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Crítica | The Walking Dead: Daryl Dixon – 3X05: Limbo

Daryl "Mad" Dixon.

por Kevin Rick
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.

Curioso como o melhor episódio da temporada até aqui é justamente o capítulo que mais se distancia da trama principal. Depois de alguns episódios girando em torno de intrigas comunitárias frouxas e conflitos artificiais, Limbo surge como uma rara pausa dentro da temporada. Em essência um desvio narrativo com uma “side quest” de Daryl no meio da Espanha, ao se desprender momentaneamente das amarras de Solaz del Mar, dos dramas esquemáticos de Fede e dos ganchos repetitivos, a série encontra um formato que lembra o que The Walking Dead sempre teve de melhor: um pequeno conto pós-apocalíptico, autônomo e com dramas simples. É, sim, tudo bastante clichê, mas agradável de assistir.

O episódio começa em modo de transição, ainda preso à linha central com Carol, Antonio e Roberto, mas logo se desprende em direção àquilo que o título antecipa. O “limbo” aqui é Belchite, uma colônia de leprosos esquecida, quase um microcosmo à parte, condenada a sobreviver entre a contaminação e o desprezo. É o primeiro cenário da temporada que parece de fato ter texturas, rostos e uma ambientação que tenha personalidade além de uma simples beleza estética (inclusive, a maquiagem mandou muito bem com os doentes), algo que o universo Walking Dead costumava cultivar. Inclusive, vejo certa inspiração aqui em Mad Max, da premissa da trama até o modo como Dixon é usado.

Essa ambientação, inclusive, é o que dá ao episódio seu tom mais interessante. O vilarejo arruinado, os rostos machucados, a poeira e a água roubada formam uma alegoria direta sobre purificação e contaminação: os Limbos vivem à margem, com corpos marcados e sede literal, enquanto Daryl surge como o “estranho saudável” que se contamina por empatia. A escolha de colocar leprosos como protagonistas momentâneos pode soar óbvia com “os excluídos entre os excluídos”, mas dentro de um universo que há muito perdeu nuances, é uma tentativa válida de reencontrar o sentido humano no horror.

Daryl, nesse contexto, volta a ser o que deveria sempre ter sido: o andarilho moral da série. Longe das tramas políticas e religiosas, ele volta a funcionar como figura arquetípica, o cavaleiro errante que chega, ajuda e parte. O conflito com os Buzzards, uma gangue de saqueadores bem genérica, mas funcional, não traz nada surpreendente, só que tudo é conduzido com ritmo, e o uso do “trem puxado por zumbis” é o tipo de ideia absurda e divertida que faz falta na temporada. É pulp, é visualmente interessante e tem aquela mistura de engenhosidade e precariedade que marca os melhores momentos da franquia.

A direção, assim como no capítulo anterior, tem um bom esforço técnico. Há uma boa alternância entre planos fechados, que enfatizam o desconforto físico de Daryl e dos Limbos, e planos abertos, que valorizam o cenário desértico de Belchite como espaço simbólico de purgatório. A fotografia em tons ocres reforça essa sensação de aridez, enquanto o som diegético devolve um pouco do senso de naturalidade e de vazio que há muito se diluiu na série.

O roteiro, claro, ainda tropeça em soluções fáceis. Os vilões continuam sendo arquétipos descartáveis, e o conflito se resolve rápido demais no ciclo quase automático de “ataque, emboscada, vitória e partida”. Mas, ao contrário de La Justicia Fronteriza, aqui esse ciclo não pesa tanto, porque o episódio abraça sua estrutura de fábula episódica. Há algo quase artesanal em ver Daryl ajudando os leprosos a reconquistar sua água, uma mini-história de solidariedade que não tenta fingir grandiosidade. É convencional, sem dúvida, mas é convencionalmente bem executado com algum sentimento e uma atmosfera palpável, e isso já é um avanço notável dentro dessa terceira temporada.

Enquanto isso, a trama paralela em Solaz del Mar continua a arrastar as pernas. O retorno de Carol e Antonio com Roberto ferido até tem alguma relevância emocional, especialmente na maneira como o garoto é descrito como alguém “perdendo a vontade de viver”, mas o desenvolvimento parece funcionar apenas como pretexto para mover as peças. Fede sendo confrontado, Marga descobrindo segredos, Carol e Antonio no seu namorico forçado. Tudo soa mais como obrigação narrativa aqui… sendo que nos divertimos muito mais quando de fato exploramos essa Espanha pós-apocalíptica. 

Limbo tem o mérito de conseguir respirar fora desse enredo. É o primeiro episódio da temporada que parece ter um pulso próprio, um ritmo que não depende do que vem antes ou do que virá depois. Mesmo que Daryl não evolua tanto como personagem, a forma como o episódio o reposiciona de espectador passivo a agente de empatia devolve um pouco do magnetismo que o personagem sempre teve.

No saldo, Limbo é simples e previsível, mas também sincero. Ao abandonar por uma hora as tentativas de construir intrigas ruins e se concentrar num pequeno recorte de humanidade dentro desse cenário, o episódio finalmente lembra por que ainda acompanhamos esse universo. É o tipo de narrativa que vive no intervalo entre o horror e o afeto, no espaço onde sobreviventes sujos e esquecidos ainda encontram um motivo para continuar. E, ironicamente, ao situar-se num limbo, o episódio encontra o que faltava a esta temporada: um pouco de vida; ou vão me dizer que a cena da garotinha entregando seu único copo de água não é melhor do que qualquer melodrama que tivemos até aqui?

The Walking Dead: Daryl Dixon – 3X05: Limbo (EUA, 05 de outubro de 2025)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Paco Cabezas
Roteiro: Jason Richman, David Zabel
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Óscar Jaenada, Eduardo Noriega, Alexandra Masangkay, Hugo Arbues, Candela Saitta, Greta Fernández, Yassmine Othman, Gonzalo Bouza
Duração: 64 min.

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