Home TVEpisódio Crítica | The Walking Dead – 8X02: The Damned

Crítica | The Walking Dead – 8X02: The Damned

por Gabriel Carvalho
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  • Observação: Há spoilers do episódio e da série. Leiam, aqui, as críticas de todas as demais temporadas, dos games e das HQs. E, aqui, da série spin-off, Fear the Walking Dead.

Se Mercy homenageou o primeiríssimo episódio de The Walking Dead e agradou muita gente com isso, The Damned presta um dos maiores fanservices do show, trazendo um acontecimento que os fãs da série se questionavam se um dia iria acontecer. E aconteceu. Morales está de volta. Quem? Definitivamente muitos irão se perguntar disso, dada a efemeridade de sua passagem pelo seriado, mas o roteiro de Matt Negrete e Channing Powell faz questão de explicar, brevemente, o contexto denotado de sua reaparição – algo realmente necessário. Os maiores fãs irão pular da cadeira ao ver o retorno do único personagem – além de sua própria família – que não foi com Rick para o CDC, mas a sua volta serve muito mais, pelo que vimos até agora, para favorecer o desenvolvimento do personagem de Grimes, que parece que entrará em uma jornada a favor da misericórdia.

A premissa do episódio é continuar com o ataque do grupo de nossos “heróis” às bases dos Salvadores. O roteiro divide a narrativa em quatro núcleos, abordando-as por todo o episódio, o qual é inteiramente dinâmico. No caso de Rick, o vemos junto a Daryl, invadindo um local em busca das “armas grandes”. Enquanto Daryl é consideravelmente deixado de lado por Negrete e Powell, Rick envolve-se em confrontos: o sufocante embate e consequente morte de um homem, que depois, revela-se como pai de uma bebê, deixada órfã por Rick, em momento de boa performance de Andrew Lincoln, além, é claro, do encontro com Morales, já comentado anteriormente. Ambas são boas reviravoltas, tanto a descoberta de que o homem morto tinha uma filha (que aparentemente foi deixada lá sozinha) quanto a de que Morales, um antigo sobrevivente que acompanhara Rick, é um Salvador. Provavelmente abalaram um pouco a visão de mundo do xerife.

Completamente jogada no episódio passado, a misericórdia é um tema pulsante tanto para Rick, quanto para demais personagens, ganhando aqui contornos mais interessantes. A versão sanguinária de Morgan retorna, contrapondo com o discurso benevolente de Jesus, o qual também atua sobre Tara. Morgan também quase morre, ao ser baleado junto com outros dois personagens – estes morrem mesmo. Lennie James permite-se brilhar ao readotar sua frieza assassina, com um semblante isento de emoção. Enquanto isso, Tara e Jesus entram em um conflito moral, quando um Salvador se rende por presumidamente ser “apenas um trabalhador”. Talvez o discurso se valesse mais se o Salvador de fato fosse apenas um trabalhador, mas mesmo não sendo, e contra-atacando Jesus e Tara durante o momento de discussão entre eles, a proposta é novamente bem vinda para a série, sendo diferente da de Morgan, Carol e Tyreese (prender pessoas rendidas ou desarmadas ao invés de executá-las é uma conduta de guerra extremamente adequada). Por além, apenas a rendição, agora sem truques baratos, de dezenas de Salvadores e um ataque maníaco de Morgan.

Ross Marquand, além de Seth Gilliam, recebeu uma promoção da temporada passada para esta e tal certamente deve ser aproveitada pelo roteiro. O caminho para isso foi traçado, resta saber se será mantido coerentemente. Em seu núcleo, Aaron, junto com outros personagens coadjuvantes, como o figurante Eric, a esquecível Francine e o glorioso Tobin, partem para um tiroteio frenético contra os Salvadores. Diferentemente de Mercy, a violência é sentida tanto aqui quanto noutros núcleos. A ação parece mais coesa, mas nada extraordinário. Personagens, tanto do lado dos Salvadores quanto do lado dos “mocinhos”, recebem falas – o que é bom para uma série que costuma deixar personagens coadjuvantes sem falar por duas temporadas. Isto dá aos dois lados a sensação de casualidades reais, de que os dois estão sofrendo perdas, próximo do que foi a morte de uns três alexandrinos em Thank You. Até mesmo alguns Salvadores que estão apenas de passagem para morrer recebem nomes, e “pontos de vistas”. Não são apenas peões de um jogo de xadrez, e mesmo que nenhum personagem vagamente importante morra, é algo mais decente do que o feito em The First Day of The Rest of Your Life. E sim, Tobin está vivo e passa bem. Eu sei que era nisso que vocês estavam pensando.

Por outro lado, o quarto e último núcleo é o mais parado destes, entretanto, longe de causar qualquer quebra de ritmo acentuada. Tudo importante encontra-se no diálogo iniciado por Carol (chamada de meu bem – baby, no original – por Ezekiel) sobre o constante sorriso de Ezekiel. A resposta é até mesmo convincente, em uma fala surpreendentemente não-artificial do Rei. Isto sem contar a aparição de Shiva que, infelizmente, continua sem trazer muita veracidade, ainda mais no momento no qual Ezekiel passa a mão na cabeça da tigresa. Já ao atacar o Salvador em fuga, o animal abocanhando sua presa transmite mais credibilidade.

A direção de Rosemary Rodriguez é mais sentida, trazendo uma grata mudança de perspectiva para a série. Apesar de que aqueles closes em câmera lenta nos rostos dos personagens, no início e no final do episódio, tenham sido completamente desnecessários, Rodriguez traz planos mais interessantes, com uma opção vistosa por simetria, tanto na entrada de Rick e Daryl no prédio, matando os Salvadores à frente e espirrando sangue nas janelas das portas, quanto no momento no qual Rick atravessa um corredor abandonado e mal iluminado (imagem em destaque). A destacar, apenas a montagem e a trilha sonora, presente no episódio na medida certa.

The Damned é, mesmo assim, passível de desaprovação pelo espectador sem a suspensão de descrença em dia. The Walking Dead não está nos melhores rumos possíveis, portanto o pessimismo antecipado diante dos episódios que surgem é uma constante. Contudo, devemos nos permitir apreciar os acertos da obra, e não exagerar em suas incongruências, que os maiores espetáculos de fantasia tem em sua premissa. Sim, os planos são muito mal explicados, ninguém entendeu porque Eric saiu de sua proteção, contrariando Aaron, e prenunciando o tiro que ele levou ao mais tardar (este já é um demérito verdadeiro), Morales surgir como um Salvador é uma grande coincidência (embora possível), levando em conta que ele poderia ter ido para qualquer lugar além de Washington e por que eles estão se preocupando se o ataque for antecipado? Os Salvadores dentro do Santuário já não avisaram aos postos de comando que fiquem atentos com possíveis ataques? Relevando-se tudo isso, ou seja, aceitando a premissa de que os quatro núcleos tem determinadas missões específicas a serem cumpridas, é possível que se goste deste frescor de bom episódio. Afinal, Tobin ainda está vivo, não está?

The Walking Dead – 8X02: The Damned — EUA, 29 de outubro de 2017
Showrunner: 
Scott M. Gimple
Direção: Rosemary Rodriguez
Roteiro:
Matt Negrete, Channing Powell
Elenco: 
Andrew Lincoln, Norman Reedus, Lauren Cohan, Chandler Riggs, Danai Gurira, Melissa McBride, Lennie James, Josh McDermitt, Christian Serratos, Alanna Masterson, Seth Gilliam, Ross Marquand, Jordan Woods-Robinson, Katelyn Nacon, Kenric Green, Jason Douglas, Tom Payne, Xander Berkeley, R. Keith Harris, Khary Payton, Cooper Andrews, Austin Amelio, Christine Evangelista, Steven Ogg, Debora May, Sydney Park, Mimi Kirkland, Briana Venskus, Nicole Barré, Pollyanna McIntosh, Juan Pareja, Dahlia Legault, Kerry Cahill, Jeremy Palko, Brett Gentile, Jeffrey Dean Morgan
Duração: 
44 min.

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