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Crítica | The Walking Dead – 2X11: Judge, Jury, Executioner

por Iann Jeliel
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Judge Jury Executioner

  • SPOILERS do episódio e da série. Leiam aqui as críticas das demais temporadas, games e HQs. E aqui, as críticas de Fear the Walking Dead.

“Manter nossa humanidade? Isso é uma escolha.” Judge Jury Executioner

Dale Horvath Judge Jury Executioner

Em toda temporada de The Walking Dead há pelo menos um episódio que destacará um dos personagens a frente dos demais com um único intuito: sentimos mais a sua morte no final do capítulo. Judge, Jury, Executioner é exatamente um desses episódios, um dos melhores do tipo inclusive, marcando a impactante morte de Dale (Jeffrey DeMunn), que até então representava o último resquício de uma bussola moral genuinamente humana presente. Sua morte, assim como a de Sophia (Madison Lintz), é a confirmação do que a temporada já estava preparando desde o início, o caminho de total desesperança a civilização pudesse voltar ao normal e de que o apocalipse não perdoa os não adeptos a sobrevivê-la da sua maneira. Dale era praticamente o único “ileso” ali e o episódio irá acompanhá-lo em boa parte do tempo, tentando convencer os outros, sem sucesso, do que simbolizaria executar Randall (Michael Zegen) sem ao menos dá-lo uma chance.

Rick chega de 18 Miles Out aparentemente decidido do que vai fazer. Os demais do grupo não se abstêm dessa decisão, especialmente quando sabem que o grupo do garoto tem pelo menos trinta pessoas, segundo o que ele próprio indica – e que aquele Tony (Aaron Munoz) do bar em Nebraska indicava –, perigosas, na historinha contada enquanto estava sendo torturado por Daryl (Norman Reedus) de que eles estupraram um grupo de sobreviventes, mas ele não participou do ato, tentando convencer de que ele não é uma ameaça, mas só deixando mais ambíguo a dúvida de que é. Na dúvida, o melhor para o grupo é se livrar do problema e de uma forma ou de outra todos concordavam com isso, menos Dale. Nessa altura do campeonato, a paranoia construída de forma justa, dado as consequências de conflitos anteriores que eles passaram, já eram mais fortes que a vontade de manter a integridade moral. Por mais que Dale tentasse, já não havia muito o que ele podia fazer, tanto que o episódio não o circunda falando com todos os personagens, já não era necessário mostrar a clara unanimidade opinativa do grupo, escolhendo mostrar quatro dessas entrevistas, somente para aplicar um sentimento crescente de desespero em Dale, ao não ter nenhum apoio de querer fazer o que está teoricamente certo.

Dessas conversas, vale destacar duas. Primeiro é a sua com Daryl, que apesar de carrancudo ainda, como demonstra a forma que tortura Randall, não está mais tão babaca e individualista, ou pelo menos dá nesse diálogo uma ponta melhor motivada do porque escolheu ficar escanteado de um grupo que claramente está quebrado, como ele próprio diz, além de dizer verdades na cara de Dale a despeito de Shane (Jon Bernthal) ter matado Otis (Pruitt Taylor Vince), sugerindo concordância nesse exemplo para se opor ao que ele está tentando fazer – detalhe importante, Shane voltou com a arma de Otis e Daryl foi o único que percebeu. A segunda é com o próprio Shane, sendo a última justamente para mostrar o quão desesperado ele estava sem o apoio, mas também é fruto do que Daryl o falou, sendo um diálogo importante para fechar a rixa dos dois antes de Dale morrer.

As outras são com Andrea (Laurie Holden) e Hershel (Scott Wilson), que não acrescentam nada que a gente não já saiba – legal lembrar, da cena em que Hershel da benção a Gleen (Steven Yeun) com Maggie (Lauren Cohan) –, mas é interessante como Andrea é colocada em primeiro, para ser a única a mudar de opinião na cena do júri, indicando a possibilidade de um efeito revés através desse apoio improvável, o que não é correspondido, mas oferece o mínimo de dignidade para o personagem antes da morte. Essa virada de Andrea é significativa para evitar a rebelião que Shane estava tramando e os demais episódios dessa segunda metade de segunda temporada sugeriram. Pelo menos, não terá mais como ela ser feita em grupos divididos maniqueístas. Shane como indicado em 18 Miles Out estava em stand-by, confiando ceticamente que Rick (Andrew Lincoln) iria realmente tomara as reges da situação e ter a atitude em sua cabeça certa, contudo o episódio oferece outros contrapontos, tentando levar Rick para não o caminho da não execução.

Fora Dale, ele tem uma conversa com Lori (Sarah Wayne Callies), que deixa claro que compreende a motivação, incentiva o dever de fazer, mas não necessariamente concorda que ele deva executá-lo pelo exemplo dado a Carl (Chandler Riggs), que nem testemunhou a atitude do pai, mas já passa o episódio inteiro numa rebeldia em busca de uma causa, seguindo um misto e distorcido exemplo de ser durão, como seu pai e Shane. O que o moleque faz de besteira nesse episódio não está escrito. Ele tenta chegar em Randall que vem com papinho tentando o convencer de tirar ele de lá. Ele responde a Carol (Melissa McBride), ainda em processo de luto, desta vez resignada a acreditar que Sophia foi para um lugar melhor, a chamando de idiota pôr a essa altura acreditar nisso. Rick até conversa com ele depois desse incidente, se identifica com a visão do filho como foi compartilhada em outros momentos no início da temporada, mas tenta dá um norte para que ele pense antes de falar ou agir. Infelizmente, ele fez o contrário, como qualquer criança traquina, pegando escondido uma arma de Daryl para brincar com um zumbi preso no pântano que encontrou e ainda aparece de última hora para assistir e pedir par ao pai a execução de Randall, fazendo-o Rick desistir da ideia no caminho.

Soa irritante tanta burrice em sequência? Sim. É um recurso meio bobo insisti nessa irracionalidade infantil para fornecer um episódio fechadinho? Talvez. Mas é inegavelmente eficiente pela forma a qual Greg Nicotero, em seu primeiro episódio na direção – ele que no futuro seria responsável por alguns dos melhores episódios da série –, executa com verossimilhança a dramática posterior. Carl sente o peso de ver que o zumbi que estraçalhou Dale foi aquele que o libertou, vai se sentir culpado por isso e vai evoluir a partir daí numa precoce maturidade e caso Dale não morresse – algo que estava no planejamento inicial, mas o ator Jeffrey DeMunn queria sair da série para a próxima temporada pela saída de Frank Darabont na produção – , toda a sua teimosia no episódio até o maravilhoso monologo na sequência do “júri” o evoluiria idem, como evoluiu, mas só para que sentíssemos maior impacto na já agoniante, visceral e gráfica cena de morte. É brilhante Nicotero amarra os elementos do ótimo texto da roteirista – e hoje showrunner Angela Kang, em rimas visuais bastante significativa ao questionamento final levantada pela vítima:

“Vocês vão assistir também? Não. Cada um vai para a suas cabanas esquecerem que acabaram de matar um ser humano”.

Dale se despede da reunião como se estivesse se despedindo mesmo desse novo mundo. Na ironia da sentença unanime de executar um inocente, o grupo é forçado a assistir uma execução de alguém que eles nem queriam que morressem, mas “tinha” de ser feito, para que ele não sofresse mais com o grave ferimento do zumbi. Um detalhe legal que vale comentar é que Daryl pede para fazer o serviço sujo de atirar, demonstrando ser uma alternativa para braço direito de liderança do Rick, o tirando de fardos que Shane encararia de forma irracional e automática, no caso, já chegando e atirando. Algo que como as vacas comidas pelos zumbis, trazem indicativos do que reserva nos dois últimos episódios.

Judge, Jury, Executioner é um dos melhores momentos em que The Walking Dead dramatiza tão enfaticamente o absurdo da trivialidade da morte, justamente por declarar o fim de um de seus personagens mais humanos. Uma morte sentida, emocionante, chocante e necessária para fornecer outra grande consequência ao acúmulo de conflitos e pessimismo tão bem construídos e vigentes na temporada.

The Walking Dead – 2X11: Judge, Jury, Executioner | EUA, 4 de Março de 2012
Diretor: Greg Nicotero
Roteiro: Angela Kang
Elenco: Andrew Lincoln, Jon Bernthal, Sarah Wayne Callies, Laurie Holden, Jeffrey DeMunn, Steven Yeun, Chandler Riggs, Norman Reedus, Melissa McBride, Irone Singleton, Lauren Cohan, Emily Kinney, Michael Zegen, Scott Wilson, Jane McNeill, James Allen McCune
Duração: 43 minutos

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