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Crítica | The Walking Dead – 7X14: The Other Side

por Gabriel Carvalho
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-off, Fear the Walking Dead.

Após o episódio passado ter conseguido alavancar a audiência, depois de semanas em queda, The Walking Dead retorna a desenvolver tramas ainda não concluídas a fim de evoluí-las. A evolução, no entanto, não precisaria ser, necessariamente, narrativa. É fato que as personagens centrais de The Other Side, décimo-quarto episódio da sétima temporada, Rosita e Sasha não são as mais queridas do público. Embora a personagem tenha ganhado forte destaque nos episódios anteriores, a motivação de Rosita para entrar em uma missão suicida não é as das mais críveis. Assim como Say Yes e o casal Rick e Michonne, outro problema contextualizado é resolvido. Rosita é finalmente sensibilizada.

Bury Me Here fez um papel (talvez questionável, como apontado na crítica deveras polêmica) de transformar um personagem principal, no caso, Morgan Jones. Aqui a transformação não reside na mesma essência que a anterior. É algo mais sereno, sensível. Rosita e Sasha são personalidades antagônicas, que possuem, aparentemente, apenas a vingança pela morte de Abraham como item em comum. The Other Side constrói essa relação. Essas mulheres agora, não possuem apenas o fim trágico de seu amante como ponto em comum, e sim momentos felizes, alguns mais breves que outros, que moldaram dois relacionamentos, que em seus respectivos momentos, foram uma bonita história.

Enquanto que a relação de Abraham e Sasha teve muito mais espaço para ser aperfeiçoada, a do ruivo com Rosita não. Agora, a história da latina com o sargento é narrada de forma bastante bela, enquanto promove nas pausas para risadas e lágrimas a construção, mesmo tardia, de uma amizade. Além de boas performances, tantode Christian Serratos, quanto de Sonequa Martin-Green, a história, mesmo verborrágica, cria camadas na personalidade de Rosita, e enquanto dá à personagem motivações para fazer o que faz, também dá, agora, ao público, motivos para simpatizar com a personagem. Por outro lado, a surpresa do espectador está na descoberta de que Eugene não têm plano algum. Podendo fugir tranquilamente, o homem aparentemente se acovarda. Um novo passo para o personagem, que provavelmente estará passando por uma redenção na próxima temporada. Já, ao final do episódio, Dwight aparece para Rosita, enquanto a última, chora a possível morte de Sasha. Enquanto Eugene fica do lado de dentro das cercas, Dwight ressurge do outro.

Conciliando com a figura de Rosita está um interessante desenvolvimento da figura de Abraham, que mesmo falecido, é reverenciado de maneira muito mais singela que Glenn. Além do formato mais verborrágico, mas tão honesto quanto, a reverência também está na última sequência do episódio: o sacrifício de Sasha, que permite Rosita poder ter a chance de continuar sua jornada. Reside, no ato de Sasha, a homenagem ao homem, em forma de martírio durante a guerra. Uma guerra, ainda pessoal, mas tão provocativa quanto aquela que veremos nos próximos episódios. Sasha pode ter sido capturada, pode ter assassinado Negan, ou ainda estar em pleno confronto com os Salvadores. Fato é, independente do futuro da personagem, o tributo está feito e consequências serão tomadas.

Não conseguindo sustentar um episódio inteiro apenas com o núcleo de Sasha e Rosita, o roteiro de Angela Kang comporta boa parte dele também do lado de dentro dos muros de Hilltop. É nesse desenrolar que vemos uma mais comportada, mas ainda tão eficiente, escrita. O personagem de Jesus, por exemplo, ganha camadas adicionais de caracterização e desenvolvimento. A revelação da orientação sexual do personagem é adequada dentro de um diálogo leve, trazendo sutileza à algo que não deveria ser um peso ao personagem e sim uma informação a mais. Enquanto que os quadrinhos utilizam uma ou duas páginas para situar o personagem dentro dessa natureza, a série vai além, enquanto situa-o em apenas uma palavra. Sem estardalhaço. Perfeito.

Com uma trilha sonora operante, somos conduzidosa vivenciar a relação entre Daryl e Maggie que estão experienciando, no mínimo, um “climão”. No primeiro episódio da temporada, Daryl acabou por, indiretamente, causar a morte de Glenn. Não é por menos que o personagem tenha buscado mínimo contato com Maggie, envergonhado, e arrependido de seu ato. Durante uma visita dos Salvadores, sem remorsos, a viúva do coreano diz ao homem que nada daquilo foi culpa dele. Norman Reedus entrega uma recepção emocionante àquele diálogo. Mesmo curta, a cena convence em reacender a chama da dor de Daryl para depois apagá-la, pacientemente.

Finalmente, voltando para a visita dos Salvadores à Hilltop, temos aqui uma das, senão a melhor visita do grupo que The Walking Dead já nos proporcionou. E isso que já tivemos muitas. Muito mais carismático, e muito menos enfadonho que Negan, Simon lidera um comboio até a comunidade com o objetivo de levar Harlan Carson para o Santuário, visto que seu irmão morreu. Ou seja, como dito em Hostiles and Calamities, a execução de Carson não fez o menor sentido, se a sua perda depois, seria um revés. Prosseguindo, os diálogos entre Simon e Gregory são bem engenhosos, e Steven Ogg possui um domínio em cena muito grande. O ator passa muito mais credibilidade ao seu trejeito excêntrico do que Negan, que ficara há bastante tempo, cansativo.

Narrativamente, o arco da perda de poder de Gregory é avançado. Com o médico indo embora da comunidade, as pessoas começarão a questionar ainda mais a liderança do personagem. Desesperado, Gregory, interpretado mais uma vez excelentemente por Xander Berkeley, recorre à ajuda de Simon, e até à uma ameça à Jesus. O roteiro ainda faz uso de alguns artifícios narrativos menos sagazes. A cena onde o Salvador adentra o porão da mansão não é tensa o suficiente, e segue para o caminho mais óbvio. A missão de Sasha e Rosita não faz o menor sentido, enquanto tudo poderia ter sido resolvido se elas permanecessem naquele prédio por mais algum tempo, à espera de Negan. Além de que aquela sequência onde as garotas ateiam fogo em um carro e enfrentam alguns zumbis é totalmente perfunctória.

Provavelmente não o episódio que todos esperávamos, The Other Side acerta em quase tudo que se propõe a fazer. Possui profundidade narrativa e avança as tramas. É construído de maneira inteligente, e utiliza de muito menos recursos óbvios que episódios anteriores fizeram. Enquanto The Walking Dead arrasta sua trama em longos 16 episódios, podendo muito bem os fazer em treze, pelo menos aqui, o resultado pode ser encarado de maneira muito mais positiva. Não tão grandioso como outros mais bombásticos, The Other Side é um episódio mais sensível, mais ameno, mas tão instigante quanto. É só preciso ver The Walking Dead por um outro lado.

The Walking Dead – 7X14: The Other Side — EUA, 19 de março de 2017
Showrunner: 
Scott M. Gimple
Direção:
Michael Satrazemis
Roteiro:
Angela Kang
Elenco: 
Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Sonequa Martin-Green, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Corey Hawkins, Kenric Green, Jason Douglas, Tom Payne, Xander Berkeley, R. Keith Harris, Khary Payton, Karl Makinen, Logan Miller, Austin Amelio, Christine Evangelista, Steven Ogg, Debora May, Sydney Park, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Nicole Barré, Pollyanna McIntosh, Jeffrey Dean Morgan 
Duração: 
44 min.

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