ao seriado depois de tantos anos e assistindo as últimas temporadas horrendas (odiei todas a partir da sétima), pude notar que estava certo em abandonar TWD, uma produção que simplesmente perdeu qualquer tipo de criatividade narrativa e dramática.

O maior exemplo do descaso da série é a trajetória de Negan. O vilão sádico e maligno sendo “humanizado” e entrando para o grupo principal da história exemplifica como os roteiristas se tornaram negligentes com arcos de personagens. Essa representação do antagonista não é sobre desenvolvimento de personagem, e sim sobre manter uma figura conhecida e um bom ator na série por mais forçado que a execução possa ser. Não quero ficar remoendo muitas questões de episódios passados, mas no próprio Lockdown temos cenas do Negan paizão, com olhar triste, feições simpáticas e diálogos amigos. Simplesmente ridículo. Cada frame com Negan é um lembrete do desdém da produção com esse universo e seus personagens.

Agora, rebobinando um pouco, Lockdown começa até de maneira interessante, com um prólogo nostálgico de Judith sobre eventos passados da série. A montagem acaba sendo triste quando nos lembramos da antiga qualidade de TWD, algo intensificado para o corte da cena para as terríveis sequências de eventos que acompanham Hornsby perseguindo Daryl e companhia. Tudo começa errado quando o episódio simplesmente não decide mostrar o cliffhanger de Acts of God, caracterizando um dos principais problemas das últimas temporadas: seguir um cliffhanger com situações anticlimáticas. Afinal, qual o motivo de fazer toda aquela construção de cena ridiculamente cômica com cara e coroa para não termos uma resolução? Podre.

O que o episódio tenta fazer no ato inicial, porém, é trazer as características sequências de ação em premières e em mid-seasons, em sua grande parte bem dirigidas, diga-se de passagem. Infelizmente, a fórmula não funciona exatamente bem aqui, com a direção de Greg Nicotero sendo bastante genérica, seja num tiroteio sem graça, seja na falta de tensão com uma perseguição de carro intercalando close-ups e planos comuns de dentro e fora dos veículos. A falta de zumbis também é um problema recorrente ao longo do segmento.

A forma como o plano do grupo é construído constitui outra piada do roteiro. Negan segue para Commonwealth, onde após alguns diálogos com Mercer, pode adentrar na comunidade. Péssima – péssima – execução narrativa, sem nenhum tipo de lógica ou contratempo. O núcleo de Hornsby vs Daryl e co. termina com mais uma sequência rápida e pouco imaginativa, em um impasse entre os grupos quando vemos uma “armadilha” do elenco principal – o momento em que Aaron ataca a perna do soldado é risível – e uma infinidade também risível de capangas do Hornsby aparecendo. Como também não gosto da caracterização e interpretação caricata do vilão, tudo fica ainda pior.

Mudando a direção crítica para o segundo núcleo do episódio, em Commonwealth, não posso dizer que o desempenho da equipe criativa fica melhor. Sempre desgostei da representação visual sem escala e simples da comunidade, bastante diferente da imponência que vemos nas HQs – apesar de entender que o design de produção sofreu com cortes de orçamento. Mas também não gosto da representação política do local, seja nas várias protelações narrativas com personagens desinteressantes que mal recordo os nomes e seus draminhas triviais (Yumiko, Connie, Magna e afins), seja na superficialidade das tramas e metáforas sociopolíticas da história. Commonwealth é uma espécie de microcosmo da nossa sociedade hierárquica e desigual neste contexto pós-apocalíptico, e a direção com pequenas manifestações, um moleque mimado e uma ditadora genérica é muito pobre para se extrair qualquer tipo de substância.

O segmento na comunidade também rende alguns dos piores momentos criativos de Greg Nicotero, um cineasta que até gosto. As cenas de Carol e Jerry se escondendo de Roman e Shira são desprovidas de qualquer tipo de suspense, enquanto as sequências de manifestação com ataque de gases não contêm qualquer tipo de caos visual bem trabalhado. É tudo visualmente simples ou banal demais. O mesmo vale para o ataque de zumbis com participação de Mercer e Rosita, sem muita lógica na construção geográfica do espaço da cena ou na estratégia de combate com vários jipes e armas onde múltiplos soldados morrem sem muito sentido, tudo para desembocar em uma morte gráfica totalmente gratuita de um capanga qualquer.

Aliás, a falta de urgência é outro problema contínuo no episódio, algo intensificado pelo fato de que temos vários spin-offs confirmados para os poucos personagens da série que verdadeiramente nos importamos em uma eventual morte. A produção erra na série e ainda consegue atrapalhar com anúncios, ein? Essa franquia se tornou uma piada mesmo. A reta final de TWD começa sem tensão, sem imaginação da direção, sem zumbis e sem bom seguimento narrativo ou dramático para um clímax, apesar do plano de Carol manter uma pontinha de curiosidade.

The Walking Dead – 11X17: Lockdown | EUA, 02 de outubro de 2022
Diretor: Greg Nicotero
Roteiro: Nicole Mirante-Matthews
Elenco: Norman Reedus, Lauren Cohan, Josh McDermitt, Seth Gilliam, Ross Marquand, Khary Payton, Jeffrey Dean Morgan,
Nadia Hilker, Cassady McClincy, Lauren Ridloff, Lynn Collins, Josh Hamilton, Margot Bingham, Laila Robins, Angel Theory, Medina Senghore, Okea Eme-Akwari, Avianna Mynhier, Teo Rapp-Olsson, Gonzalo Menendez, Matt Bushell, Kien Michael Spille, Gustavo Gomez, John Gettier
Duração: 45 minutos

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