- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
El Sacrificio, terceiro episódio da terceira temporada de The Walking Dead: Daryl Dixon, confirma não apenas os problemas já presentes no início da temporada, mas aprofunda a sensação de estagnação narrativa que tem marcado este derivado. Se La Ofrenda já parecia um capítulo protocolar, aqui o peso é ainda maior. Temos um episódio lento, sem urgência, que recorre a dramas internos da comunidade sem oferecer nenhum frescor ou tensão genuína.
O foco se desloca momentaneamente de Daryl e Carol para os dilemas de Solaz del Mar, em especial Antonio e Justina, mas a construção desses personagens não ganha densidade. A tentativa de humanizar Antonio, com algumas cenas pessoais e até um possível romance, soa como um ornamento deslocado que não parece orgânico para o arco de Carol. Da mesma forma, o arco de Justina, tomada pela culpa de ver Alba escolhida no ritual de sacrifício, é conduzido de forma novelesca e previsível, com uma reviravolta meio cretina para servir de estopim para o conflito entre as comunidades, com um relutante Daryl e uma sensibilizada Carol no meio disso tudo.
Enquanto isso, Daryl tem sua breve “aventura paralela” com Roberto, em busca de peças para consertar o barco. Esse segmento é sintomático dos problemas do episódio: é construído como uma missão lateral que deveria injetar ação, mas não passa de um pretexto para uma pequena horda previsível e para a aparição conveniente de Valentina, que introduz novos obstáculos técnicos ao conserto e é uma conveniência ambulante de faz tudo. É ritmo por ritmo, cena por cena, sem real progressão, com o pequeno bloco na praia com zumbis saindo do mar sendo o mais próximo de exercício de gênero que temos nesse início de temporada.
A ambientação espanhola, que já parecia superficial em La Ofrenda, continua servindo apenas como pano de fundo exótico. O suposto embate entre Solaz e El Alcázar, que poderia carregar alguma densidade política, é tratado sem vigor, mais como um esboço do que como conflito dramático real. Guillermo e seus seguidores continuam a encarnar vilões de manual, com pompa vazia e motivação esquemática, reforçando a sensação de que estamos vendo facções intercambiáveis que pouco dizem além da função de antagonizar.
Narrativamente, El Sacrificio é menos um episódio de transição do que uma preparação alongada para o confronto que inevitavelmente virá. O problema é que esse “preparo” não traz nada de excitante: não há suspense, não há terror, não há um dilema moral convincente que nos faça sentir o peso da escolha. Apenas a encenação repetida de sacrifício e honra, da jovem que se doa em nome de outra, e do herói que observa de fora, relutante em se envolver; tudo já visto, tudo já gasto. Carol continua sendo a única força dramática capaz de sustentar alguma empatia, mas nem mesmo Melissa McBride consegue carregar um roteiro que insiste em reciclar situações.
O resultado é um capítulo apagado, que não se sustenta nem como drama, nem como horror. El Sacrificio não tem a energia visual de Costa da Morte e tampouco a função expositiva (mesmo que falha) de La Ofrenda. É apenas um episódio arrastado, que confirma o desgaste de uma franquia que já não encontra novas formas de contar a mesma história. No fim, resta apenas a sensação de estarmos presos ao mesmo ciclo de comunidades corrompidas, vilões genéricos e pequenos sacrifícios que nunca revertem em um impacto narrativo maior. Veremos o que essa “guerra” tem a nos mostrar…
The Walking Dead: Daryl Dixon – 3X03: El Sacrificio (EUA, 21 de setembro de 2025)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Daniel Percival
Roteiro: Jason Richman, David Zabel
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Óscar Jaenada, Eduardo Noriega, Alexandra Masangkay, Hugo Arbues, Candela Saitta, Greta Fernández, Yassmine Othman, Gonzalo Bouza
Duração: 55 min.
