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Crítica | The Walking Dead – 1X06: TS-19

por Iann Jeliel
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TS-19
Nota do episódio e da temporada (não é uma média)

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

Os eventos envolvendo a C.D.C foram um dos desvios mais significativos e pertinentes da narrativa televisiva de The Walking Dead com relação ao seu material original. Toda a trama foi concebida exclusivamente para a série, e num primeiro planejamento, a história era para ser finalizada ali, dentro da lógica quase fílmica da temporada aplicada pelo showrunner Frank Darabont, que tinha como referência direta a trilogia dos mortos de George Romero, cujo capítulo final, Dia dos Mortos, passava-se numa base militar onde sobreviventes estudavam os zumbis em busca de uma cura praticamente inalcançável, não exatamente pela falta de recursos ou conhecimento científico, mas pela natureza individualista humana num cenário caótico. TS-19, apesar de ter um contexto muito diferente do filme, apresenta ideias semelhantes para concluir a temporada no raciocínio do individualismo humano como o fator determinante para a sua não sobrevivência no apocalipse.

Esse egoísmo passa por todos os principais personagens de alguma forma. A primeira cena já nos mostra Shane (Jon Bernthal) no hospital indo resgatar Rick (Andrew Lincoln) e todos os eventos que impossibilitaram que isso acontecesse, diretamente relacionados ao egoísmo do personagem. Mencionei na crítica de Tell It to the Frogs que havia ficado ambiguidade no personagem sobre a motivação que o fez mentir para Lori (Sarah Wayne Callies), e essa cena, apesar de colocar o personagem realmente numa posição em que ele tinha que tomar uma decisão difícil e que fizesse total sentido ele ter mentido para preservar a sobrevivência da família do amigo, inicialmente foi tomada por egoísmo, porque o risco de tirar Rick dali naquelas condições não valia mais que a própria vida. Depois, quando surgiu o elemento romântico no meio, a mentira inicial se tornou uma muleta para sustentar o próprio egoísmo e a culpa posterior, disfarçada na atitude egoísta inicial. Isso fica bem claro quando, bêbado, Shane praticamente abusa sexualmente de Lori, dentro do discurso que era até valido como desculpa inicial, mas que perdeu totalmente o valor pela forma deturpada como o personagem foi administrando a situação, chegando nesse primeiro ápice de ter uma atitude desprezível.

Ao mesmo tempo, pela sensibilidade do desenvolvimento do personagem, passamos a nos importar e a compreender seu lado da história, porque o processo de vilanização a sua frente não é unilateral, ao contrário, é bastante complexo, paciente sobre cada novo passo da corrupção influenciada pelo meio em cima do personagem. Contudo, Rick também não sai como santo na história; também bêbado, ele vai agradecer ao dr. Edwin Jenner (Noah Emmerich) por ter aberto a porta no final do último episódio e desabafa sobre sua condição emocional pessimista, pela qual ele mentiu no caminho todo para o grupo só para manter um mínimo senso de esperança, uma atitude nobre como líder nato que é, mas que não deixa de ser sustentada pelo egoísmo. Assim como o doutor pode até não ter abandonado o C.D.C antes por um senso maior de coletividade, mas no momento em que teve a perda de sua esposa e a resposta do vírus não teria mais como ser consumada, começou a ser engolido pelo egoísmo, a ponto de basicamente querer obrigar os sobreviventes a desistirem juntamente com ele para diminuir a conta de seu fracasso.

Ainda nessa perspectiva, podemos ir ao núcleo de Andrea (Laurie Holden), em que a personagem quer desistir pela desesperança que trouxe seu luto, mas ao mesmo tempo não vê o quanto isso vai afetar aqueles que já se importam com ela naquele momento, como Dale (Jeffrey DeMunn), que a convence a não desistir; quando desiste junto a ela numa atitude que quebra seu egoísmo. Algo semelhante acontece com Rick, que é confrontado com o que pensou logo no momento de maior tensão, e para o bem de todos, ele decide se dar uma nova chance de esperança, mesmo que ao mesmo tempo isso signifique que seu egoísmo original tenha meio que sepultado o destino de todos, se não pela explosão do C.D.C, por algum outro eventual momento no mundo hostil lá fora, o que demonstrará que ele não pode se dar ao luxo de cometer esse mesmo erro. Infelizmente, a humanidade é passível desses erros, então de alguma forma, considerando o final inicial que esse arco tomaria, e o novo passo de Shane, além da simbologia visual do C.D.C explodindo sem qualquer cenário para uma cura, TS-19 seria o episódio que decretaria o fim da humanidade em The Walking Dead, não de forma literal, mas eticamente àqueles personagens depois de não haver mais uma última esperança na qual se apegar.

Claro, quem já assistiu sabe que ainda teríamos a segunda temporada inteira para trabalhar isso de forma concreta em cada personagem e na narrativa de modo seriado, mas olhando o aspecto cinematográfico, não só do episódio como da temporada como um todo, esse raciocínio já havia sido fechado aqui mesmo, e o caminho daí para a frente era de mal a pior. Contudo, se existe algo que Darabont sabia fazer era manipular o emocional do público. TS-19 é a prova viva disso, porque ele começa partindo do total otimismo através da valorização de momentos pequenos como um banho quente e um jantar, algo que aproxima ainda mais o público dos personagens, passando para a total desesperança quando eles descobrem que não há reversão, não há novos contatos que possam reverter, só resta esperar pela morte, que ainda chega forçada por Edwin em contagem regressiva para fazer um final de capítulo apoteótico. E termina numa nota de Tomorrow Is a Long Time, de Bob Dylan, ironizando essa nova chance que eles ganharam com o equilíbrio ideal de ambiguidade para nós, como público, acreditarmos que ainda haveria essa outra chance, mas ao mesmo tempo desconfiamos de um presságio de que iria piorar. Independentemente em qual lado esse sentimento pese mais, fato é que a partir daqui embarcamos de vez na jornada. Um final grandioso, emocionante e digno do que foi esta primeira e absurda temporada de The Walking Dead.

The Walking Dead – 1X06: TS-19 | EUA, 5 de Dezembro de 2010 TS-19  TS-19 
Direção:
Guy Ferland TS-19 
Roteiro: Adam Fierro, Frank Darabont (baseado na criação de Robert Kirkman, Tony Moore e Charlie Adlard)
Elenco: Andrew Lincoln, Jon Bernthal, Sarah Wayne Callies, Laurie Holden, Jeffrey DeMunn, Steven Yeun, Norman Reedus, Chandler Riggs, Emma Bell, Melissa McBride, Irone Singleton, Jeryl Prescott, Madison Lintz, Maddie Lomax, Noah Emmerich
Duração: 45 minutos

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