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Crítica | The Walking Dead – 1X01: Days Gone Bye

por Iann Jeliel
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Days Gone Bye

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

OBS: Aproveitando o contexto do fim anunciado de The Walking Dead, retomaremos o início da série principal para completarmos o quadro de críticas por episódio de toda a franquia na TV.

The Walking Dead surgiu para ser uma das grandes séries de todos os tempos. A adaptação dos quadrinhos, criação de Robert Kirkman, encontrou em Frank Darabont um showrunner ideal para o peso da missão que intuía em confirmar a popularização de produções de TV aberta cada vez mais cinematográficas. Cineasta experiente em adaptações dos livros de Stephen King, Darabont além de comandar a série em suas duas primeiras temporadas assumiu a direção do piloto Days Gone Bye, que até hoje, analisando isoladamente, traz um episódio tão bom e tão bem-orquestrado cinematograficamente falando que mais parece um filme, de altíssimo nível, daqueles dignos de se passar no cinema, tamanha a qualidade da construção do universo pós-apocalíptico.

A mão de Darabont faz toda a diferença e chega a ser assombroso comparar ao que a série se tornou em termos de atmosfera, construção dramática e gráfica como exercício de terror. Só a primeira cena nos mergulha de imediato naquele universo, as ruas desertas, o estacionamento morto, e enquanto nosso protagonista, ainda xerife, Rick Grimes (Andrew Lincoln) procura gasolina, depara-se com uma garotinha zumbi ainda com lapsos de memória da sua vida humana, segurando um ursinho, mas não hesitando em atacar nosso policial favorito, que é forçado a dar um tiro na cabeça dela logo na primeira cena da série. Cena essa que já estabelece para seu público que o tom não renunciará à origem gore que consta da criação de George A. Romero, pelo contrário, especialmente nesse início, o choque gráfico seria utilizado de forma bastante efetiva na construção dramática dos personagens, mas sem uma relação de dependência.

Como é provado no diálogo posterior à abertura, entre Shane (Jon Bernthal) e Rick. Em apenas uma conversa, extremamente natural por ser muito bem atuada por Andrew Lincoln e Jon Bernthal, a série já consegue estabelecer dois bons personagens com um vínculo de amizade comprável entre os dois e ainda antecipa o que gerará o conflito entre eles, no caso, o triângulo amoroso como Lori (Sarah Wayne Callies), esposa de Rick. Rick comenta que está passando por crise de relacionamento, o que levará à abertura para que Lori o traia com Shane ao achar que o marido estava morto. Somente a ideia desse conflito para o futuro já soa como um gatilho muito estimulante para o público, além do fato de já estarmos torcendo para o protagonista encontrar a família. É verdade que a ideia de alguém acordar do coma no meio do apocalipse não é nova, e o próprio Kirkman admite a inspiração no filme Extermínio para a criação de suas HQs. Darabont, no entanto, não replica a referência nesse início, não fica somente o temor de isolamento como no filme inspirado, há realmente um impacto aqui em Rick do caos que se tornou o mundo.

E há bastante tempo destinado no episódio para a maturação disso na cabeça do protagonista e do próprio público. É o mesmo clima de ambientação atmosférica proporcionado pelos primeiros minutos, agora em maior escala e vulnerabilidade, já que Rick está completamente sem norte depois de voltar do coma. A junção de tudo cria um clima bem de terror mesmo, a cena das mãos nas portas presas por cadeados e o espanto perante o primeiro zumbi oficial decepado ao meio reforçam esse clima. Não que o resto do episódio o abandone, mas a introdução de Morgan (Lennie James) como mini situador da situação para Rick, por conta das informações colocadas da funcionalidade dos zumbis, leva o próprio Rick a ter maior segurança para o resto do episódio. Como ele é policial, nada mais coerente do que ele já ter algum preparo psicológico para cair na realidade, muito motivado por descobrir que a família estava viva.

Em contrapartida, Morgan serve como ponte definitiva a esses conflitos mais humanos da série. É bem comovente nesse piloto o arco envolto a sua esposa que se transformou em zumbi e que ele simplesmente não consegue matar. É uma dramaturgia até básica pensando nas histórias dos mortos-vivos, mas é tratada com enorme sensibilidade pela lente de Darabont. Por sinal, Morgan é outro personagem já excelente desde a primeira cena, e a despedida dele e Rick, tal como o Shane e a Lore, é um daqueles gatilhos que fisgam o telespectador a querer continuar a série, eles mal se separaram e já torcemos para que se encontrem de novo. E é legal que para o lado de Shane e Lore vemos que seu grupo ouviu a chamada de Rick e já preparou uma equipe de encontro, em que nem Lore nem Shane estariam no meio. Mais um excelente gatilho especialmente pensando no gancho final do episódio para estimular o público a continuar na série.

O fechamento de Days Gone Bye na caminhada para Atlanta é icônico também, mas talvez seja o momento menos potente do episódio, sendo mais uma forma de acabá-lo de maneira grandiosa como diz a ambição por trás da produção. Nesse sentido, o final não proporciona tanta tensão assim, já que é muito claro que Rick não vai morrer para o mar de mortos e nem ficar totalmente encurralado no tanque de guerra por muito tempo. No entanto, a cena literalmente visceral do cavalo sendo devorado por zumbis é perfeita para de novo dar o aviso do que vai ser a série, tal como o tiro na fuça da garotinha. É superprodução cinematográfica? É. É para ser uma série popular? Também. Mas ainda é essencialmente uma obra raiz de zumbis, e uma das melhores já feitas.

The Walking Dead – 1X01: Days Gone Bye | EUA, 02 de Novembro de 2010 Days Gone Bye
Direção: 
Frank Darabont
Roteiro: Frank Darabont (baseado na criação de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard)
Elenco: Andrew Lincoln, Jon Bernthal, Lennie James, Sarah Wayne Callies, Jeffrey DeMunn, Chandler Riggs, Adrian Kali Turner, Emma Bell, Keisha Tillis
Duração: 67 minutos

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